No dia 31 de maio foi realizada a oficina “O Papel do Educador”, que contou com a participação da Valéria Pássaro, pedagoga com especializações e larga experiência na área de educação e acolhimento. Valéria iniciou a apresentação dizendo que, para além de suas formações, ela gosta de estar no papel e na função de educadora. Atua na área social há mais de 20 anos e, mesmo assim, continua aprendendo a ser educadora. Trouxe assim a reflexão de que “o bom educador é aquele que está sempre aberto a aprender”.

Valéria falou sobre as diversas nomenclaturas existentes nas Organizações para o papel educador, que são: educadores, pajens, orientadores socioeducativos, mães sociais, enfatizando que todos que atuam em serviço de acolhimento são educadores sociais, e estão na função educadora, e isso independe do papel que desempenham dentro do acolhimento.

Em seguida, Valéria trouxe sua visão sobre o lugar do abrigo, que para ela é um dos lugares mais interessantes na área da Assistência Social para se trabalhar. “É um lugar de muita vida, ao mesmo tempo que pode ser um lugar chato, enfadonho, no qual podemos nos sentir sem potência para mudar a vida e as histórias de vidas das crianças e adolescentes”, enfatiza.

Assim sendo, o papel e a função do educador é justamente não deixar com que esse lugar - que é uma espaço de vida - tenha somente a finalidade de cumprimento das rotinas diárias como: servir o café da manhã, almoço, janta e banho. Existe um risco de se acostumar com as tarefas e os momentos do cotidiano, os mais simples, tais como: uma troca de conversa, um jogo, uma brincadeira, acabarem não acontecendo por conta das tarefas."

Valéria comentou que existe uma ideia de que o abrigo deve ser organizado para que ninguém de fora veja nenhuma desordem. “Sabemos que todo e qualquer lugar precisa de rotina e organização, mas organização e rigidez são muito diferentes. Por tendência, o ser humano quer organizar, mas acaba assim enrijecendo o serviço e a relação com o outro. Assim, o serviço de acolhimento, que produz tanta vida, acaba por se tornar um lugar engessado, baseado na execução de tarefas.”

Os participantes gostaram bastante desta colocação e pediram para que Valéria comentasse mais sobre este tópico. Continuando, Valéria mencionou que esse fazer do educador deve estar pautado em buscar as potências e possibilidades das crianças, adolescentes e suas famílias, uma vez que nem sempre são aparentes e evidentes. Relata que, em sua experiência, essas potencialidades poucas vezes apareciam nos relatórios, mas elas estão ali e fazem parte do que aquela criança e adolescente são, precisando ser destacadas pelos educadores. Outra questão importante que Valéria destacou, foi de que o trabalho do educador se dá de forma coletiva, mesmo que cada sujeito traga sua singularidade implicada no dia a dia. 

Em seguida, Valéria trouxe a ideia de que um serviço de acolhimento sem um Projeto Político Pedagógico (PPP), trabalha nas emergências e urgências, sem que exista uma proposta de projeto de trabalho voltado para o futuro. Ainda assim, muitos serviços de acolhimento se baseiam nos termos de convênio e nos planos de trabalho, que são muito parecidos. Quando as organizações possuem uma proposta pedagógica, é nela que vai se basear toda metodologia daquele lugar, refletindo-se sobre as demandas mais relevantes, assim como no momento em que o serviço de acolhimento está vivenciando.

Valéria encerrou sua fala enfatizando a importância do papel do educador social. “Um trabalho importante e necessário para a sociedade, ao mesmo tempo em que ainda é uma profissão desvalorizada”. Segundo ela, em um primeiro momento este lugar deve ser valorizado por quem está desenvolvendo tal papel, ou seja, pelos próprios educadores, e em um segundo momento, a partir disso, pela sociedade.

Complementou ainda que esta também é uma profissão que não é reconhecida por lei e não existe a função de educador social na legislação, sendo que esse histórico reforça o não reconhecimento desse papel, que é fundamental para as crianças e adolescentes que vivem em abrigos. De um modo geral, a sociedade conhece sobre a realidade das crianças e adolescentes que moram em abrigos, sabem onde elas vivem, mas pouco sabem sobre quem cuidam delas.

Assista a oficina na íntegra no canal do YouTube do Instituto Fazendo História: