No dia 28 de Junho de 2021, o Instituto Fazendo História realizou a oficinaPrimeira Infância: Cidade e Natureza”, que contou com a participação da Arquiteta e Urbanista Úrsula Troncoso, membro fundador do GT Cidade, Infâncias e Juventude, do Instituto Arquitetos do Brasil (IAB-SP), coordenadora de Educação Urbana do Instituto A Cidade Precisa de Você e consultora da Fundação Bernard Van Leer, e com a Engenheira Florestal Maria Isabel Amado de Barros (Bebel), cofundadora da Outward Bound Brasil, uma organização voltada à educação por meio da aventura ao ar livre e pesquisadora do Programa Criança e Natureza, do Instituto Alana.

Bebel iniciou sua apresentação com seus projetos e estudos relacionados aos benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes, pontuando que uma infância rica em natureza também é fundamental para o desenvolvimento de pessoas mais comprometidas com a conservação do planeta durante a vida adulta. Um dado importante trazido é que a ausência da natureza tem promovido impactos negativos na saúde física e mental das crianças. O principal motivo desses impactos é o grande número de pessoas residindo em grandes cidades e também os altos índices de violência, que forçam as crianças e pessoas a “se manterem fechadas” dentro de suas casas. Isso também leva cada vez mais à privatização dos espaços de lazer, investindo-se em shoppings e espaços fechados como únicas opções de lazer da cidade.

Outro fator importante apontado por Bebel são as atuações das escolas nas cidades, que acabam focando na educação para a dimensão cognitiva, e não também na exploração do espaço externo (pátio, parque, etc). Os espaços físicos das escolas e creches também são muito deficitários, muitas vezes não tendo contato com a luz do sol, impedindo o livre acesso ao brincar e exploração. Apresentou ainda o aumento excessivo do uso de aparelhos eletrônicos e do ambiente digital, que diminuiu cada vez mais o contato com a natureza e o ambiente externo e tendo como impactos negativos problemas no sono e visão (pelo uso excessivo de telas). Bebel complementou sua apresentação trazendo possibilidades de atividades do contato com a natureza, considerando que essa exploração do “mundo externo” pode ser gradativa, mas que ela é urgente. Como apontamentos finais trouxe a importância do convívio social em espaços públicos, tomar sol, comer frutas direto do pé, convivência com animais domésticos, mexer em hortas e vasos e explorar os espaços.

Em seguida foi a vez de Úrsula trazer seus conhecimentos sobre a cidade, iniciando com uma contextualização da neurociência no desenvolvimento infantil. Apresentou os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU, sendo um deles “criar cidades e comunidades mais sustentáveis”. No Brasil, 86% das crianças vivem nas cidades e 1 a cada 3 crianças vive na pobreza ou extrema pobreza, sendo que passam apenas 1 hora em média ao ar livre. Alguns dados alarmantes da infância na cidade trazidos por Úrsula são: os acidentes de trânsito, sendo 35% deles ocorrem com pedestres; a questão do estresse e da saúde mental, sendo que a cidade pode ser causadora desses fatores; a falta de atividades físicas das crianças que ficam muito tempo dentro de casa e no ambiente virtual; a poluição do ar nas grandes cidades, sendo este um grande fator de mortes e adoecimento de crianças nas grandes cidades. Em seguida Úrsula apresentou o estudo do programa URBAN95 da Fundação Bernard Van Leer, que fez um levantamento de como é para uma criança viver em uma cidade grande.

Este estudo está disponível no site do projeto (Urban95) e traz reflexões e propostas de tornar visível a infância nas grandes cidades. Úrsula trouxe as questões principais e formas de promover mudanças dentro das cidades para que a convivência e circulação das crianças possa ser mais proveitosa e satisfatória dentro das necessidades do desenvolvimento infantil, principalmente em questões de ruas mais confortáveis e seguras para a circulação e o planejamento urbano para mobilidade e aproveitamento dos espaços públicos. Dentre os estudos apontados no URBAN95 também foram feitos questionários com pais e responsáveis por crianças, para entender, mapear e planejar propostas para uma cidade mais acessível para a infância. Dentre os apontamentos finais, novamente se levantou o fator da natureza, para que nas cidades também exista espaços significativos para contato com a natureza por parte das crianças e cidadãos em geral. 

Ao final do encontro foi possível debater com os participantes as possibilidades e desafios dessas experiências no contexto do acolhimento institucional e familiar e a importância de construção de estratégias, considerando o direito à convivência familiar e comunitária.