Mais um ano acaba e outro recomeça! Associamos o fim do ano ao encerramento de um ciclo e a abertura de um novo. É quando aproveitamos para retomar planos, metas e desejos, refletir sobre as conquistas que alcançamos e aquilo que ainda almejamos. Cada um a seu modo e com suas tradições, o fato é que, no geral, o clima é de renovação, comemoração e aspirações. Para os meninos e meninas que vivem em instituições de acolhimento não é diferente! O que desejamos para eles nessa abertura de ano? E eles, o que nos dizem sobre seus desejos e sonhos para o futuro?

Aquilo que podemos considerar um desejo constante que se renova a cada ano é a garantia da convivência familiar e comunitária de toda criança e adolescente. E que o acolhimento, quando necessário, não seja visto e vivido como um momento de espera passiva de uma decisão judicial ou como uma medida protetiva apenas de seus direitos mais básicos (o que é fundamental, mas não suficiente). Renovamos aqui nossos votos de que, para além de uma medida excepcional de proteção, o acolhimento de meninas e meninos garanta construções afetivas cuidadosas, experiências diversas e possibilidades de escolha, em que cada um possa elaborar situações doloridas, renovar e resignificar relações e se lançar para novos encontros e perspectivas. Esse não é apenas o tempo de espera de retorno familiar ou adoção por uma nova família; é tempo de vida, de potência, e precisa ser legitimado e valorizado junto aos sonhos e desejos de cada criança e adolescente. 

Quem convive com os meninos e meninas sabe que as vontades de ter e estar em família são as mais comuns. Mesmo aqueles que reúnem poucas chances de isso acontecer antes dos 18 anos muitas vezes sonham com a vida em família. Não à toa, muitos vão atrás de seus familiares quando se tornam independentes, ou tornam-se pais e mães relativamente rápido.

O sonho da adoção é também recorrente e quando se torna viável e se efetiva de forma cuidadosa e no tempo necessário para a adaptação da nova família, que linda maneira de ser família! Adoções que façam sentido e sejam bem-sucedidas são também desejos para 2018. Mas, e as crianças e adolescentes que têm perspectiva de longa permanência nos serviços de acolhimento? Que, mesmo com as companhas de incentivo a adoção, não serão adotados(as)?

            Levantamos aqui um tema delicado e necessário, que deve estar nas nossas notas para 2018! Afinal, aqueles que passarão anos e, principalmente, suas adolescências em acolhimento, não são casos de “fracasso”. Muitas apostas e ações podem e devem ser feitas para garantir a eles o direito à convivência familiar e comunitária, o seu desenvolvimento e fortalecimento. Desse desejo não abriremos mão em nenhum ano que está por vir!

Nesses casos, é essencial que possamos apostar nas relações que fortaleçam os vínculos comunitários e afetivos dentro e fora do serviço de acolhimento. Como aquele educador com quem o menino se sente mais à vontade para conversar, o amigo da escola que convida a criança acolhida para o almoço em família no domingo, ou o adolescente que chama seus colegas para passarem uma tarde em sua casa – o abrigo. Desejamos que essa criança ou adolescente faça parte de grupos de seu interesse, como o time de futebol da escola, a turma da capoeira, a banda de rap. Esses grupos se configuram como importantes espaços de pertencimento para todos.

Além de investir em cada uma dessas relações afetivas que constituem a rede singular de cada menino ou menina, existe também outra possibilidade de belos encontros para além das instituições: trata-se do apadrinhamento afetivo, que o IFH tem desenvolvido e acompanhado de perto. Uma pessoa que passou por um processo de formação e seleção, que tem o desejo de participar ativamente da vida de alguma criança e adolescente e topou estabelecer esse compromisso e investir na construção de um vínculo estável e duradouro pode ser fundamental para fortalecer a rede afetiva dessa criança ou adolescente que tem como perspectiva ficar no abrigo até os 18 anos. Para cada um deles é um conforto saber que alguém continuará em suas vidas, trocando afeto e oferecendo suporte para o que der e vier, mesmo depois do desligamento do abrigo. Claro que não basta ter padrinho ou madrinha para tudo dar certo! O apadrinhamento afetivo é apenas um caminho possível para tornar a rede destes meninos e meninas mais ampla e consistente!

Valorizar cada relação construída dentro e fora do serviço, propor e investir em espaços de pertencimento, promover o desenvolvimento dos potenciais de cada acolhido, acompanhar um padrinho ou madrinha para que sejam uma referência afetiva duradoura... Em 2018 e nos anos seguintes, apostemos na diversidade de caminhos; cada caso é um caso e, portanto, cada possibilidade será “boa” ou “ruim” de acordo com o contexto. Desejamos que, seja qual for a configuração – no abrigo, em uma nova família, em sua família de origem, morando sozinhos - todos contem com relações afetivas e com a possibilidade de se sentirem fazendo parte do mundo para se tornarem autores de suas histórias!

Muitos desafios temos pela frente, mas também muitas possibilidades e, sobretudo, desejos.  Que venha 2018!