No dia 25 de outubro, foi realizada a Oficina “Mães Negligentes? Os (Des)caminhos dos cuidados de mulheres mães em vulnerabilidade social”, como parte do ciclo de palestras de primeira infância e acolhimento do Instituto Fazendo História. Esta oficina contou com Janaína Dantas Gomes, graduada em Direito pela PUC Campinas e em Antropologia Social pela UNICAMP, professora e pesquisados em Direito e Mestre e doutoranda em Direitos Humanos pela USP; Thaís Berberian, mestre em serviço social pela PUC-SP, assistente social do TJSP, pesquisadora convidada do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre criança e adolescentes da PUC-SP e com Sara Luvisotto, assistente social, coordenadora do Serviço de Acolhimento Familiar do Instituto Fazendo História.

                Janaína iniciou a oficina contando sobre sua pesquisa de doutorado, intitulada “Primeira Infância e maternidade nas ruas de São Paulo”, e apresentou um caso sobre uma mulher de Mococa (interior de São Paulo) que foi “esterilizada” a pedido do poder judiciário. Falou então sobre a questão da laqueadura, por se tratar de uma das alternativas mais sugeridas para essas mulheres em situação de rua, trazendo a reflexão de como os corpos das mulheres e as próprias mulheres estão sujeitas a esse tipo de intervenção, e consequentemente a infância e a primeira infância das crianças estão sujeitas a essas intervenções do Estado. Levantou a questão: “É possível falar de entrega voluntária ou escolha por parte dessas mulheres em contexto de pobreza, quando vemos que estas pessoas não têm o mínimo para sua sobrevivência?”, ressaltando que é importante levar em consideração os direitos dessas mulheres e os deveres do Estado perante elas, bem como reflexões sobre a rotulação e a repetição de um ciclo de negligências. Falou sobre o fluxo de acolhimento levantado na pesquisa em que esses ciclos se repetem, desde a vulnerabilidade da situação de rua, a gravidez e o acolhimento das crianças recém-nascidas. A pesquisa levantou a questão sobre como o Estado garante direitos para essas mulheres mães quando elas desejam ficar com seus filhos recém-nascidos. Trouxe ainda reflexões sobre os rótulos e preconceitos que já colocam essas mulheres gestantes em um lugar de negligentes, pela própria rede de garantia de direitos. Janaína finalizou trazendo a importância da observação e apoio a estas mulheres mães em situação de rua antes da rotulação e/ou separação imediata da mãe/bebe pelas intervenções do Estado.

Thaís reforçou que a sociedade machista e patriarcal coloca na figura feminina a responsabilidade quase exclusiva em relação aos cuidados dos filhos, além da questão étnico-racial, enfatizando que a “pobreza tem cor no Brasil”.

                Em seguida, Thaís iniciou sua fala focando no conceito de negligência para com este público, compartilhando cenas do seu cotidiano de quando trabalhava em um hospital. Uma situação pode ser rotulada como negligência pela equipe médica e é importante investir na compreensão e busca pelos fatos, considerando as histórias de vida de cada uma dessas mulheres. Thaís reforçou que a sociedade machista e patriarcal coloca na figura feminina a responsabilidade quase exclusiva em relação aos cuidados dos filhos, além da questão étnico-racial, enfatizando que a “pobreza tem cor no Brasil”. Enfatizou que o conceito de negligência vem muitas vezes enraizado com a questão dos rótulos e das questões de valores morais negativos, inclusive o preconceito. Falou que os rótulos “negligente” e “usuária de drogas” já de antemão inibem a possibilidade de maternidade por parte dessas mulheres mães. Thaís trouxe então a importância dos profissionais que compõem a rede de garantia de direitos refletirem sobre essa rotulação e conceitos que são usados e escolhidos, até mesmo nos registros escritos (processos), pois eles trazem repercussões para a vida dessas mulheres. Por fim, Thaís enfatizou a importância do Estado em pensar possibilidades de cuidados para essas mulheres mães em situação de vulnerabilidade.

                Sara finalizou as apresentações com sua fala, compartilhando algumas de suas experiências com famílias de origem. Relatou como as famílias realmente são julgadas pelos próprios profissionais da rede de garantia de direitos e já chegam aos serviços rotuladas como incapazes. Sara apresentou um caso sobre uma mãe que teve relatórios carregados de preconceitos, o que levou a uma dificuldade de vinculação. Uma das principais estratégias para conseguir esta aproximação foi considerar a história desta mulher e valorizar as demandas apresentadas pela própria mãe. Ao final, Sara falou sobre a importância de garantir os direitos dessas mulheres, bem como o direito das crianças em saberem sobre as histórias de suas mães.

                Em seguida foi aberto o espaço para perguntas e reflexões dos participantes e as palestrantes apresentaram outros casos das suas práticas e experiências.

                A oficina completa está disponível no canal do IFH no Youtube:

Thaís reforçou que a sociedade machista e patriarcal coloca na figura feminina a responsabilidade quase exclusiva em relação aos cuidados dos filhos, além da questão étnico-racial, enfatizando que a “pobreza tem cor no Brasil”.