Quando alguém pensa em adotar uma criança, em geral, sonha com uma família feliz e completa, vivendo momentos de sorrisos e carinho. Quem sonha com um projeto de família raramente inclui nas cenas imaginadas as birras, os confrontos, a desobediência e a bagunça que fazem parte da rotina de pais e filhos (independente se biológicos ou adotivos).

A fase de adaptação da criança em uma nova família pode durar um longo tempo e ser desgastante emocionalmente, demandando paciência, segurança e muito afeto por parte dos adultos. São expectativas e histórias de todos os lados que levam um tempo até se integrar. Infelizmente, por despreparo e/ou falta de um apoio especializado, alguns pais adotivos não suportam este período e a distância entre a família ideal e a real. Em casos extremos, desistem da adoção e a criança volta para o serviço de acolhimento.

A justiça brasileira não reconhece o conceito de “devolução” de uma criança que tenha sido adotada. A adoção é um processo irrevogável e a ideia de devolução seria equivalente ao abandono de um filho biológico. A lei, no entanto, prevê a possibilidade de que uma criança volte ao acolhimento durante o chamado “Estágio de Convivência”, período em que os adotantes têm a guarda provisória da criança.

Na prática, seja na “devolução” ou na restituição, o judiciário acaba instaurando processos de “cancelamento da guarda”, com o intuito de evitar que uma criança permaneça com uma família que não pôde assumir sua função parental. Alguns juízes têm determinado penalidades para a família que não sustenta a adoção, como o pagamento de pensão por danos morais.

Mas, para além das consequências legais, é muito importante pensar nos efeitos emocionais que processos como esses podem causar em todos os envolvidos, especialmente nas crianças, em função da reedição da experiência de ruptura de vínculos e sentimento de rejeição.

A devolução em adoções mal sucedidas é um desfecho extremamente ruim dos conflitos familiares. Considerando que tais conflitos não deixarão de existir, uma saída para tentar evitar situações como essas é investir em um melhor e maior preparo das famílias adotivas para que cumpram adequadamente as funções de cuidado e proteção, entrando em contato e entendendo aspectos muitas vezes pouco refletidos nesse processo. A preparação e o acompanhamento das crianças, bem como a forma como a transição do serviço de acolhimento para a família substituta é conduzida, também são fatores que requerem trabalho extremamente qualificado.

Além disso, o suporte posterior à chegada da criança à nova casa precisa ser estruturado de forma a acompanhar de fato os desafios que são enfrentados por essa nova família. Adoção é uma forma linda de ser família que deve ser muito bem cuidada por todos e para todos!