No dia 26 de abril aconteceu a oficina “Chegadas e Partidas: Trabalhando as transições no acolhimento”, que contou com a participação da psicóloga Valéria Tinoco, mestre e doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP), co-fundadora, professora e supervisora do 4 Estações Instituto de Psicologia e da Assistente Social Adriana Pinheiro, especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes em políticas públicas e Direitos Sociais, com 20 anos de experiência no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora – Sapeca (Campinas).

O encontro foi iniciado por Valéria Tinoco, trazendo a ideia de que todo rompimento é um processo de adaptação à uma nova realidade, sendo essa experiência o que fundamenta o acolhimento e, por isso, um tema tão difícil. Valéria explicou que a formação de vínculo é essencial para gerar confiança e proteção e lidar com esses rompimentos. Só assim ocorre o desenvolvimento saudável da criança nas condições de acolhimento.  Pontuou que quando a criança é acolhida ela passa por várias rupturas e perdas como: perda do contato com a família, perda da sua casa, brinquedos, cheiros, barulhos, vizinhos, lugares que frequentava, e essas perdas/rupturas causam desorientação em várias aspectos. Uma das principais funções dos profissionais que trabalham com estas crianças é auxiliá-la a se orientar novamente. Nesta situação, a criança passa pelo luto de perder e desejar ter de volta o que ela tinha antes e isso no primeiro momento pode não ser visto como algo bom pelas novas pessoas ao redor.

Valéria trouxe a reflexão que mesmo nas famílias acolhedoras é natural esperar essas reações ao rompimento, tanto no acolhimento quanto no desacolhimento. Pontuou que as reações ao rompimento são naturais pois isso comprova a existência dos vínculos, que são tão necessários para o desenvolvimento (tanto nas chegadas quanto nas partidas das crianças). O trabalho, tanto nos SAICAS (Serviço de Acolhimento Institucional. para Crianças e Adolescentes) quanto nas famílias acolhedoras, deve ser intenso para a construção desses novos vínculos, mas também deve-se cuidar do rompimento desses vínculos quando a criança retorna para sua família biológica ou família substituta. Ao final de sua fala, Valéria apresentou algumas ideias de como trabalhar transições tanto na chegada quanto na “saída” das crianças em serviços de acolhimento. 

Em seguida foi a vez de Adriana Pinheiro, que iniciou reforçando algumas falas anteriores e trouxe uma linha do tempo sobre a chegada das crianças no serviço de acolhimento e as estratégias utilizadas nos últimos anos pelo Sapeca (Campinas). Dentre as estratégias, é importante ressaltar a apresentação do ambiente e pessoas, bem como levantar as informações de rotina, hábitos, necessidades e explicar ao máximo sobre dúvidas que possam aparecer. Pontuou também a importância de receber as roupas, brinquedos, objetos da criança e deixá-la de posse desses objetos que criam uma ponte com o “mundo anterior” que a criança acabou de “perder”. Adriana falou da fase inicial do acolhimento e de como é importante que todos os envolvidos no serviço criem estratégias para a diminuição do impacto destas rupturas. Pontuou que hoje em dia ao invés de utilizarmos o termo ruptura, opta-se por “transição” ou “despedidas”. Falou ainda da importância dos adultos de referência para a criança, sejam eles da família de origem ou os próprios educadores, sempre estabelecerem um diálogo pautado na verdade, para que a criança se sinta segura e situada naquele tempo e espaço em que se encontra.

A oficina está disponível na íntegra no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=0-Wwz5r4mi8&t=2s

A próxima oficina do ciclo “Primeira Infância e Acolhimento” será no dia 24 de maio, das 17 às 19h, ao vivo no canal do YouTube do Instituto Fazendo História, com o tema “Brincar é coisa séria! A importância da brincadeira”. Não perca!