Fazendo História no Conselho Municipal dos Direitos da Juventude

Fazendo História no Conselho Municipal dos Direitos da Juventude

No próximo dia 25, acontecem as eleições para a gestão 2024/2026 do Conselho Municipal dos Direitos da Juventude, que discute, cria e executa políticas públicas para a juventude no município.

Representando o Instituto Fazendo História como uma entidade, a Bia e o Igor estão concorrendo a uma vaga no painel. Os dois são técnicos do Grupo nÓs.

Anna Beatriz da Silva Santos, candidata titular, é cientista social, formada pela UNIFESP. Atuante na rede de garantia de direitos da criança e do adolescente desde 2020 em serviços de acolhimento para crianças e adolescentes, é defensora dos direitos humanos, com foco em questões de gênero e sexualidade. Tem experiência profissional no ramo de projetos sociais de sustentabilidade, educação e música na cidade de São Paulo. 

Igor Gomes Xavier, candidato suplente, é formado em História pela USP, com cursos de extensão nas áreas de: história afro-brasileira, literatura periférica e direitos humanos. Poeta e articulador cultural, atua como arte educador em serviços da cultura e da assistência social. Já soma 8 anos de trabalho com juventudes.

As eleições acontecem dia 25/08 de forma híbrida, sendo possível votar online ou em 3 pontos presenciais da cidade de São Paulo. Todos os jovens residentes em São Paulo com idades compreendidas entre 15 e 29 anos podem votar. Para realizar a pré-inscrição, basta acessar https://forms.gle/6kdLxy9vF5ft9Wu69.

Os pontos de votação presencial são:
1. TEIA Cidade Tiradentes - R. Inácio Monteiro, 6900 - Conj. Hab. Sitio Conceição, São Paulo - SP, 08490-000

2. TEIA Interlagos - Av. Interlagos, 6122 - Interlagos, São Paulo - SP, 04777-000

3. Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania – R. Líbero Badaró, 199 – Sé, São Paulo - SP

Ampliar nossa participação nos conselhos e contribuir ativamente para a construção de políticas públicas voltadas para os jovens fortalece ainda mais o nosso compromisso ético, político e social com essa população.


OFICINA – Pega a visão: uso de drogas na adolescência

OFICINA – Pega a visão: uso de drogas na adolescência

No dia 29 de maio de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a nona oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "Pega a visão: uso de drogas na adolescência", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Larissa de Aragão Pires, terapeuta ocupacional pela USP, pós-graduada em Saúde Mental pela UNIFESP e mestranda em Ensino em Ciências da Saúde da UNIFESP.

Larissa inicia o encontro abordando como o tema das drogas, ou substâncias psicoativas, ainda se apresenta como um tabu em nossa sociedade, ao mesmo tempo que acontece de forma corriqueira no cotidiano das pessoas, atravessando as experiências pessoais de cada uma. Ela expõe um histórico do uso de drogas na humanidade, compreendendo-as como substâncias que agem sobre o cérebro e alteram o estado de percepção e consciência, fazendo parte das mais diversas culturas e tendo diferentes usos e significados. Traz, a partir de um panorama mundial, as grandes questões relacionadas ao uso de drogas, como o tráfico, o aumento da população carcerária e o debate da descriminalização da maconha, temáticas que precisam ser olhadas a partir de um recorte de classe e de raça.

A convidada também apresenta os principais modos de enxergar o uso de drogas hoje na sociedade. Um deles é a abordagem proibicionista, na qual o discurso é centrado na ideia do não uso, evitando-se inclusive falar sobre o tema, associando-o a um problema de segurança pública, a abstinência como único cuidado possível e a uma valorização do saber técnico-científico. A segunda perspectiva é a de redução de danos, a qual parte do princípio que a pessoa tem conhecimento sobre si mesma e que se processa por meio da construção coletiva de saberes, onde o plano terapêutico é desenvolvido em conjunto com o sujeito. Nesta, o foco está nas pessoas e não no uso da substância, fazendo-se necessário compreender cada uma em sua integralidade para encontrar a forma de olhar e lidar com a questão, e prevendo a garantia de direitos básicos e a valorização da diversidade. 

Em seguida, Larissa expõe algumas das substâncias mais conhecidas, problematizando o uso de álcool, legalizado, como o principal causador de mortes e enfatizando o K9, usado com muita frequência pelos adolescentes atualmente e ainda com poucos estudos sobre seus impactos. Aponta, não só o álcool e a maconha, mas também o vape, fenômeno social ligado à adolescência, como as principais substâncias utilizadas pelos jovens em situação de acolhimento institucional nos dias de hoje. Indica como cada uma delas tem uma forma específica de agir no sistema nervoso central, variando em seus efeitos frente a cada corpo e a cada contexto, e os perigos no uso misturado de diferentes substâncias. 

Ela também aborda quais são os sinais de alerta que demonstram que alguém necessita de primeiros socorros imediatos e quais são os casos que precisam de algum tipo de ajuda - quando entendemos o uso de drogas como uma questão de saúde, e não apenas de segurança pública. Apresenta, então, quais são os serviços referências nesse cuidado e orientação da população, sendo eles: Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPS IJ); Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPS AD), para pessoas acima de 18 anos; e a Unidade Básica de Saúde (UBS).

Em uma segunda parte do encontro, Larissa abre para perguntas e reflexões trazidas pelos participantes, debatendo com eles acerca de alternativas em territórios que não têm CAPS, quais são as principais tecnologias disponíveis e que podem ser acessadas, assim como seus impasses e precarizações, quais são as premissas da redução de danos e em que espaços podem ser desenvolvidas, e quais caminhos podem ser pensados, alternativos à política pública da violência hoje em vigor. Ela também cita diversas publicações disponíveis no site do É de lei, organização referência no cuidado e na redução de danos, para ampliar o conhecimento e a discussão sobre as mais diferentes drogas.

No momento final da oficina, cada participante é convidado a registrar uma cena envolvendo o uso de drogas, presente em seu cotidiano de trabalho, que o inquietou, machucou ou desafiou, e depois compartilhar em pequenos grupos. Depois disso, cada grupo escolheu duas dessas cenas para analisar de forma mais aprofundada e apresentar ao grupo maior, com a mediação de Larissa. Dentre os elementos a serem considerados estavam: quem são os sujeitos da cena, o local em que ela se dá, os paradigmas e projetos de mundo observados, os tensionamentos e necessidades evidenciadas, os facilitadores e barreiras presentes e verbos de destaque. Essa foi uma parte muito rica do encontro, proporcionando troca de desafios, angústias e possibilidades, e indicando como, ao falar sobre situações de uso de drogas, mais do que abordar as substâncias e suas especificidades, estamos falando de garantia de direitos, e de como eles vêm sendo violados sistematicamente.

Larissa de Aragão Pires é terapeuta ocupacional pela USP, pós-graduada em Saúde Mental pela UNIFESP e mestranda em Ensino em Ciências da Saúde da UNIFESP. Também atua como redutora de danos infanto-juvenil há 7 anos com pessoas que apresentam sofrimento psíquico decorrente do uso de substâncias psicoativas.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

Serviços de acolhimento contemplados pelo projeto “Fazendo Minha História em Sergipe e Alagoas” na cidade de Aracaju e região metropolitana.

Serviços de acolhimento contemplados pelo projeto “Fazendo Minha História em Sergipe e Alagoas” na cidade de Aracaju e região metropolitana.

É com muita alegria que divulgamos a lista de serviços de acolhimento contemplados no projeto “Fazendo Minha História em Sergipe e Alagoas” na cidade de Aracaju e região metropolitana.

1. Unidade de Acolhimento Sorriso

2. Unidade de Acolhimento Caçula Barreto

3. Casa Lar 1 

4. Casa Lar 2 

5. Casa Lar 3

6. Casa da Criança Nossa Senhora Da Vitória

7. Unidade de Acolhimento Mista Irmã Valmira


Com o apoio do Ministério da Cultura, construiremos junto a cada um dos novos parceiros um espaço de leitura com 300 livros infantojuvenis. O projeto ainda conta com seminários formativos para os profissionais e todo o suporte necessário para favorecer o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes acolhidos.

Parabéns aos selecionados, estamos muito felizes por fazer história com vocês! 


OFICINA – Adolescências e Histórias de Vida

OFICINA – Adolescências e Histórias de Vida

No dia 27 de março de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a oitava oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "ADOLESCÊNCIAS E HISTÓRIAS DE VIDA: QUANDO A HISTÓRIA COMEÇA A SER CONTADA? ". O encontro foi direcionado aos profissionais da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

Para esse encontro, convidamos Anita Machado: Psicanalista em formação com graduação em Psicologia pela PUC- PR (2002) e formação em terapia familiar e de casal pelo Intercef - PR (2004). A convidada decide iniciar a oficina aquecendo os convidados com uma dinâmica na qual, a partir do simples ato de olhar, poderíamos nos comunicar e nos colocar no lugar do outro. Essa atividade faz uma associação com uma experiência humana fundamental: a capacidade de imaginar como seria estar na pele do outro, levando em consideração todas as suas experiências, características sociais, biológicas e culturais. Essa reflexão nos ajuda a compreender melhor as histórias de vida de cada indivíduo

Anita pediu aos profissionais convidados que trouxessem um objeto considerado importante para eles, a fim de compartilhar suas histórias pessoais e explicar o significado que esse objeto possui para cada um. A partir da dinâmica, os participantes da oficina puderam compartilhar com o público um pouco de suas memórias. Durante esse momento, foi feita uma exposição sobre o trabalho da psicóloga Ecléa Bosi, que se dedica ao estudo da memória. Ecléa Bosi destaca a importância das narrativas pessoais e das histórias de vida na preservação e transmissão da memória, enfatizando como essas histórias são fundamentais para a reconstrução e interpretação das experiências vividas.

Dando continuidade à oficina, Anita propôs um espaço para os trabalhadores da rede socioassistencial refletirem. Nesse sentido, ela apresentou quatro perguntas importantes para o trabalho com histórias de vida. Anita dividiu os profissionais em quatro grupos, sendo cada grupo responsável por refletir sobre uma dessas questões.

1. O trabalho com adolescentes é difícil? Por que?

2.No trabalho com adolescentes há uma história que se repete? Qual?

3.No trabalho com adolescentes qual é a experiência mais marcante?

4.Quem são os adolescentes que vocês trabalham?


Após a reflexão em grupo, Anita sugere que cada grupo eleja uma palavra forte que representa o cerne das discussões realizadas. Essa prática permite compartilhar com o grupo maior um resumo significativo do processo de reflexão e das conclusões alcançadas por cada equipe.

Ao final do encontro, Anita conduz um momento mais expositivo sobre a adolescência. Ela aborda alguns marcadores importantes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), destacando o início e o fim desse período segundo critérios cronológicos. No entanto, ela também relaciona esses marcos com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que introduz a noção de pré-adolescência, evidenciando que, embora existam definições baseadas em idade, as experiências sociais podem variar consideravelmente. Isso significa que certos eventos podem ocorrer em momentos considerados precoces de acordo com os marcadores cronológicos, mas que refletem as complexidades das experiências individuais e sociais durante essa fase.

Anita destaca que as histórias de vida dos adolescentes ganham vida quando são narradas, mas também enfatiza a importância de os profissionais as acolherem. Ela ressalta que o objetivo não é simplesmente descobrir as pessoas, mas sim criar oportunidades narrativas para que elas se reinventem, "caminhando para si" através das longas estradas dos relatos de vida. No estudo "Oficinas de história de vida: uma construção metodológica no enlace entre psicanálise e saúde coletiva" — apontado por Anita durante a oficina — as narrativas das histórias de vida compartilhadas pelas adolescentes foram destacadas. O estudo sublinhou os deslocamentos na leitura que essas jovens faziam do processo em que estavam inseridas. O objetivo era colaborar com a produção de rupturas da posição de vítima, desconstruindo certezas e verdades cristalizadas e admitindo a dispersão onde se supunha unidade e identidade.

“lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho” (BOSI, 1994)

Autoria: Vinícius Mas - Técnico do programa Formação no Instituto Fazendo História, psicólogo e especialista em Saúde Mental pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Dedica grande parte dos seus esforços atuando com pessoas em situação de risco.

Anita Machado é Psicanalista em formação com graduação em Psicologia pela PUC- PR (2002) e formação em terapia familiar e de casal pelo Intercef - PR (2004). Mestre em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela IP-USP (2012). Supervisora clínico institucional de equipes da Assistência Social e da Saúde. Atende em consultório particular crianças, adolescentes, adultos e casal, para conduzir esta oficina.

 1. (Conte, M., Silveira, M., Torossian, S. D., & Minayo, M. C. S., 2014).

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui 

DIVULGAÇÃO CRIANÇA ESPERANÇA 2024 - Programa Fazendo Minha História estabelece parceria com cinco serviços de acolhimento institucional

DIVULGAÇÃO CRIANÇA ESPERANÇA 2024 - Programa Fazendo Minha História estabelece parceria com cinco serviços de acolhimento institucional

Com o financiamento do Criança Esperança, o Programa Fazendo Minha História estabelece parceria com cinco serviços de acolhimento institucional nos municípios de Francisco Morato, Franco da Rocha, Cajamar e Mairiporã.

Acreditando no potencial e na transformação por meio da literatura no contexto de acolhimento, é com alegria que divulgamos os 5 serviços de acolhimento contemplados pelo projeto " Bibliotecas Vivas: Memórias que Educam".

Associação Sítio Agar - SAICA II (Cajamar)

Abrigo Municipal Abrindo Caminhos - ABRICAM (Mairiporã)

Associação Sítio Agar - SAICA I (Francisco Morato)

Associação Sítio Agar - SAICA II (Francisco Morato)

Projeto Ensignar - Franco da Rocha


Construiremos junto com cada um dos serviços de acolhimento parceiros um espaço de leitura com 200 livros infantojuvenis. O projeto também prevê seminários para profissionais dos serviços de acolhimento, formação de voluntários e palestra para rede de Educação e todo o suporte necessário para os serviços no que diz respeito ao trabalho com histórias de vida, por meio da literatura, visando o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes acolhidos.

Parabéns aos selecionados, estamos muito felizes por FAZER HISTÓRIA com vocês!

Equipe Fazendo Minha História.

OFICINA – Saúde Mental e Juventude

OFICINA – Saúde Mental e Juventude

No dia 28 de fevereiro de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a sétima oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "Saúde mental e juventude", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Kwame Yonatan, psicanalista e doutor pela PUC-SP, atua como supervisor, é professor no Instituto Gerar, poeta e escritor. O convidado inicia propondo um exercício de apresentação, onde cada participante, além de trazer seu nome e organização na qual trabalha, indica como se define racialmente. Ele aponta como isso permite um diagnóstico de como estamos situados no mundo e que fazer essa pergunta às crianças e jovens é, na verdade, questionar: como me vejo, como sou visto e como quero ser visto. Além disso, contar nossa história e nos nomearmos é um exercício de saúde mental, e poder se dizer racialmente contribui para o rompimento de silenciamentos, que ocorrem quando não falamos e prevalece o que dizem sobre nós. 

Em seguida, o convidado aborda o objetivo a ser percorrido ao longo da oficina: ampliar o conceito de saúde mental, se afastando de um reducionismo por uma via hegemônica, onde prevalece o olhar para diagnósticos, e trazendo o escopo da singularidade, da multiplicidade e da pluralidade, para então, entrelaça-lo ao campo da juventude. Nesse momento, provoca o grupo a pensar sobre o que é saúde mental, apresentando alguns conceitos, de onde partem e suas problematizações. Ele aproxima a ideia de saúde ao acesso à vida, como algo gradativo, relacional e coletivo: saúde mental se vincula às relações que estabelecemos, aos momentos de nossa existência que afetam a saúde, de modo que um sujeito em sofrimento psíquico também pode ter sua existência reduzida. 

Para abranger como esse conceito aparece na prática, Kwame apresenta dados e reflexões da história do campo da saúde mental no Brasil, indicando suas raízes na psiquiatria e traçando alguns elementos importantes nesse caminho, como o surgimento dos primeiros hospitais psiquiátricos e das primeiras leis assistenciais e higienistas, iniciativas pioneiras nas formas de enxergar e atuar com a ideia da loucura e a instauração da lei da reforma psiquiátrica, em 2001, visando retirar a loucura de uma perspectiva punitivista para um lugar do cuidado. Ele discute como, apesar da lei, a lógica manicomial ainda está presente hoje, em muitos espaços, precisando ser reconhecida e combatida. Aponta, também, em 2002, a portaria que estabelece o que são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), propondo outra lógica de cuidado no território e um processo de desinstitucionalização da loucura, a partir da articulação em rede.

O convidado segue discutindo como é essencial olhar para as disputas históricas para se compreender a constituição do campo da saúde mental no Brasil, considerando a ideia de raça como crucial nesse percurso. Ao problematizar quais corpos eram, em sua maioria, dos internados em manicômios, aborda como essa construção foi forjada em um processo de desumanização de negros e indígenas. Kwame indica, então, como, ao falarmos de saúde mental, para muito além da ideia de diagnósticos, precisamos levar em conta as histórias dos sujeitos e as violências pelas quais estes passaram, cuidando para não reduzir questões de outros campos relacionais a um aspecto individual. Provoca a pensar como, muitas vezes, é por meio do sofrimento psíquico que os jovens expressam as violências pelas quais passam, indicando uma perspectiva de olhar o sintoma na qual se reconhece que ele vem acompanhado de uma história e de uma narrativa.

Kwame ainda propõe uma discussão sobre juventude, pautada no Guia de Referência ao Enfrentamento à Violência e ao Racismo contra Jovens Negros. Ele expõe como, ao falarmos de jovens no Brasil, precisamos nos perguntar de que jovens estamos falando, considerando diferentes marcadores sociais, como de raça, gênero, classe e orientação sexual. Quanto mais marcadores tiver esse jovem, maior a sua exposição às vulnerabilidades e mais ele pode expressar essas violências que, muitas vezes, não são ouvidas e aparecem em forma de diagnósticos. Traz também como a ideia de juventude está atrelada a um lugar de questionamento à ordem estabelecida e que, por conta dessa capacidade, há sempre o perigo dessa força política ser silenciada e patologizada. Torna-se urgente pensar em quais são os espaços que estamos abrindo para a escuta dos jovens e como escutar, de fato, o que está sendo contestado, em direção à humanização desses sujeitos, repletos de desejos e sonhos.

Em um segundo momento do encontro, como forma de dialogar com os profissionais presentes, Kwame lança as perguntas disparadoras: como veem o que é escuta qualificada e o que seria essa qualificação da escuta? A partir das contribuições, ele indica como ela se vincula às ideias de exercício de alteridade, de processo e de aprendizagem e que, por vezes, quando o jovem chega ao serviço, essas três dimensões são esquecidas e ele se torna um diagnóstico. Aponta como fundamental o movimento de os profissionais se abrirem para olhar para esses sujeitos, com outras histórias, perspectivas e raças, e para como esses determinantes sociais os afetam. Trata-se de um exercício de escutar para além do que está sendo dito, cuidando para não impor as próprias visões de mundo e, assim, reproduzir violências. Por fim, aborda como a qualificação da escuta deve caminhar como um processo de humanização desses jovens, deixando-se afetar, abrangendo sua história e garantindo direitos.

Autoria: Maytê Aché Saad - Técnica do programa Formação no Instituto Fazendo História, psicóloga e mestre em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência pela UNIFESP. Atua como psicóloga clínica e com processos de supervisão e formação de equipes na área da educação e assistência social.

Kwame Yonatan é psicanalista e doutor pela PUC-SP, professor no Instituto Gerar, poeta e escritor. Tem também experiência profissional em políticas públicas, sendo supervisor institucional de profissionais do SUS e do SUAS e compõe o coletivo Margens Clínicas, grupo de psicanalistas e psicólogas que atuam no enfrentamento à violência de Estado. Também é um dos articuladores do projeto "Aquilombamento nas Margens". 

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui 

OFICINA – Estratégias e Reflexões sobre o Projeto Político Pedagógico

OFICINA – Estratégias e Reflexões sobre o Projeto Político Pedagógico

No dia 31 de janeiro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a sexta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "ESTRATÉGIAS E REFLEXÕES SOBRE O PPP". O encontro foi direcionado aos profissionais da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

Para esse encontro, convidamos Valéria Pássaro, pedagoga e especialista em educação e acolhimento, para conduzir esta oficina. A palestrante compartilhou sua experiência na construção do PPP no serviço em que trabalhou por muitos anos, abordando os desafios, conquistas, preocupações e algumas das estratégias que ela implementou. Ela inicia sua abordagem com uma observação crítica sobre o papel do pedagogo nos serviços de acolhimento. Ela destaca que a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) não é uma responsabilidade exclusiva desses profissionais, fazendo um alerta: "Não solicitem aos pedagogos que resolvam os problemas dos projetos políticos pedagógicos das instituições".

Valéria ressalta a inadequação de simplesmente copiar e colar o PPP, já que ele está intrinsecamente ligado à realidade específica de cada serviço de acolhimento. Ela argumenta que uma instituição com diversos serviços não pode criar um PPP genérico que sirva para todos os espaços, enfatizando a necessidade de que cada serviço tenha o seu próprio PPP. Isso se deve à singularidade de cada grupo, composto por profissionais ou acolhidos com diferentes vivências. Valéria destaca a importância de ouvir todas as partes envolvidas e exemplifica, questionando se, por exemplo, o PPP prevê um trabalho com a família que, para a especialista, é fundamental. 

A palestrante enfatizou que a construção do PPP deve ser realizada no serviço e por aqueles que ali estão e destacou a importância de valorizar as vivências das crianças e adolescentes acolhidos, tanto na elaboração quanto na garantia do seu desenvolvimento.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

Valéria Pássaro é pedagoga e especialista em educação e acolhimento. Com uma vasta experiência, ela atuou como coordenadora na Casa das Expedições e atualmente desempenha o papel de diretora executiva na Moradia Associação Civil. Ao longo de mais de 30 anos dedicados à área de acolhimento institucional, esteve na vanguarda das mudanças, não apenas nas legislações pertinentes, mas também nas propostas de acolhimento e em como essas transformações impactam os diversos equipamentos.

OFICINA – O Trabalho em Rede: Construindo estratégias a partir do Território

OFICINA – O Trabalho em Rede: Construindo estratégias a partir do Território

No dia 24 de janeiro de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Capacitação em Serviços de Acolhimento, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O trabalho em rede: construindo estratégias a partir do território", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Rafael Sá Martins, educador social, graduado em história, especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo. E Thamara Sauini, cientista ambiental, mestre e doutora em biologia química. 

Thamara apresenta uma definição de território, enquanto espaço formado por meio de ações realizadas por determinados atores que levam à sua apropriação, e convida o grupo a refletir sobre as formas nas quais estão inseridos nos territórios que moram e trabalham. Ao usar exemplos de marcos em São Paulo, contextualizando como eram antigamente e o que se tornaram a partir de pressões urbanas, ela indica como o território está estritamente vinculado com as noções de enraizamento, identidade, lugar de vida e relações cotidianas. 

Ao apresentar a ideia de cidade como um sistema vivo que absorve experiências, Thamara traz o que seria uma educação socioambiental, despertando os participantes para uma nova forma de pensar e olhar para o território. Ela aponta como isso envolve um diagnóstico de que território é esse, de suas dinâmicas e interações, compreendendo o espaço enquanto um sistema integrado com a natureza, onde se compartilha recursos com ela, e não acima dela. Cita, também, a noção de trilhas urbanas, como espaços pedagógicos que possibilitam uma “quebra” nas rotinas escolares, partindo do reconhecimento de diferentes elementos, serviços ambientais e usos que podemos fazer dos espaços e áreas verdes no entorno. 

Ainda se utilizando de imagens com diferentes paisagens, a convidada segue instigando os participantes a identificarem os elementos presentes para além do que se enxerga, a refletirem sobre a ação do homem em relação à natureza e os diversos usos e relações possíveis com os territórios a partir de diferentes culturas e tempos históricos. Por fim, ela propõe uma atividade prática, de produção de desenhos sobre o lugar onde trabalham e dos elementos que lembram dessa região, incluindo aquilo que enxergam e não enxergam, o que sentem, o que conhecem e não conhecem, sua vegetação, fauna, flora e aspectos sociais e econômicos. Essa atividade proporcionou uma troca muito rica no grupo e novas possibilidades de olhar para esses territórios e de fazer articulações com seus recursos.

Em um segundo momento, Rafael assume a fala, questionando ao grupo quais são os diferentes serviços presentes na oficina e em que regiões se encontram. Ele indica como pensar o trabalho em rede a partir da perspectiva do território faz com que a abordagem se torne diferente da usual, na qual prevalece a ideia de que a rede não funciona. Assim, partindo de suas experiências, o convidado traz reflexões sobre diferentes tipos de redes existentes, puxadas por serviços diversos, formais e informais, e com recortes temáticos. E, se aproximando do foco do público do encontro, apresenta um conceito de rede como um conjunto de ações, programas, serviços, projetos públicos e privados que atuam de forma integrada, garantindo os direitos das crianças e dos adolescentes.

Em seguida, Rafael convida o grupo a ampliar a definição de território como espaço físico e social onde crianças e adolescentes vivem e interagem, trazendo algumas provocações: como que o território influencia no processo de desenvolvimento dessas crianças e adolescentes?

Como possibilitamos às crianças e adolescentes estarem em seus territórios, potencializando quem são e podem ser?

Ele convoca a pensar sobre elementos, ausências e presenças, espaços e políticas públicas, a partir da perspectiva das crianças e do adolescentes que têm um papel significativo em seu cotidiano.

O encontro finaliza com uma breve exposição de ferramentas que podem fortalecer o reconhecimento e apropriação dos profissionais em relação ao território em que estão inseridos, visando potencializar o trabalho com as crianças, adolescentes e suas famílias.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

Rafael Sá Martins é educador social, graduado em história, especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo e Gestão e Planejamento de Processos Pastorais e Pedagógicos, e assessor da Tocando em Frente Assessorias, acompanhando o trabalho de organizações sociais que atuam com crianças e adolescentes na cidade de São Paulo.

Thamara Sauini é cientista ambiental, mestre e doutora em biologia química pela UNIFESP, técnica em turismo, e desde 2018, atua como educadora no Instituto Trilhas pesquisando áreas verdes, monitorando trilhas interpretativas e elaborando materiais educativos. 

OFICINA – O Trabalho com Famílias de Adolescentes em Acolhimento

OFICINA – O Trabalho com Famílias de Adolescentes em Acolhimento

No dia 29 de novembro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quinta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O trabalho com famílias de adolescentes em acolhimento". O encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Milena Maciel, psicóloga, mestre e doutora em psicologia. Milena inicia o encontro convidando as participantes a indicarem palavras que, para elas, definem o que é família. Partindo dessas ideias, que remetem a um lugar de cuidado e proteção e às próprias referências e vivências do grupo, ela provoca a pensar como, nem sempre, as famílias que convivemos e atuamos vão corresponder a esses elementos. A convidada aborda as várias formas de família que existem e as diversas relações que acontecem no contexto familiar, para além de um modelo padrão que ainda prevalece em muitos discursos. 

No primeiro momento do encontro, Milena promove uma reflexão sobre como a família se torna a nossa primeira noção de comunidade, onde iremos construir nossa história de vida e somos também construídos. Ela cita o Estatuto da Criança e adolescente (ECA) para ampliar o conceito, incluindo a família extensa, para além da nuclear, e outras figuras de referência com quem se tem vínculos de afinidade e afetividade. A partir da experiência de construção de uma árvore genealógica da família e também da apresentação de dados do Censo (IBGE), a convidada discute como a ideia de família na sociedade foi se transformando ao longo do tempo e das gerações, em termos de grau de escolaridade e educação, lugares ocupados por homens e mulheres e tamanho das famílias, por exemplo.

Milena aborda o termo “família desestruturada”, o qual circula hoje em muitos espaços e vem normalmente atrelado às famílias em situação de vulnerabilidade social e de pobreza, como forma de questioná-lo dentro do Sistema de Garantia de Direitos, considerando que a falta de estrutura não pode ser direcionada às famílias, mas sim a um sistema social que não oferece, enquanto políticas públicas, o suporte para que elas se mantenham. Diferentes modelos possíveis de famílias são apresentados, indicando como essas composições convivem no cotidiano e precisam ser reconhecidas no trabalho desenvolvido pelos Serviços de Acolhimento. 

Ainda nesse primeiro momento, Milena traz para discussão uma definição de adolescência, enquanto fase de transição da infância para a vida adulta e que, assim como a família, é uma construção social que se transforma a cada tempo histórico e contexto cultural. Aborda também como é um período caracterizado por muitas mudanças físicas e psicossociais e que há diversas formas de viver a adolescência, marcada pelas experiências que se pode ter acesso. Aqui, ela se utiliza da apresentação de dados de uma pesquisa com adolescentes brasileiros para refletir como eles próprios entendem a relação com as famílias hoje, atravessada por espaços de afeto e de escuta, mas que também pode ser lugar de violências e de violação de direitos.

Ao apontar a noção de vínculo como um laço que se constitui nas trocas, nos afetos e no cotidiano, Milena afirma como função do Serviço de Acolhimento ser um espaço de desenvolvimento para adolescentes, de reconstrução e fortalecimento de vínculos e de possibilidades de novas experiências. Ela indica alguns papéis que precisam ser assumidos nesse espaço, como de identificar e conviver com a diferença e com as múltiplas formas de famílias, e de partir daquilo que elas mostram como realidade para entender suas potencialidades, fazendo uma nova provocação: como podemos trabalhar com uma família, nas novas histórias que ela pode construir, se já partimos da ideia de que ela é incapaz? 

Em um segundo momento da oficina, a convidada propõe o compartilhamento de experiências desafiadoras vivenciadas com famílias de adolescentes pelos serviços, a partir de um exercício em que, primeiro, registrou-se essas situações e, depois, trocou-se os papéis entre os grupos para se pensar estratégias possíveis para lidar com as questões. 

Antes de encerrar, Milena ainda apresenta alguns pontos importantes de serem considerados no planejamento de propostas junto às famílias pelos Serviços de Acolhimento envolvendo, por exemplo, como esses espaços se preparam para escutar, recebê-las e o trabalho de ouvir o adolescente sobre suas vinculações e afetos para pensar junto com ele possibilidades de reinserção. Também compartilha algumas ações e recursos para se desenvolver com as famílias, enfatizando a potência do trabalho em grupo que possibilite espaços coletivos de aproximação e reflexão.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

Milena Maciel é psicóloga, mestre e doutora em psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela é também professora de Psicologia do Desenvolvimento Humano e coordena grupos de preparação para adoção e para apadrinhamento afetivo.

OFICINA – Sexualidade na Adolescência: Escutas Urgentes

OFICINA – Sexualidade na Adolescência: Escutas Urgentes

No dia 04 de outubro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Sexualidade na adolescência: escutas urgentes”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Dandara Gal dos Santos, mulher travesti, negra, gorda, da periferia da Zona Leste de São Paulo, psicóloga clínica, sexóloga e militante. Ela iniciou sua atuação na psicologia no terceiro setor com crianças e adolescentes em vulnerabilidade e hoje trabalha na clínica, especialmente com mulheres, pessoas pretas, gordas e lgbtqiap+, sob as óticas da psicologia decolonial e da terapia analítica junguiana.

Dandara inicia se apresentando e colocando a responsabilidade que é abordar essa temática com os profissionais dos serviços de acolhimento. Ela adianta que fará uma fala provocativa, já que acredita que dificilmente se produz transformação social sem incômodos e sem o questionamento dos sistemas que estão estabelecidos e, ao mesmo tempo, acolhedora, visando a troca e a construção de conhecimentos conjuntos. Em seguida, propõe uma divertida dinâmica de telefone sem fio, estimulando a reflexão na qual, mesmo perto e cochichando no ouvido, esbarramos com dificuldades em, de fato, escutar o outro.

Na primeira parte do encontro, a convidada faz uma proposta de definição de adolescência, como um período de transição entre a infância e a vida adulta, de intensas modificações hormonais, biológicas, psicológicas e sociais e quando, convencionalmente, aflora-se a questão da sexualidade. Ela indica também uma concepção de sexualidade, ao abordá-la como um aspecto central do ser humano e que abrange não só o ato sexual em si, mas também as identidades, os papéis de gênero, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução. Traz como ela se expressa em nossos pensamentos, desejos, valores, comportamentos e relacionamentos e, para ser compreendida de forma mais singularizada, precisa-se considerar a ideia de interseccionalidade: trata-se da relação entre diferentes características sociais, como gênero, raça e classe, que define que lugares que determinadas identidades podem ocupar socialmente e a quais violências estão submetidas.

A partir da convocação do grupo com perguntas, da exposição de narrativas e de dados de pesquisas e, também, de um exercício no qual todos foram convidados a refletir sobre as suas experiências sexuais, Dandara propõe que olhem para as particularidades da sexualidade na adolescência, especialmente, em situação de acolhimento, quais suas características e diferenças em relação a outras adolescências. Ela reforça, como uma dessas especificidades, o contexto de vulnerabilidades e de muitas rupturas que marcam o processo de desenvolvimento desses adolescentes, onde já foram privados de direitos fundamentais. E abre para a discussão de aspectos, tais quais, a reprodução de discursos machistas e misóginos sobre sexualidade em nossa sociedade, enquadrando homens e mulheres em papéis esperados; o perigo da ideia na qual adolescentes não têm sexualidade, gerando vergonha e dificultando o acesso a informações e espaços de cuidado e prevenção; e a dimensão da responsabilidade dos profissionais acerca daquilo que é dito, partindo de uma escuta que considere o lugar de quem fala e contribuindo com outros caminhos e discursos possíveis, que promovam mais consciência aos adolescentes em relação aos seus próprios corpos.

Em um segundo momento, como forma de sensibilizar para a importância de espaços de escuta quando falamos da sexualidade de adolescentes, Dandara parte de um exercício individual no qual convida os participantes a tocarem e sentirem uma parte do corpo, o que, de modo geral, se perde dentro de um cotidiano atribulado e tomado por cobranças. Aborda a ideia na qual torna-se difícil ouvir o outro, se não nos percebemos antes, acerca de quem somos e o que estamos fazendo em nossas vidas.

Nessa parte da oficina, Dandara levanta algumas questões para os participantes e complementa com dados de seus estudos e conhecimentos. A primeira delas é sobre o problema do silenciamento da sexualidade dos adolescentes, onde se discute a sexualidade como forma primordial de expressão e de estar no mundo, permeando as conversas, afetos e escolhas das pessoas. E como silenciar é contribuir para uma vulnerabilização ainda maior desses adolescentes, gerando impactos, como a quebra de direitos sexuais e reprodutivos, prejuízos na construção da identidade e da autonomia, a busca por fontes de informação ineficientes e deturpadas, que reforçam estereótipos de gênero, maior exposição à violência sexual e uma tendência à repressão da sexualidade do outro.

A convidada também dialoga sobre porque é tão difícil falar sobre sexualidade com os adolescentes, indicando um não-lugar que eles ocupam na sociedade, cheio de conflitos, e que confronta o adulto a encarar sua própria adolescência e a sua relação com a sexualidade, ao trabalhar com eles. Aborda a relevância de se considerar as estruturas de poder postas, como o patriarcado e o capitalismo, a partir de uma perspectiva colonial, moralista e cheia de tabus, que funda nossa sociedade e determina e controla o que é visto como certo e errado, incluindo o que diz respeito às questões de sexualidade e de gênero.

Dandara finaliza apresentando os benefícios de práticas de escuta e da educação sexual com os adolescentes, assim como indicando caminhos possíveis nesse trabalho. Nesse sentido, ela aponta para a importância de superar as concepções morais e religiosas que podem fazer parte da formação do profissional e olhar da perspectiva dos adolescentes, do que faz ou não sentido a eles, e da promoção de espaços de diálogo e escuta, sem imposição. Precisa-se reconhecer que falar de sexualidade é falar também de corpo, interesses, legitimação de desejos, de sonhar outros futuros e, principalmente, de prazer, para que este possa ser vivido de forma saudável e não violenta. Acredita que tudo isso pode contribuir para o desenvolvimento de adolescentes e adultos mais responsáveis consigo e com o outro, fortalecidos em suas identidades e autoestima, conscientes de seus próprios corpos, desejos, limites e da importância do autocuidado, rompendo, inclusive, com ciclos de violência.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

OFICINA – Acompanhamento de Grupo de Irmãos no Acolhimento

OFICINA – Acompanhamento de Grupo de Irmãos no Acolhimento

No dia 18 de outubro de 2023, o Instituto Fazendo História promoveu a terceira oficina presencial do Projeto Capacitação em Serviços de Acolhimento, apoiado pelo FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. O evento teve como foco 'Acompanhamento de grupo de irmãos no acolhimento' e foi direcionado a profissionais dos Serviços de Acolhimento, além de outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

Os palestrantes foram Deise Fernandes do Nascimento, mestra e doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP e fundadora e coordenadora Geral do Coletivo Círculo de Cultura; e Alan de Loiola Alves, doutor em Serviço Social pela PUC-RJ e PUC-SP, e especialista no Atendimento a Crianças e adolescentes vítimas de Violência Doméstica.

Para sensibilizar os convidados sobre a temática do encontro, os palestrantes realizaram uma dinâmica em que os participantes responderam o que veio à mente quando se pensa em irmãos. Ao explorarem diversas palavras associadas aos laços familiares fornecidas pelos participantes, eles estimularam a reflexão sobre os aspectos positivos, como laços afetivos e confiança, mas também sobre os desafios inerentes, como conflitos e inveja entre irmãos. Enfatizaram que ao lidar com grupos de irmãos no acolhimento, apesar das diferentes histórias, tratamos de relações próximas onde essas questões cruciais estão em jogo, incluindo a ambivalência entre o desejo de proximidade e o distanciamento entre eles

Alan inicia sua fala explorando a proteção como ponto central do debate. Ele introduz o sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes, destacando sua origem, os instrumentos normativos que o sustentam e sua relação com as políticas públicas. Em seguida, questiona a lógica tutelar, convidando o grupo a refletir sobre as consequências da separação de irmãos e a importância de considerar os desejos das crianças e adolescentes quanto ao convívio familiar e comunitário.

Além disso, enfatiza a necessidade de os profissionais dos serviços de acolhimento reconhecerem e articularem políticas que visem fortalecer os vínculos familiares, questionando a prática de acolhimento motivada pela pobreza, o que contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ele ressalta o direito desses jovens de serem criados em ambientes com vínculos, salientando o papel dos atores do Sistema de Proteção e de Garantia de Direitos em preservar esses laços desde a chegada até o desligamento do serviço.

Alan destaca a presença dos irmãos como fonte de apoio e referência para as crianças e adolescentes em acolhimento, facilitando o enfrentamento desta condição, ressaltando a importância de reconhecer os laços afetivos existentes, mesmo diante de conflitos. Ele destaca a individualidade de cada jovem, sem perder de vista a importância dos laços e do convívio familiar. Estar com os irmãos é poder viver a convivência familiar no serviço. Separar, em contrapartida, como se faz historicamente, é negar esse direito.

Deise, por sua vez, inicia com o poema “Verbo ser”, de Carlos Drummond de Andrade, estimulando a reflexão na qual, muitas vezes, ignoramos o que a criança sente, deseja e o que ela já é, ao criar narrativas de que ela só vai ser no futuro. Ela questiona falas que naturalizam e determinam que irmãos que brigam e têm conflito não se gostam e não poderão se dar bem, apontando como, no decorrer do processo de desenvolvimento, muitas pessoas podem passar e contribuir com o fortalecimento de vínculos, sendo o serviço de acolhimento um espaço fundamental nesse sentido. A convidada, ao reconstruir com o grupo as principais ações feitas pelos serviços para preservação dos vínculos familiares e comunitários, indica como é papel deles identificar e reforçar os vínculos e afetos presentes nessas relações.

Durante sua fala, Deise destaca a necessidade de pensar estrategicamente ações que promovam relações de companheirismo entre irmãos. Ela aponta a importância de não sobrecarregar os irmãos mais velhos, evitar comparações e estimular o diálogo e atividades compartilhadas para manter a convivência familiar no serviço de acolhimento. Aborda também que é necessário enxergar essas relações a partir das histórias singulares que se apresentam, sem se deixar pautar pelos próprios relacionamentos pessoais e experiências com os irmãos por parte da equipe. 

No segundo momento da oficina, Deise e Alan apresentam uma pesquisa feita com crianças e adolescentes que viveram o acolhimento junto aos seus irmãos, baseada nas falas deles sobre essas relações. Eles incentivam o compartilhamento de experiências e perguntas dos participantes sobre esse tema, abrindo espaço para um diálogo enriquecedor.

Confira o vídeo com a oficina completa: 

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Deise Fernandes do Nascimento é assistente social, mestra e doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP, fundadora e coordenadora Geral do Coletivo Círculo de Cultura.

Alan de Loiola Alves é mestre e doutor em Serviço Social pela PUC-RJ e PUC-SP, especialista no Atendimento a Crianças e adolescentes vítimas de Violência Doméstica e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Criança e Adolescente - ênfase no Sistema de Garantia de Direitos (NCA-SGD) – Programa de Pós Graduação em Serviço Social - PUC/SP.

OFICINA –  Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do serviço de acolhimento

OFICINA – Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do serviço de acolhimento

No mês de dezembro, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA), realizou a oficina "Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do Serviço de Acolhimento" nas cidades de Guarulhos e Campinas. Participaram as profissionais Ana Carolina Barros Silva, psicóloga e psicanalista, com doutorado em Psicologia, Linguagem e Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris VIII - Vincennes (França); e Luciana Braga, psicóloga, psicanalista e mestre em educação.

A oficina teve início com a introdução das profissionais. Ana apresentou a proposta de trabalho que realiza na "Casa de Marias" e a centralidade no atendimento a mulheres negras e periféricas, que, frequentemente, não recebem cuidados na mesma medida em que cuidam. Em seguida, foram apresentados dados estatísticos sobre causas de adoecimento no contexto de trabalho.

Os dados mostraram que o recorte de gênero e raça são fatores importantes a serem considerados. De acordo com a prática clínica, as mulheres adoecem mais que os homens (principalmente em relação à depressão), o que não exclui a possibilidade dos homens também serem afetados por tais questões, embora muitas vezes não consigam sinalizar ou verbalizar isso devido ao sistema patriarcal em que estamos inseridos.

No momento de interação, foram distribuídas folhas, lápis e canetas aos participantes, propondo que refletissem se já haviam adoecido alguma vez por conta do trabalho, e que eles escrevessem sobre suas experiências. Após a atividade, foram apresentados os impactos da Necropolítica nas Políticas de Assistência Social e de Saúde Pública no contexto brasileiro, incluindo desvalorização salarial e formas de acesso e cuidado que contribuem para o adoecimento dos trabalhadores.

Para encerrar o primeiro bloco da oficina, Ana e Luciana dividiram os participantes em grupos por sorteio, com o objetivo de realizar um Diagnóstico Institucional - identificando problemas estruturais que os grupos avaliam como geradores de impacto negativo no bem-estar físico e mental da equipe de colaboradores das instituições onde atuam.

O segundo bloco da oficina foi conduzido pela profissional Luciana, que baseou sua apresentação em saberes decoloniais, incluindo a Filosofia Ubuntu, conhecimento de nossa história como um movimento de ancestralização das relações, utilizado há séculos, e hoje considerado inovador.

Com base nas propostas de bem viver e no conceito de Ubuntu apresentados, os grupos reuniram-se novamente para pensar e planejar coletivamente ações que poderiam ser implementadas nas instituições onde atuam, com o intuito de iniciar ou ampliar políticas de bem-estar para as equipes de colaboradores.

A oficina foi finalizada com uma grande roda de conversa entre todos os participantes, onde os grupos puderam compartilhar as discussões realizadas.

Ana Carolina Barros Silva, psicóloga, psicanalista com doutoramento em Psicologia, Linguagem e Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris VIII - Vincennes(França), pesquisadora e consultora em saúde mental da população negra, coordenadora- geral da Casa de Marias.

Luciana Braga, psicóloga,psicanalista,e mestre em educação, atua há cerca de 20 anos na clínica com crianças e adolescentes e na formação de profissionais da educação e do acolhimento psicossocial, com foco em uma perspectiva feminista e decolonial.

Assista à oficina na íntegra: clique aqui.

OFICINA–   O Racismo no contexto do Acolhimento

OFICINA– O Racismo no contexto do Acolhimento

No mês de novembro de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “O Racismo no contexto do Acolhimento" nas cidades de Guarulhos e Campinas. Foram convidadas as profissionais Maria Ribeiro, cientista social e doutora em Comunicação e Semiótica, pela PUC e Universidade de Paris, e Carla França Ferreira Rosa, psicóloga com atuação na área clínica e social e especialista em Saúde da Família. 

Maria Ribeiro deu início à apresentação com o conceito de marcadores sociais da diferença, convidando os presentes a refletir sobre o racismo a partir da perspectiva do nascimento das pessoas negras. Em seguida, falou sobre grupos de pessoas cêntricas; a figura do homem branco cisgênero; sistema de opressão da branquitude; racismo fenotípico; pessoas não brancas e a maneira como a sociedade contemporânea se organiza a fim de manter o sistema de privilégios.

A partir da apresentação de cenas com as quais se deparou em seus processos pessoais e de pesquisa, fez marcações importantes do que considerar ao abordar a questão racial, indicando que devemos considerar a partir da gestação. Ressalta ainda a importância do registro de informações do quesito de raça/cor para pensar as políticas públicas e especificidades da população negra. Aborda também o conceito de humanização no processo de cuidado, a categoria mãe na relação com a qual a nossa sociedade se organiza, e apresenta a lógica comunitária de estar no mundo como uma tecnologia de sobrevivência.

Na sequência, Carla dá início a sua fala, provocando os profissionais a repensar sobre suas práticas de trabalho cotidianas. Apresenta o contexto sócio-histórico, no qual aborda o papel do educador social no trabalho com criança e adolescente e sua família, e faz a marcação da importância dos profissionais se perceberem no processo, a partir do reconhecimento de si antes de olhar para o outro. Conceitos de branquitude e racismo institucional também foram discutidos, para indicar a importância de reconhecer que não somos iguais e que é a partir disso que podemos atuar de modo mais assertivo. 

No segundo momento, o grupo foi sensibilizado por meio de vídeos e convidados a compartilhar suas práticas de trabalho relativas à questão racial. A partir da partilha coletiva, as profissionais retomam alguns conceitos trazidos inicialmente e aprofundam as questões, a fim de auxiliar nas reflexões e construção. de conhecimento. 

O encontro acaba com o reconhecimento da importância de falar sobre o racismo no contexto de trabalho, uma vez que é algo estrutural e atravessa todos nós, bem como a necessidade de se pensar práticas de enfrentamento.

“Já que não podemos fazer o gesto de voltar diante do útero das pessoas que nos gestaram, nós podemos experimentar o renascimento, toda vez que estendemos nossa escuta em direção ao outro [...] a fim de garantir que crianças e adolescentes tenham recursos para fazer o enfrentamento a essas violências” 

Maria Ribeiro, 2023.

Assista à oficina na íntegra: https://youtu.be/2XQjMhOZC6w

Maria Ribeiro é cientista social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre (PUC-SP) e doutora (PUC-SP/Paris-Diderot) em Comunicação e Semiótica. Professora no Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (FFLCH/USP), e na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (COGEAE/PUC-SP). Redatora-geral do Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (SIAPARTO), do grupo executivo da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) e do Conselho do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas/FFLCH-USP) e  analista de formação do Instituto Amma Psique e Negritude. 

Seu relatório de estágio pós-doutoral (FFLCH-USP), intitulado "Ginecológicas: o nascimento negro para além da tragédia", foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (ProAC), na categoria “ensaio de não-ficção” e publicado em 2023.

Carla França Ferreira Rosa é psicóloga com mais de 10 anos de vivência na área clínica e social. Especialista em Saúde da Família e educadora social com ampla experiência em formações para profissionais de equipamentos sociais e instituições de ensino, (Instituto Fazendo História, Marista Escola Social, Colégio São Luís, Instituto Tomie Ohtake, EMESP Tom Jobim, Fundação Escola de Sociologia e Política de SP, SENAC Santo André entre outros). 

Desde 2022, atua como co-coordenadora de Grupos de Reflexão do Curso Teórico-Vivencial: Psicologia e Relações Raciais no Instituto Amma Psique e Negritude. É integrante da "Odô Consultoria Viva".

 

OFICINA –  Adoção – Reflexões Sobre as Práticas de Trabalho

OFICINA – Adoção – Reflexões Sobre as Práticas de Trabalho

No mês de outubro de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “Adoção - Reflexões Sobre as Práticas de Trabalho” nas cidades de Guarulhos e Campinas. Participaram como convidadas as profissionais Ana Clara Fusaro Silva Rodrigues, especialista em psicoterapia psicanalítica pelo CEPSI e mestre em Ciências pelo Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP); e Larissa Alves, adotiva, co-fundadora da Associação Brasileira de Pessoas Adotadas e do Adotivas Podcast.

Ana Clara deu início ao encontro apresentando sua experiência na graduação com grupos de pretendentes à adoção na cidade de Uberaba – MG, encaminhados através da Vara da Infância e Juventude após habilitados e, posteriormente, na cidade de São Paulo, em seu projeto de mestrado na USP. Enfatizou a adoção sob o ponto de vista psíquico onde, no momento em que ocorre a adoção, cria-se uma relação entre família de origem, família adotiva e a criança. É o momento em que as histórias se atravessam, mesmo que as famílias não se conheçam e nunca tiveram nenhum tipo de contato. Sendo assim, todo o histórico da criança ou adolescente incluindo os motivos do acolhimento e destituição do poder familiar, não devem ser desconsiderados ou ignorados pelos pretendentes a adoção, afirmou a profissional.

Outros pontos mencionados por Ana Clara são os dados de pessoas habilitadas atualmente: a maioria (cerca de metade) reside na região Sudeste do país e são famílias compostas por casais heterossexuais (casados ou sob união estável). Além disso, muitos desses casais buscaram a adoção por não conseguirem ter filhos biológicos, com histórico de frustrações e perdas, enfrentando ainda a resistência por parte de seus familiares quando tomam esta decisão. Em seguida, faz a reflexão de que o fato de famílias e pessoas estarem habilitadas para adoção não significa que estão prontos. Finalizou sua fala frisando a importância do cuidado nos processos de transições, sendo que as equipes de serviços de acolhimento tem o papel fundamental na transmissão de conhecimentos sobre a criança/adolescente (história, rotina, gostos, registros, saúde).

Larissa deu seguimento à oficina falando sobre a falta de referenciais sobre o que é ser adotivo, um exemplo disso é que só existe uma associação de adotivos no país. Em relação ao trabalho com famílias adotivas, mencionou a importância do acompanhamento efetivo nos pós adoção por parte do judiciário, a importância da preservação das origens e histórias de vida de adotivos e a falta de amparo legal que encontram ao tentar buscá-las. Além disso, ressaltou a falta de acompanhamento nas adoções compartilhadas em que algumas partes não cumprem o acordo, rompendo de forma drástica o vínculo entre irmãos e provocou a reflexão: de que forma podemos proporcionar o reencontro entre eles sem o amparo da lei?

A profissional enfatizou que os efeitos a longo prazo dos rompimentos de vínculos que os adotivos passam ao longo da vida não são considerados pela maioria dos profissionais que atuam nos serviços de garantia de direitos. As crianças ou adolescentes sempre precisam se adaptar à vida dos pretendentes e questões importantes como raça, cultura, linguística, entre outros devem ser considerados.

Larissa finalizou sua fala com a reflexão do quanto é indispensável a desconstrução da romanização e senso comum sobre adoção. Para isso, é necessário que os adotivos tenham espaço e visibilidade para falarem sobre o assunto e que os pretendentes sejam de fato preparados e acompanhados para esse processo, sem a intenção de que um(a) filho(a) virá para atender suas expectativas.



Ana Clara Fusaro Silva Rodrigues é psicóloga pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), especialista em psicoterapia psicanalítica pelo CEPSI e mestre em Ciências pelo Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP).

Larissa Alves é adotiva, jornalista, bacharel em direito, produtora audiovisual, co-fundadora da Associação Brasileira de Pessoas Adotadas e do Adotivas Podcast, escreve sobre perspectiva adotiva no @olharadotivo no Instagram, é produtora do canal Adotados no Youtube e pesquisa sobre emoções e direitos adotivos.

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OFICINA – Os Limites Do Educador no Trabalho com Adolescentes

OFICINA – Os Limites Do Educador no Trabalho com Adolescentes

No dia 19 de setembro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Sob o título "Os Limites do Educador no Trabalho com Adolescentes", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. O convidado José Nildo Alves Cardoso, um advogado, professor, assessor parlamentar, teólogo e especialista em Direito das Crianças e Adolescentes, conduziu uma jornada de reflexão profunda sobre os desafios e responsabilidades do trabalho com adolescentes vulneráveis.

O encontro começou com saudações e agradecimentos, seguidos pela apresentação de José Nildo, que compartilhou sua vasta experiência e envolvimento no campo da educação social. A plateia foi convidada a expressar suas expectativas e preocupações para o dia. Zé destacou que ser educador social não é apenas um emprego, mas uma filosofia de vida. Educar é um compromisso que transcende o horário de trabalho e exige intencionalidade na promoção da transformação social e da liberdade dos educandos.

A oficina abordou a necessidade de reconhecer o adultocentrismo e tratar os adolescentes como indivíduos em peculiar desenvolvimento. A ênfase foi dada à importância de criar um ambiente de aprendizado que desperte a curiosidade e o encantamento pelo saber.

A discussão se concentrou em definir o que são limites, quem os estabelece nas relações humanas, e como os educadores sociais devem ter autoridade sem serem autoritários. O conceito de ética profissional foi abordado, incluindo questões éticas e dilemas que os educadores sociais podem enfrentar ao definir limites adequados.

José Nildo também explorou a transferência (quando os adolescentes projetam emoções nos educadores) e a contratransferência (reações emocionais dos educadores) e como lidar com esses processos.

Foi lembrado a importância do autocuidado, que influencia diretamente o trabalho com adolescentes. Sinais de esgotamento e burnout foram discutidos, bem como a busca por apoio quando necessário.

A Oficina incluiu casos para estimular discussões sobre desafios éticos e práticos enfrentados pelos educadores sociais. O encerramento envolveu a abertura para perguntas, discussões e compartilhamento de experiências entre os participantes.

José Nildo convidou os educadores a compartilhar um compromisso pessoal sobre como aplicar as estratégias discutidas em seu trabalho. O encontro foi uma oportunidade única para reflexão e aprendizado, deixando a todos com insights valiosos sobre os limites do educador ao trabalhar com adolescentes.

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OFICINA – Adolescentes em Medida Socioeducativa

OFICINA – Adolescentes em Medida Socioeducativa

No dia 24 de agosto de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a segunda oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Adolescentes em medida socioeducativa”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Ricardo Rentes, Psicólogo, Psicanalista, Mestre em Ciências Humanas, Sociais e Criminologia pela UFP do Porto – Portugal, Professor dos Cursos de Especialização em Psicanálise Winnicottiana e em Saúde Mental e Saúde Coletiva, ambos pela Universidade Cruzeiro do Sul, e do Curso de Especialização em Psicologia Jurídica pela Universidade São Camilo. Ele atua também como Supervisor nas áreas de Saúde Mental e Assistência Social e é autor do livro: “Os Meninos de Heliópolis - O ser e fazer de adolescentes em conflito com a lei e a sintomática criminal”. 

Ricardo inicia sua fala fazendo o convite para que todos os presentes pudessem “alcançar o rosto dos meninos e meninas em conflito com a lei”, os quais se encontram, em função do fenômeno criminal, dentro de um serviço de medida socioeducativa. Propõe um percurso de aproximação de suas vivências, marcas e manifestações e de diálogo com aquilo que ocorre a partir dos olhos desses adolescentes, em um encontro cheio de intenção e direção para o trabalho. 

O especialista pontua como, a partir dos 12 anos de idade, o adolescente que cometer um ato que vai contra as normas sociais de convivência é enquadrado como infrator e terá 6 possibilidades de medidas socioeducativas, as quais podem ser desde uma advertência, até a internação, situação de privação de sua liberdade. E que a gravidade desta é marcada por um recorte étnico, social e econômico, de modo que aos mais pobres, periféricos e pretos são reservadas as medidas mais severas. Ele aborda, a partir da apresentação de suas experiências profissionais, como dentro dos Serviços de Acolhimento podemos identificar traços, tais quais embates com colegas, posturas desafiadoras e uso abusivo de substâncias, que podem ser potenciais para o desenvolvimento da criminalidade e de uma vivência posterior em ato infracional, mas que têm algo em comum: uma busca por algo que lhe é de direito.

A partir daí, Ricardo propõe que se olhe para o ato infracional, tido como antissocial, como uma manifestação sintomática, ou seja, um gesto que está dizendo algo. E sugere uma questão para direcionar o olhar: o que esse adolescente quer dizer com aquele tipo de postura? Dialoga, então, com as bases teóricas de Winnicott, um grande pensador da história da Psicanálise que estudou de maneira profunda esse fenômeno, partindo de sua etiologia, de como e porque ele nasce e se desenvolve. Winnicott parte da observação das manifestações de crianças evacuadas de Londres, na segunda Guerra Mundial, as quais tiveram um rompimento abrupto de seus vínculos familiares, sociais e comunitários, para a construção de sua Teoria da Tendência Antissocial. Ele desenvolve a percepção de como a unidade familiar proporciona uma segurança indispensável à criança e a sua ausência ou rompimento pode trazer efeitos ao desenvolvimento emocional e acarretar danos à sua personalidade. 

No decorrer do encontro, Ricardo traça paralelos entre essa teoria e a situação de acolhimento: com essa medida, o senso de pertencimento da criança ou adolescente é abruptamente rompido e há necessidade interna de realinhar emocionalmente seu funcionamento para sobreviver nessa realidade, nova e estranha, numa perspectiva coletiva e num lugar ainda de invisibilidade para a individualidade, característica do modelo institucional. Ele aborda como o entrar em uma instituição já é um convite ao adoecimento, por melhores que sejam suas condições: parte-se de uma situação traumática e de violência, com o rompimento do vínculo familiar, que mesmo que considerado tóxico para a criança ou adolescente, faz parte de sua constituição.

Essa perspectiva acompanha todo o caminho percorrido pelo convidado na oficina, norteando o olhar para as crianças e adolescentes institucionalizados e que apresentam sintomas de tendência antissocial. Ele traz como precisamos considerar que, nesses casos, a pessoa tinha algo que, para bem ou mal, a estruturava e a sustentava no mundo e por algum motivo isso é perdido, e que os sintomas aparecem como forma de sinalizar que tem algo errado acontecendo. Reforça, trazendo casos de suas vivências profissionais, como é necessário dar espaço para que os sentimentos de raiva e a sua agressividade apareçam, em um ambiente seguro e que sobreviva a essa destrutividade, oferecendo também contornos, continência e limites. Ao contrário, um ambiente repressor embota e convida a criança ou adolescente à não existência. 

Durante sua fala, Ricardo vai acolhendo e dialogando com as questões e relatos dos participantes, acerca de suas experiências, envolvendo, entre outros assuntos, o papel da escola no olhar para adolescentes em conflito com a lei, a relação com o sistema judiciário, o lugar da família, o fenômeno de patologização de adolescentes e as possibilidades de atuação profissional: como sustentar o investimento em um adolescente onde se vê poucas perspectivas de rompimento com a lógica infracional? 

Ele também atenta para a importância de criar espaços seguros para que a criança ou adolescente possa dizer o que representa para ele essa família, para que o profissional compreenda do que ele foi separado, que envolve outras representações internas possíveis da mãe ou do pai, para além da versão que violou direitos. E que um dos principais pontos da teoria antissocial é o fator esperança e o perigo de a criança ou adolescente perder a esperança de resgatar aquilo que foi perdido. Muitas vezes, o gesto infracional indica que a esperança de recuperar algo que lhe é de direito ainda existe, mesmo que o caminho que encontra para demonstrar isso não seja socialmente bacana e aceitável. Ele reforça que, enquanto profissional, é preciso ter clareza que não se pode mudar o mundo, mas sim identificar algumas questões e direcioná-las, reconhecendo o outro e sua história, para que ele também possa se enxergar. 

Ricardo finaliza apresentando as principais intervenções, resultados e descobertas de sua pesquisa-ação com adolescentes em conflito com a lei em Heliópolis, na qual analisa histórias e desenhos construídos por eles e que deu origem ao seu livro. Ele relata, a partir de falas desses adolescentes, como o crime, muitas vezes, é visto como a única maneira que eles encontram de ingressar no universo urbano e que é necessário se criar oportunidades e alternativas para que não precisem infracionar para que se sintam parte da cidade. Ele encerra a oficina, fazendo a leitura de um poema e, mais uma vez, trazendo a voz desses meninos e meninas.

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 OFICINA: Os Desafios Da Atualidade No Trabalho com a Adolescência

OFICINA: Os Desafios Da Atualidade No Trabalho com a Adolescência

No dia 26 de julho de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a primeira oficina do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Os Desafios da Atualidade no Trabalho com a Adolescência”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

O Instituto Fazendo História teve a honra de convidar o educador social, Rafael Parente Sá Martins, para conduzir esse encontro enriquecedor. Rafael é graduado em história e especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo e Gestão e Planejamento de Processos Pastorais e Pedagógicos. Além disso, ele é assessor da Tocando em Frente Assessorias, onde acompanha o trabalho de organizações sociais que atuam com crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Rafael também desempenha um papel fundamental como indigenista junto aos povos indígenas do estado de São Paulo.

O encontro foi marcado por uma abertura que visou alinhar as expectativas junto aos profissionais dos serviços da rede socioassistencial. Rafael destacou a importância de compreendermos o Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA estabelece que consideramos como crianças aqueles com até 12 anos, enquanto o termo adolescente abrange indivíduos de 13 a 17 anos. No entanto, Rafael chamou a atenção para uma perspectiva mais ampla ao mencionar o Estatuto da Juventude, que define como jovens as pessoas de 15 a 29 anos. Nesse contexto, ele provocou uma reflexão mais profunda, concentrando-se especialmente no público de 15 a 17 anos, faixa etária na qual os profissionais muitas vezes enfrentam desafios mais significativos.

Durante a oficina, Rafael provocou reflexões profundas sobre a sociedade e suas visões em relação à adolescência:

  • Visão da Juventude como Biológica: A puberdade é o foco.

  • Visão da Juventude como Transição: Uma fase de transição da infância para a vida adulta.

  • Visão da Juventude como Problema: A sociedade tende a culpar os jovens pelos problemas.

  • Visão da Juventude como Solução: A projeção de responsabilidades em um mundo ideal.

Ele ressaltou que a adolescência é um conceito criado pela sociedade e é uma categoria social marcada por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de identidades, o que exige experimentação intensa em diversas esferas da vida.

Rafael também compartilhou um estudo que coloca os adolescentes como uma "lupa" da sociedade, tornando os problemas sociais mais evidentes na juventude, como o desafio da drogadição. No entanto, ele provocou os participantes a repensar o tema da oficina, originalmente divulgado como "Os Desafios da Adolescência na Atualidade". A conclusão foi que os desafios não estão nos adolescentes, mas sim em nossa capacidade geracional de lidar com as adolescências. São esses conflitos que moldam o mundo.

Rafael traz uma reflexão sobre o artigo 101 da eca, onde é da ênfase que é uma política de proteção, mostrando que existem crianças que estão no Saica de uma forma punitiva, e na protetiva. Rafael continua trazendo um olhar sobre as mudanças que a lei da adoção 12.010 trouxe como deve ser o acolhimento institucional. Rafael aproveita para trazer um pouco de como eram os serviços antes das suas regulamentações, demonstrando como as instituições totais ou orfanatos se organizavam de forma desumanizada. Não sendo uma compreensão de uma ação de políticas públicas para proteger o adolescente, mas sim um sistema de abrigamento de acolhimento institucional que vem criminalizando a pobreza, ou a questão de saúde mental, ou de drogadição, não entendendo que muitas vezes o trabalho tem que ser feito no território com outras políticas públicas.

Para finalizar nosso encontro, Rafael propõe uma dinâmica com objetivos de trabalhar questões que marcam o trabalho com os adolescentes de hoje e para provocar um tanto das nossas fantasias, Rafael compartilha o trabalho do fotógrafo James Mollison que viajou o mundo fazendo registros de onde algumas crianças dormem. 

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

OFICINA– Preparação de Adolescentes para o Desacolhimento por Maioridade

OFICINA– Preparação de Adolescentes para o Desacolhimento por Maioridade

No mês de setembro de 2023 o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “ Preparação de adolescentes para o desacolhimento por maioridade” nas cidades de Guarulhos e Campinas.

Foram convidados os profissionais Vagner Souza, educador popular, que desde 2003 atua com crianças e adolescentes, e Sidnei das Neves, psicólogo e cofundador do Coletivo Cultural Poesia na Brasa.

Os profissionais deram início ao encontro com a reflexão de que os Serviços de Acolhimento atualmente devem garantir além dos direitos essenciais, também o direito de ser Criança e Adolescente.

Questionaram como as equipes podem acolher e legitimar os sentimentos, angústias, medos, frustrações e dores de adolescentes em uma cultura de institucionalização, onde os adolescentes são reordenados de um serviço para o outro, sem que estabeleçam qualquer vínculo com qualquer equipe.

Outro ponto mencionado por Vagner é o sentimento de culpa que os adolescentes têm pelo motivo do acolhimento. É necessário que todos os profissionais do serviço tenham um olhar atento e crítico para que o discurso de culpabilização quase sempre já atribuído às famílias de origem, não seja também reproduzido para as crianças e adolescentes, uma vez que as legislações dizem que a proteção é dever do Estado, da família e sociedade.

Sidnei dá seguimento à oficina indicando que as histórias de crianças e adolescentes não se iniciam a partir do acolhimento, mas são uma parte dela.

Segundo ele, algumas experiências que foram importantes no trabalho com desacolhimento por maioridade foram ouvir e compartilhar com os adolescentes as experiências de jovens que já estavam desacolhidos.

Os profissionais compartilharam que é importante pensar os adolescentes como produtores de soluções (e não só de problemas), incluindo-os nas decisões do que acontece no serviço (com a mediação dos

trabalhadores): manutenção do espaço e organização da rotina. Isso é importante para a construção de identidade e autonomia.

Vagner enfatiza que a autonomia é sobre o poder de escolha, não apenas sobre ter uma quantia de dinheiro guardado. Isso só é possível através do aumento do repertório - do acesso a lugares e outras culturas - ampliando assim as possibilidades de escolhas.

Os profissionais encerraram a oficina com o exemplo prático de jovens que, ao completar a maioridade, decidiram morar juntos em comunidades, uma vez que já havia a convivência entre eles. Dessa forma, esses jovens se organizavam de forma coletiva e cada um colaborava da forma em que era possível. Enfatizam que não há uma receita ou fórmula para este trabalho, pois há ainda casos mais complexos que necessitam ser pensados em outros encaminhamentos e estratégias.

Vagner Souza é Analista Institucional e Educador Popular. Desde 2003 atua com crianças e adolescentes em diversos serviços, tais como: SAICA, SMSE, entre outros. Desde 2011, desenvolve trabalhos de formação e supervisão institucional para profissionais do sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes.

Sidnei das Neves é Psicólogo, Gerente do SPVV Claret II Brasilândia, Terapeuta Comunitário, Produtor Cultural, Poeta, Escritor e Cofundador do Coletivo Cultural Poesia na Brasa.

Assista a oficina na íntegra: clique aqui.

OFICINA - O trabalho com grupos de irmãos no serviço de acolhimento.

OFICINA - O trabalho com grupos de irmãos no serviço de acolhimento.

No mês de agosto de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “ o trabalho com grupo de irmãos no serviço de acolhimento” nas cidades de Guarulhos e Campinas.

Tivemos como convidadas as profissionais Eliana Kawata, psicóloga judiciária chefe do Setor de Psicologia da Vara Central da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de SP e Deise Fernandes do Nascimento, Mestra e Doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência, pela UNIFESP.

Eliana deu início ao encontro apresentando aspectos históricos do acolhimento a partir do Código de Menores, Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Falou sobre a Avaliação e atualização do Plano Nacional de Convivência Familiar 2019 e destacou as 3 categorias analíticas que foram utilizadas para avaliar os Serviços, por exemplo: como estavam mantendo os vínculos familiares; como estavam trabalhando o fortalecimento de vínculos parentais e familiares e como eles mantêm os vínculos comunitários. Indicou as ações da política de atendimento estabelecidas pelo ECA, ressaltando a importância de estimular o acolhimento de irmãos e realizar campanhas de adoção de grupo de irmãos de maneira conjunta. Destacou que, diante de adversidades, o grupo que nos é familiar proporciona conforto, de modo que os sujeitos possam vivenciar situações difíceis como a de acolhimento. Mencionou que, em casos de adoção, a manutenção de grupos de irmãos tem sido muito efetiva, falou sobre os desafios em se encontrar famílias que adotem grupos de irmãos e também das dificuldade de se garantir a manutenção de contato após adoção.

A palestrante finalizou sua explanação indicando a importância de se manter os laços fraternos e a importância de haver consciência sobre isso. Aponta que temos tecnologia social para essa efetivação e reconhece que há um caminho longo a se percorrer de modo que possamos evitar tais rompimentos.

Deise dá seguimento na oficina indicando que sua explanação seria a partir do cotidiano de trabalho nos serviços de acolhimento. Após a leitura do poema “Verbo ser”, de Carlos Drummond de Andrade, a palestrante provoca o grupo a refletir sobre o sujeito criança e que, ao se trabalhar com grupos de irmãos, deve-se considerar a individualidade de cada criança e ou adolescente.

A profissional aborda o contexto histórico de modo breve, destacando a importância de considerarmos o recorte racial no trabalho, considerando que há desdobramentos do processo de colonização presente em práticas atuais. Sua fala também foi norteada a partir de documentos normativos para abordar a importância dos vínculos entre irmãos e família, dando ênfase no trabalho com grupo de  irmãos. Deise fez uso de vários exemplos e situações tidas como corriqueiras no atendimento de crianças e adolescentes para falar sobre: a importância da escuta empática e a não idealização das relações fraternas. Convidou os profissionais a revisitar suas memórias de situações vivenciadas por eles na relação com seus irmãos e como tais vivências podem atravessar o fazer deles no Serviço de acolhimento.

A profissional também compartilhou várias situações que podem potencializar a rivalidade e despertar sentimentos de inferioridade ou superioridade entre irmãos, bem como o tratamento de grupos fraternais, que muitas vezes não reconhece a individualidade de cada um. 

Finalizou sua explanação compartilhando casos e situações que apresentavam condições e estratégias possíveis para promover o fortalecimento do vínculo entre os irmãos.

Eliana Kawata é Psicóloga judiciária chefe do Setor de Psicologia da Vara Central da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de SP, graduada pela USP/SP, mestre em Psicologia Social pela PUC/SP, especialista na área de Violência Doméstica contra crianças e adolescentes pelo Laboratório de Estudos da Criança da USP/SP, especialista em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae.

Deise Fernandes do Nascimento é Assistente Social, Mestra e Doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência, pela UNIFESP. Fundadora e Coordenadora Geral do Coletivo Círculo de Cultura.

Assista à oficina na íntegra: https://youtu.be/GrJdn1Y1XGI

OFICINA - O trabalho com famílias de origem

OFICINA - O trabalho com famílias de origem

No mês de julho de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “O trabalho com Famílias de Origem” na cidade de Guarulhos e Campinas. Tivemos como convidadas as profissionais: Gracielle Feitosa de Loiola, que atua nas áreas da assistência social e judiciária, mestre e doutora em Serviço Social pela PUC-SP, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Crianças e Adolescentes - NCA/SGD e autora do livro: Produção sociojurídica de famílias "incapazes": do discurso da "não aderência" ao direito à proteção social, editora CRV, 2020; e Thais Berberian, graduação e mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com experiência profissional na política de saúde e no sociojurídico. Os principais temas de pesquisa de Berberian são a judicialização das expressões da questão social, a criminalização da pobreza e provocações sobre o uso do conceito negligência face ao Estado de desproteção social.

As profissionais iniciaram a oficina com duas dinâmicas com o grupo de profissionais presentes e realizaram uma explanação compartilhada, articulando os conceitos teóricos, a experiência de pesquisas e situações cotidianas de suas práticas profissionais.

Iniciaram trazendo a importância da intencionalidade no trabalho com famílias de origem, que deve ser acompanhada da flexibilidade, uma vez que os casos nos Serviços de Acolhimento já chegam tipificados, a depender dos motivos dos acolhimentos. Thais e Gracielle também trouxeram a reflexão sobre os modelos de famílias que estão presentes no imaginário dos profissionais que as atendem. Além disso, apontaram que o reconhecimento de famílias plurais deve ser para além das legislações, ou seja, por todos os profissionais que compõem a rede de atendimento para que as compreensões subjetivas e individuais não atravessem a relação com o outro nos atendimentos às famílias de origem.

Imagem da atividade.

Afirmam que outro ponto importante a ser refletido sobre a prática profissional é a elaboração do PIA (Plano Individual de Atendimento), que deve ter planos e metas acessíveis e possíveis para as famílias na qual os serviços atendem. Dentro de tais reflexões, é importante considerar e compreender o contexto histórico e os atravessamentos de raça, gênero e classe e quais as dimensões disso.

Outro aspecto importante levantado pelas convidadas foi sobre a importância da escuta profissional e como será materializada na elaboração de relatórios. Pontos de vista, lugares e vivências podem trazer aos profissionais visões únicas do que é vínculo, proteção e cuidado, podendo assim interferir na elaboração de relatórios e pareceres.

Finalizaram a explanação com a consideração sobre vínculo e a confiança para que as famílias de origem possam contar suas histórias. Destacam a importância da escuta qualificada, crítica e fora da lógica de “reajustar” as famílias e para isso é relevante que a comunicação seja sempre ético política, ou seja, sem ameaças, mentiras e intimidações.


Assista à oficina na íntegra:

OFICINA - 13/07/2023 - O TRABALHO COM FAMÍLIAS DE ORIGEM - CONDECA GUARULHOS