No mês de maio de 2023 o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “O trabalho em rede na garantia de direitos de crianças e adolescentes em situação de acolhimento”. Tivemos como convidados os profissionais, Kwame Yonatan – Psicólogo e mestre empsicologia pela UNESP-Assis, doutor pela PUC-SP. Atua como supervisor e é professor no Instituto Gerar. Ativista do movimento negro pela saúde mental.Tem experiência profissional em políticas públicas, sendo supervisor institucional de profissionais do SUS e do SUAS. Atualmente, também compõe o coletivo Margens Clínicas; e Francisco Cesar Rodrigues (Chico) - Jornalista formado pela Universidade Brás Cubas e mestrando em Serviço Social pela PUC/SP. Iniciou trabalho na área social como Educador Social em 1991, na extinta Secretaria de Menor. Trabalhou em Organizações de acolhimento de crianças e adolescentes, foi Conselheiro no CMDCA/SP, Assistente Técnico na coordenadoria de criança e adolescente da Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo e Supervisor de Assistência Social na região noroeste da capital, foi diretor de unidade de internação de adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa e esteve à frente da Superintendência de Desenvolvimento Social da Organização Sustenidos, gestora do Projeto Guri em cerca de 300 municípios do Estado de São Paulo. Atuou como militante na causa da criança e adolescente nos Fóruns municipal e estadual DCA e hoje milita nos movimentos de cultura e arte periférica, com os coletivos de Slam.

O profissional Chico iniciou os trabalhos resgatando as mudanças sociais frente a sua caminhada, e mencionou como é importante “se aventurar no desconhecido” para que possamos construir e atender demandas atuais, pensando o trabalho em rede.

Indicou como referencial de sua prática a produção do Professor Antônio Carlos da Costa, falando sobre a articulação, mobilização e a compreensão do Nó da rede. Realizou uma explanação a partir de marcos presentes na legislação: Constituição (88); Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)  e demais Políticas Públicas  voltadas para infância e juventude. Apresentou os princípios que devem reger entes que se articulam, tais como: a complementaridade, a unificação de fazeres, o respeito à identidade de cada articulado, uma vez que se convergem, a autonomia de quem se articula e o dinamismo.

O profissional indicou ainda, atitudes que favorecem o processo de articulação, no qual mencionou: a percepção da conjuntura do dia a dia, identificação atenta e criteriosa de interlocutores e parceiros, explicação e aprofundamento constante de um referencial comum de crença e valores, entre pessoas, grupos ou entidades participantes de um processo de articulação.    Planejamento conjunto, participativo e estratégico das ações, avaliações presentes das atividades desenvolvidas. Destacou a questão da incompletude institucional e de que o sujeito criança e adolescente não deve ser fragmentado, mas sim integrado. O trabalho em rede deve partir dos vínculos básicos com a Família, Escola e comunidade. Finalizou sua explanação indicando que “sem articulação não há mobilização e sem mobilização não há mudança na ordem social”.

O segundo momento da oficina foi conduzido pelo profissional Kwame, que compartilhou sua experiência de alguns trabalhos em rede. Nomeou sua fala com o título “ Aquilombamento como tessitura de rede – a construção do comum na diferença”. Apresentou um caso para articular com os conceitos, retomando a ideia do nó da rede apresentada pelo profissional Chico e destacando a complexidade dos casos que chegam nos serviços. Afirma a necessidade do trabalho em rede como forma de intervenção.

Realizou sua explanação a partir de esquema do processo de rota crítica da lei Maria da Penha, e indicou que, a partir de sua experiência de aquilombamento, mais de 50% da população atendida pelas políticas públicas é negra, sendo que no SUS chega a ser 80%. Levou o grupo a refletir sobre esses dados e questionou o que isso significa em termos de atendimento? Como estamos atuando, considerando essas estatísticas?.

  O profissional realizou um breve resgate dos marcos históricos da realidade das pessoas negras ao longo da história para conceituar o racismo estrutural. Citou autores como Cloves Moura para falar sobre o sujeito negro, a desigualdade e o conceito de Quilombagem, de Abdias do Nascimento – Livro Quilombismo. Destaca a ideia do autor sobre a necessidade de restituição histórica, frente à destituição histórica vivenciada em nossa constituição. 

Kwame apresentou o processo de quilombo como algo que envolve a ideia de afeto - ressalta o caráter técnico, mas indica a necessidade de serem afetivas - referenciado na construção da autora Beatriz Nascimento. Concluiu de sua fala indicando o trabalho do autor Emiliano Camargo, que propõe a ideia de aquilombação. Menciona que o aquilombamento é “um mundo sem muros da colonialidade”, o que acredita que é possível.

Ao fim da oficina o grupo é provocado a participar de uma sensibilização no qual pôde discutir e construir coletivamente estratégias de rede que atendessem o cotidiano de trabalho de seus Serviços.

Assista a oficina na íntegra