Viewing entries tagged
serviços de acolhimento

Oficina - Famílias acolhedoras no Brasil: história e contexto

Oficina - Famílias acolhedoras no Brasil: história e contexto

No dia 22 de março foi realizada a oficina “Famílias Acolhedoras no Brasil”, que contou com a participação da Dra. Jane Valente, doutora em Serviço Social, coordenadora do Plano Primeira Infância de Campinas/SP e Consultora da Rede Latinoamericana de acolhimento familiar (RELAF) e do Dr José Roberto Poiani, Juiz da Vara da Infância e Juventude de Uberlândia/MG. Este encontro faz parte do ciclo de oficinas “Primeira Infância e Acolhimento”, que serão realizadas no decorrer deste ano com apoio do Instituto Samuel Klein.

Regras e limites nos serviços de acolhimento

Regras e limites nos serviços de acolhimento

Se para qualquer pai ou mãe às vezes é difícil estabelecer limites esse desafio é talvez ainda maior em serviços de acolhimento. Além de acolher um número maior (de 10 a 20 crianças, dependendo do serviço), muitas vezes as crianças e adolescentes expressam em seus comportamentos suas histórias vividas. Além da ruptura vivida pelo acolhimento em si, frequentemente passaram por situações de violência, abuso ou negligência.

OFICINA: "Projeto Político Pedagógico: Boas práticas nos serviços de acolhimento"

OFICINA: "Projeto Político Pedagógico: Boas práticas nos serviços de acolhimento"

No dia 24 de maio de 2018 foi realizada a oficina "Projeto Político Pedagógico: Boas Práticas nos Serviços de Acolhimento” com as participações da especialista Cristina Rocha Dias, psicóloga com mestrado em psicologia clínica pela USP e supervisora no Instituto Fazendo História e da especialista Valéria Pássaro, coordenadora pedagógica das Casas Taiguara…

Dezoito. E agora?

Dezoito. E agora?

Desespero, desamparo, choque, susto e medo. Essas foram as palavras usadas por Wiliam Jonathan, 23 anos, para descrever como se sentiu quando estava prestes a completar 18...

Orfanatos não existem!

8 Comments

Orfanatos não existem!

Como assim orfanatos não existem? Onde moram então as "crianças abandonadas"? 
Pois é, precisamos falar sobre Acolhimento Institucional e o histórico do cuidado com crianças e adolescente no nosso país...

8 Comments

OFICINA: "Adolescência e Autonomia: a experiência do Grupo Nós"

OFICINA: "Adolescência e Autonomia: a experiência do Grupo Nós"

No dia 18 de fevereiro de 2017, foi realizada a oficina “Adolescência e Autonomia: A Experiência do Grupo nÓs", que contou com a participação do jovem estudante de artes Willian Jonathan e a equipe do Grupo nÓs, Mahyra Costivelli e Marcelo Melissopoulos...

Trabalho voluntário em serviços de acolhimento: mais ajuda quem transforma

10 Comments

Trabalho voluntário em serviços de acolhimento: mais ajuda quem transforma

O serviço de acolhimento deve ser um espaço no qual as crianças e os adolescentes se sintam protegidos, cuidados, acolhidos e criem vínculos de confiança que favoreçam o seu desenvolvimento integral e a construção de autonomia nesse período de transição. Estabilidade e tempo de convivência são indispensáveis para que se criem os tão necessários vínculos afetivos.

saiba-mais-voluntario

Pessoas da comunidade devem ser envolvidas nos cuidados das crianças e adolescentes a partir da parceria com a equipe do serviço de acolhimento em benefício da criança ou do adolescente: em favor de seu crescimento pessoal e do fortalecimento de sua identidade.

Veja abaixo alguns pontos importantes que devem ser considerados para a atividade voluntária qualificada dentro dos serviços de acolhimento:

             - Conhecer a realidade: antes de começar o trabalho, o voluntário precisa conhecer a complexidade e delicadeza do serviço de acolhimento, entender sua função, como funciona e estar ciente de qual será sua contribuição neste cenário.

             - Adoção: o envolvimento a partir de um trabalho voluntário em um serviço de acolhimento não facilita processos de adoção. Se esse for seu interesse, vá até a Vara da Infância e Juventude mais próxima a sua casa e informe-se sobre o processo para entrar no Cadastro Nacional de Adoção.

             - Comprometimento: o voluntário tem um compromisso com o serviço e com as crianças e adolescentes; não pode jamais sumir ou abandonar o trabalho no meio sem considerar os vínculos estabelecidos. O voluntário só deve se comprometer com aquilo que é capaz de cumprir.

             - Formação e supervisão: é preciso ter clareza de que para realizar um trabalho voluntário é necessário planejar considerando e contemplando tudo o que a entrada no serviço pode reverberar. Profissionais da área devem apoiar a ação do início ao fim.

             - Consciência de seu papel: deve-se levar em consideração que o serviço de acolhimento é a casa das crianças e adolescentes e o voluntário é como uma visita. Portanto, não se deve aparecer em qualquer momento do dia sem prévio combinado, nem entrar nos quartos ou cozinha sem um convite.

             - Horários: o voluntário deve cumprir o horário estabelecido, pois assim como em qualquer casa, há uma organização a ser seguida. Mudar de horário sem avisar atrapalha a rotina.

             - O que gera transformação: Para que o trabalho renda efeitos positivos, este deve ser constante e não pontual; o tempo do trabalho é essencial para criar um vínculo estável e de confiança com as crianças e adolescentes.

             - Cuidado com o que fala: o voluntário deve evitar o levantamento de falsas expectativas com as crianças e adolescentes. Ao optar por uma aproximação afetiva com eles, deve agir à altura de seu papel e importância em suas vidas, não repetindo histórias de rupturas.

              - Ações pontuais em datas comemorativas: nessas datas, é comum chegar ao serviço uma quantidade excessiva de presentes e chocolates, muitas vezes produzindo um desafio para o serviço, que precisa realizar um processo de distribuição de tudo, cuidando para que as crianças e adolescentes se sintam protagonistas e não rotulados no lugar de carentes; para que entendam que também têm coisas a oferecer e não apenas receber. É importante que a condição do acolhimento não faça com que as crianças e adolescentes fiquem somente no papel daquele que necessita, a quem tudo falta. Eles podem e devem ser convocadas a oferecer ao mundo aquilo que têm como potência.

              - Doação de coisas usadas: itens que não são mais úteis para você podem ser muito bem aproveitados pelos serviços, se em bom estado. Brinquedos quebrados, roupas rasgadas e livros mofados não são apropriados para ninguém. Coisas assim acabam dando um ar de descuido para o lugar ou criam mais trabalho para o serviço, que precisa encontrar meios de se desfazer destes adequadamente.

              - Festa com voluntários pontuais: se na nossa casa, mesmo para quem é festeiro, a entrada de pessoas estranhas sempre traz um incômodo, por que ali seria diferente? Você já foi numa festa que não conhecia ninguém? Pode até sorrir mas, convenhamos, é difícil curtir de verdade. Agora pense em um monte de festas. É claro que as crianças e adolescentes gostam de se divertir mas, vejamos, o que eles precisam não é de palhaços e pirulitos junto a desconhecidos. Uma criança que vive na rua gosta de receber o trocado do farol mas sabemos que isso mantém a ordem equivocada e não promove as mudanças necessárias. Nos serviços de acolhimento é a mesma coisa: a criança ou adolescente pode até gostar de ganhar presentes de estranhos e de festas cheias de atrativos, mas isso a mantém no papel de carente. É preciso assumi-los como potentes e oferecer oportunidades para que brilhem.

                Aos interessados em se envolver com as crianças e adolescentes acolhidos, sugerimos que participem de um de nossos projetos como voluntário. Caso não possa assumir um compromisso de longo prazo, procure organizações que oferecem oportunidades de trabalho voluntário qualificado.

 

10 Comments

Reflexões sobre a rotina dos serviços de acolhimento:  "adolescência e moradia"

Reflexões sobre a rotina dos serviços de acolhimento: "adolescência e moradia"

A partir de hoje, o Instituto Fazendo História publicará periodicamente situações cotidianas dos serviços de acolhimento, para estimular reflexões e a construção de estratégias a partir de critérios técnicos e não pessoais. As situações apresentadas fazem parte do kit de Formação “Vamos Abrir a Roda” e abrangem diferentes temáticas: adolescência, bebês, agressividade e limites, histórias de vida, ritos de passagem, entre outras.

Para pensar! O tema de hoje é: adolescência.

Ricardo faz 18 anos daqui a dois meses. Estava tudo certo para ele viver em uma República Jovem após sua saída. De repente o adolescente diz que não vai para a República. Sua fala vem nos preocupando muito, pois pensamos no melhor encaminhamento possível para Ricardo. O que fazer? 

A questão que se coloca é se Ricardo foi incluído nas discussões e reflexões sobre seu projeto de moradia pós-acolhimento. Muitas vezes o que os adultos consideram como a melhor opção é diferente do que o jovem considera. Se não houver diálogo com o jovem a tendência ao fracasso do encaminhamento é muito grande.

Será que foi de fato uma escolha de Ricardo este projeto de moradia?

Ricardo teve acesso a outras possibilidades de moradia antes da definição de encaminhamento para a República? É sempre importante considerar que a República é uma alternativa entre outras tantas, como o aluguel de uma casa e o retorno familiar.

Ricardo foi visitar este local com antecedência? Conversou com os moradores de lá? Esclareceu dúvidas? A preparação anterior à saída do serviço é fundamental para aumentar a probabilidade do encaminhamento ser bem sucedido.

Sistematização OFICINAS: "Sexualidade na infância e adolescência"

2 Comments

Sistematização OFICINAS: "Sexualidade na infância e adolescência"

No dia 29 de agosto de 2015, foi realizada a oficina Sexualidade na infância e adolescência, com a presença dos especialistas Renata Guarido e Raul Araújo.

Renata iniciou o encontro trazendo um panorama do desenvolvimento da sexualidade humana. Segundo ela, costumamos pensar em sexualidade somente como o ato sexual. Assim, quando nos deparamos com uma situação relacionada à sexualidade na infância, imaginamos que é algo que veio de fora, alguém estimulou (como se a expressão da sexualidade não pudesse partir da criança).

Renata faz uma diferenciação da sexualidade nos humanos e nos animais. Para os animais a sexualidade é instintiva e acontece somente no momento da reprodução. Após o ato sexual, a satisfação é completa e volta a acontecer somente no próximo período reprodutivo.

A sexualidade humana não é instintiva – ela é construída e é algo que se organiza durante toda a vida, desde o nascimento. Pode ser estimulada de diversas formas, como por exemplo uma música, um cheiro, uma atividade. Também diferentemente dos animais, a excitação não termina e não está ligada somente à função reprodutiva – ela pode ter as mais diversas formas.

Sexualidade é aquilo ligado às experiências prazerosas e o corpo é o lugar onde o prazer acontece, um espaço erotizado. O prazer é algo construído durante a vida, a partir das relações que estabelecemos com os outros. O prazer é, então, algo que se inscreve e deixa rastros.

O prazer no corpo é algo que acontece desde primeira infância. Por exemplo, um bebê, mama não somente para obter o alimento, mas pelo prazer que tem em “chupetar”. Em outros exemplos, como na hora do banho, o prazer não vem somente pela satisfação da necessidade, mas pelo toque no corpo que as atividades de cuidado envolvem. Assim, quando cuidamos, estamos, ao mesmo tempo que satisfazendo necessidades, erotizando o corpo. O corpo é, portanto, uma região marcada pelo prazer – uma superfície de prazer – resultado do encontro com um outro.

O erotismo se manifesta de formas diferentes na infância, adolescência e na vida adulta. O encontro do corpo de crianças com adultos, que não seja da ordem do cuidado, para a criança é abusivo. Se o encontro for entre crianças, não pode ser considerado da ordem do abuso, mas sim da sexualidade infantil.

Sexualidade na infância é um conjunto de acontecimentos prazerosos, mas não definidos. Excitação, para a criança, é algo global – acontece e toma o corpo todo, não é circunscrita a uma região específica. Não é possível acontecer o ato sexual na infância, pois o corpo não está preparado para isso – não existe orgasmo na infância. Não há também, na infância, escolha sexual – tanto faz se é o outro é um corpo de menino ou menina, pois a criança está centrada nas experiência do próprio corpo. Hetero e homossexual são, portanto, definição que ocorrem somente na adolescência.

Sexualidade na adolescência não tem muita diferença da sexualidade na vida adulta. É na adolescência, a partir da puberdade,  que o corpo passa a estar pronto para viver o ato sexual. Adolescência é um acontecimento subjetivo (pode ser diferente nas diversas culturas) e a puberdade é um acontecimento biológico, que envolve hormônios e mudanças corporais.

A sexualidade é algo absolutamente singular – é construída na história de um sujeito, dos encontros do seu corpo com o corpo dos outros. Um mesmo acontecimento é vivido por pessoas diferentes de forma diferentes. Por exemplo, nos diferentes tempos históricos, o significado que se dá à sexualidade na infância ou a homossexualidade pode ser totalmente diverso.

Renata conclui sua fala trazendo esta importante ideia do olhar para a singularidade e contexto de cada sujeito. Costumamos olhar para as situações a partir das nossas histórias, do que vivemos e muitas vezes não corresponde ao que está acontecendo em outra realidade.

Raul Araújo, em seguida à fala de Renata, traz a questão da sexualidade na perspectiva do direito. Como lidamos com a questão da norma – o que é certo errado, justo ou injusto – quando falamos sobre sexualidade no serviço de acolhimento? Raul resgata a origem do ECA, na Constituição Federal de 1988, quando a criança e o adolescente aparecem pela primeira vez como sujeito de direitos. Segundo ele, os direitos das crianças e adolescentes são ainda algo novo e contestado, pois até 1990 a legislação vigente era o Código de Menores, que previa a intervenção do Estado e não firmava direitos. Algumas pessoas dizem que as crianças e adolescentes tem muitos direitos e não deveres, que não são punidos. Segundo Raul, os serviços de acolhimento têm uma forte ligação com questões ligadas à sexualidade, pois em sua origem, nos antigos orfanatos, escondiam a vergonha dos filhos fora do casamento, que escancaravam a sexualidade da mulher e a repressão desta sexualidade.

Raul traz a ideia dos Direitos Sexuais e Reprodutivos. Segundo ele, durante a construção do Plano Nacional de Direitos Sexuais e Reprodutivos, este plano transformou-se no Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra à Criança e o Adolescente, o demonstra uma dificuldade em entender as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos.

Os direitos sexuais e reprodutivos são:

  • Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem vio­lência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a).
  • Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual.
  • Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergo­nha, culpa e falsas crenças.
  • Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual.
  • Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condição física.
  • Direito de ter relação sexual independente da reprodução.
  • Direito de expressar livremente sua orientação sexual: heteros­sexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras.
  • Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva.
  • Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/AIDS.
  • Direito aos serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação.
  • Direito das pessoas de decidi­rem, de forma livre e responsá­vel, se querem ou não ter filhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas.
  • Direito a informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não ter filhos.
  • Direito de exercer a sexuali­dade e a reprodução livre de discriminação, imposição e vio­lência.

Afirma-se, portanto, o direito a ter prazer e desenvolver sua sexualidade de forma saudável– independentemente da condição da criança ou adolescente.

Segundo Raul, muitas vezes as experiências ligadas à sexualidade, prazer e afetos são reprimidas e, por vezes, punidas – marcando na história da criança a ideia de que a sexualidade é algo errado e ligado à transgressão. O Abrigo é o lugar onde muitas vezes estão sofrendo por conta dos rompimentos e da falta do contato afetivo e, por vezes, justamente quando conseguem se vincular (quando começam a namorar por exemplo), essa atitude é controlada e reprimida.

A partir das falas dos dois especialistas, considerando as manifestações das sexualidades existentes nas diferentes faixas etárias, o grupo foi convidado a refletir sobre: Que histórias de prazer e relação com os próprios corpos as crianças e adolescentes estão construindo a partir dessas vivencias nos serviços? As crianças e adolescentes tem estes direitos garantidos nos serviços de acolhimento? Como organizar espaços e ações que promovam a oportunidade do desenvolvimento da sexualidade e prazer de forma saudável?

Para assistir aos melhores vídeos sobre o tema, acesse o link:

https://www.youtube.com/watch?v=Mt9HgzPrGPE&list=PLnXe9VZ1ye9z7oGmuycVDXhzwSIEGpRCb

2 Comments

OFICINA : “Acolhendo as famílias: um desafio para toda a equipe"IPE”

OFICINA : “Acolhendo as famílias: um desafio para toda a equipe"IPE”

No dia 21 de março de 2015, foi realizada a oficina “Acolhendo as famílias: Um desafio para toda equipe”, com a participação da especialista Valéria Brahim: psicóloga, especialista em terapia familiar e violência contra a criança e o adolescente, gerente de programas sociais na ONG Terra dos Homens (Rio de Janeiro/RJ).

Qual é o maior desafio das equipes com relação às famílias? Qual é a missão dos serviços de acolhimento?

Valéria apontou para o fato de que o “abrigo existe para não existir”, ou seja, existe para acolher e desacolher as crianças e adolescentes que nele residem, a partir da reintegração familiar. A partir desta perspectiva, Valéria convidou ao grupo a escrever individualmente uma palavra que completasse as frases: Família é... e Famílias das crianças e adolescentes que atendemos é.... Para ambos exercícios, Valéria propôs ao grupo o agrupamento das palavras. Para a primeira questão sobre o que é a família, as categorias foram: base (estrutura), afeto (amor, carinho e etc); Para a questão sobre as famílias atendidas, as categorias foram: desestrutura (desorganizada, problemática, vulnerável...), impotente, negligenciada, desafiadora.

Valéria convida o grupo a contemplar e analisar o quadro onde as palavras estavam inseridas. O grupo trouxe a percepção de que ao falar de famílias estavam em questão os conceitos de famílias reais X imaginárias. Valéria questiona: Esta percepção afeta a relação com as famílias? As famílias atendidas, não podem ter características das famílias consideradas “ideais”, como amor, afeto, proteção, base?

Foram trazidos aspectos históricos sobre a concepção de família, na qual ainda existe um ranço do modelo burguês, composto por pai, mãe, filhos, e que ainda interferem diretamente na concepção atual de família. Valéria falou sobre a importância dos profissionais que atuam com as famílias se darem conta de seus preconceitos e da interferência que eles têm na relação com as famílias. Além disso, segundo a ONU, 1994, “Família é gente com quem se conta”. Este conceito não parte do pressuposto consanguíneo e sim de afeto, no qual a família pode ser um vizinho, ou alguém que tenha uma relação próxima com as crianças e adolescentes. Reconhecer as famílias para além dos vínculos consanguíneos, favorece substancialmente a possibilidade de fortalecimento de vínculos e reintegração familiar. Cada família apresenta dificuldades e realidades distintas, que devem ser reconhecidas tanto por elas mesmas, quanto pela equipe que as acompanha, criando-se assim um plano de acompanhamento familiar.

Será que as equipes estão dispostas a reconhecer as famílias para além do assistencialismo, da incapacidade e disfuncionalidade? É fundamental que as equipes possam empoderar as famílias a partir de suas competências e estratégias de sobrevivência já existentes. À medida que as famílias possuem o apoio da equipe para o reconhecimento destas competências passam, cada vez a mais, a necessitar menos deste amparo.

Com relação às possibilidades de estratégias de trabalho com as famílias, Valéria pontua: o desenvolvimento de vínculo com a família, relação horizontal, investir no vínculo da família com as crianças (a partir de um Plano Político Pedagógico, visitas e etc), família como participante ativa no abrigo (assembléias, contribuir para a dinâmica do local), família como co-responsável pela criança (participação em reuniões escolares, consultas médicas, atividades lúdicas e etc).

As famílias devem participar da construção dos PAFs (Plano de atendimento familiar), e a equipe deve realizar entrevistas, visitas, grupos de famílias, e encaminhamentos e acompanhamentos na Rede. Além disso, devem ser realizadas discussões de caso, capacitações e reuniões de equipe com frequência, na perspectiva de “cuidar de quem cuida”. Essa metodologia contempla três fases para a reintegração familiar: pré-integração, na qual a família e a criança são ouvidas para entender que família é essa, a integração, na qual são realizadas as estratégias junto às famílias, e pós-integração, para acompanhamento da família após a reintegração familiar.

Nas discussões dos grupos, surgiram as perguntas:

- Como fazer com que nas visitas familiares sejam contempladas as expectativas das crianças e adolescentes e das famílias?

- Até que ponto a equipe deve insistir no trabalho com as famílias?

- Como lidar com as famílias que não aderem ao plano familiar de reintegração?

- Como atuar em uma Rede despreparada, ausente de alguns órgão do SGDCA?

Valéria afirma que não há uma receita para todas as famílias, e que cada família deve ser considerada a partir de sua especificidade. Trouxe uma questão importante que diz respeito aos três tempos: do judiciário, da criança e da família, e que nem sempre responderão de maneira conjunta. Por isso, é importante que a equipe técnica possa reconhecê-los e fazer os devidos encaminhamentos para cada caso. Na relação com o judiciário, é importante que a equipe possa, a partir de dados concretos, sugerir prazos que atendam a necessidade de cada família e criança.

Neste sentido, é importante considerar a idade das crianças e adolescentes e seus interesses, bem como o desejo das famílias, que muitas vezes chegam aos serviços confusas,  sem clareza de suas potências e possibilidades.

“Até que ponto a nossa prática confirma ou desconfirma padrões repetitivos no atendimento às famílias?”. É dever das equipes se avaliar e rever suas estratégias de intervenção, sobretudo em um contexto no qual a Rede apresenta fragilidades. É de responsabilidade de todos construir indicadores que fortaleçam as políticas públicas do SGDCA. Além disso, é papel dos profissionais da Rede propor reuniões e fortalecimento da Rede, inclusive com o judiciário.

Valéria fez a indicação de algumas referências bibliográficas para o trabalho com famílias:

  • “A polícia das famílias” – Jacques Danzelot – Ed. Graal

  • “Competência das famílias” – Guy Ausloos - Climepsi Editores

  • “Busca do ponto sólido” – Guy Ausloss

Para assistir aos melhores momentos da Oficina, acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=a164m4GGT0Q