No dia 22 de setembro de 2021, foi realizada a oficina “O trabalho com famílias”, com a participação das especialistas Valéria Brahim, psicóloga, terapeuta de famílias com base na Teoria Sistêmica, especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes (USP), e Sara Luvisotto, assistente social e coordenadora do Programa de Acolhimento Familiar do IFH.

            Valéria abordou a importância do trabalho junto à família de origem para a proteção e desenvolvimento da criança e do adolescente. Atualmente, o serviço de acolhimento é determinado pelo Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária e tem como proposta assistir às crianças e adolescentes em sua integralidade, assim sendo, sua história e sua família são parte fundamental neste trabalho. Ela considera que o olhar que a equipe possui sobre a família de origem muda sua forma de atuação para com ela. Muitas vezes a equipe não ouve diretamente a família, formando uma imagem precária dela, partindo apenas dos relatórios do Conselho Tutelar ou da Vara da Infância e Juventude. O trabalho com famílias de origem deve ser sensível e cuidadoso, uma vez que é problemática a compreensão que se baseia em fragmentos de sua história ao invés de uma compreensão mais aprofundada e total.

Valéria pontua ser comum que a história das famílias atendidas seja atravessada por violações de direitos, algumas delas cometidas pelo Estado. É necessário atenção e reflexão contínuas. A atuação junto à família de origem deve caminhar a partir da garantia dos direitos da criança e do adolescente em ter acesso à convivência familiar e comunitária e não de acordo apenas com os valores e princípios da equipe.

Na sequência do encontro, Sara inicia sua participação contando que o primeiro passo para o trabalho com a família de origem é a construção do vínculo. A família de origem só conseguirá chegar até a instituição para visitar a criança e para seguir os encaminhamentos propostos se ela for vinculada com a equipe. Muitas vezes, a equipe do serviço de acolhimento institucional precisa ir onde as famílias estão, porque é comum que as famílias estejam com demandas emocionais e sociais que impossibilitem que elas cheguem ao serviço.

Sara explica que a missão de um Serviço de Acolhimento é proteger a criança, e seu objetivo fundamental deve ser a criança voltar a morar com sua família. Para realizar esse objetivo é necessário olhar para as singularidades de cada família e pensar em estratégias de ação, o que só é possível conhecendo as famílias em suas particularidades para estabelecer o vínculo. Além disso, garantir o acompanhamento das famílias independente do encaminhamento do processo, para garantir que o afastamento seja uma medida excepcional e provisória, é fundamental.

As estratégias de ação recomendadas são: a construção do PIA (Plano Individual de Atendimento); iniciar o trabalho imediatamente após a chegada da criança; e estabelecer uma relação horizontal.  Sara afirma que a equipe técnica não deve se colocar em uma posição de superioridade em relação à família de origem, os encaminhamentos que a equipe pensa devem ser partilhados e construídos juntamente com a família. É reiterada a necessidade de estabelecer vínculos, uma vez que qualquer trabalho não se realiza sem vínculo. Por exemplo, uma mãe não seguirá um encaminhamento se não tiver uma relação de confiança com a equipe.

Por fim, outras estratégias de ação são importantes, tais como: investir na relação das crianças e adolescentes e sua família; atividades em conjunto e participar de forma ativa da rotina da criança, incentivando que a família leve em consultas médicas e reuniões escolares, por exemplo.

Quanto às estratégias de ação no atendimento individual, Sara explica que a maior parte das crianças chega no serviço com poucas informações sobre suas famílias, sendo assim, é de grande importância a realização das visitas domiciliares para o conhecimento do território familiar, a descoberta do papel que a família exerce em sua comunidade, o conhecimento de sua rede de apoio e a busca ativa pela família extensa. Por fim, outras estratégias de ação no atendimento individual são necessárias: encaminhamento assistido; reuniões em rede dentro do território familiar e reuniões familiares.

Quanto às especificidades do acolhimento familiar, ela conta que as visitas são agendadas (por não ter um profissional 24h no serviço) e acontecem na sede do IFH, em parques e praças. O tempo todo é trabalhada a relação entre família acolhedora e família de origem, é comum que uma mãe fique com receios quando sabe que sua criança está com outra família. Essa aproximação é feita de forma cuidadosa. Pequenas estratégias são realizadas para promover a relação entre as duas famílias. Um Plano de Trabalho familiar é criado contendo: objetivo, estratégia, responsáveis, prazo e resultado. Ele é assinado pela família e incluído no PIA da criança. Uma Linha do Tempo também é criada, ela organiza de maneira cronológica os momentos cruciais da história pessoal e familiar. Sara reitera: "construímos junto com a família todos os pontos importantes da vida dela porque eu só consigo planejar o que quero e pra onde vou, se entender de onde vim.”

A oficina foi muito aproveitada pelos participantes pela rede socioassistencial da cidade de São Paulo, no final foi aberto um espaço de comentários, perguntas sobre o trabalho e compartilhamento de experiências entre os serviços de acolhimentos.

 Em breve, confira em nosso canal do Youtube a oficina na íntegra.