No dia 26 de julho de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a primeira oficina do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Os Desafios da Atualidade no Trabalho com a Adolescência”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

O Instituto Fazendo História teve a honra de convidar o educador social, Rafael Parente Sá Martins, para conduzir esse encontro enriquecedor. Rafael é graduado em história e especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo e Gestão e Planejamento de Processos Pastorais e Pedagógicos. Além disso, ele é assessor da Tocando em Frente Assessorias, onde acompanha o trabalho de organizações sociais que atuam com crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Rafael também desempenha um papel fundamental como indigenista junto aos povos indígenas do estado de São Paulo.

O encontro foi marcado por uma abertura que visou alinhar as expectativas junto aos profissionais dos serviços da rede socioassistencial. Rafael destacou a importância de compreendermos o Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA estabelece que consideramos como crianças aqueles com até 12 anos, enquanto o termo adolescente abrange indivíduos de 13 a 17 anos. No entanto, Rafael chamou a atenção para uma perspectiva mais ampla ao mencionar o Estatuto da Juventude, que define como jovens as pessoas de 15 a 29 anos. Nesse contexto, ele provocou uma reflexão mais profunda, concentrando-se especialmente no público de 15 a 17 anos, faixa etária na qual os profissionais muitas vezes enfrentam desafios mais significativos.

Durante a oficina, Rafael provocou reflexões profundas sobre a sociedade e suas visões em relação à adolescência:

  • Visão da Juventude como Biológica: A puberdade é o foco.

  • Visão da Juventude como Transição: Uma fase de transição da infância para a vida adulta.

  • Visão da Juventude como Problema: A sociedade tende a culpar os jovens pelos problemas.

  • Visão da Juventude como Solução: A projeção de responsabilidades em um mundo ideal.

Ele ressaltou que a adolescência é um conceito criado pela sociedade e é uma categoria social marcada por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de identidades, o que exige experimentação intensa em diversas esferas da vida.

Rafael também compartilhou um estudo que coloca os adolescentes como uma "lupa" da sociedade, tornando os problemas sociais mais evidentes na juventude, como o desafio da drogadição. No entanto, ele provocou os participantes a repensar o tema da oficina, originalmente divulgado como "Os Desafios da Adolescência na Atualidade". A conclusão foi que os desafios não estão nos adolescentes, mas sim em nossa capacidade geracional de lidar com as adolescências. São esses conflitos que moldam o mundo.

Rafael traz uma reflexão sobre o artigo 101 da eca, onde é da ênfase que é uma política de proteção, mostrando que existem crianças que estão no Saica de uma forma punitiva, e na protetiva. Rafael continua trazendo um olhar sobre as mudanças que a lei da adoção 12.010 trouxe como deve ser o acolhimento institucional. Rafael aproveita para trazer um pouco de como eram os serviços antes das suas regulamentações, demonstrando como as instituições totais ou orfanatos se organizavam de forma desumanizada. Não sendo uma compreensão de uma ação de políticas públicas para proteger o adolescente, mas sim um sistema de abrigamento de acolhimento institucional que vem criminalizando a pobreza, ou a questão de saúde mental, ou de drogadição, não entendendo que muitas vezes o trabalho tem que ser feito no território com outras políticas públicas.

Para finalizar nosso encontro, Rafael propõe uma dinâmica com objetivos de trabalhar questões que marcam o trabalho com os adolescentes de hoje e para provocar um tanto das nossas fantasias, Rafael compartilha o trabalho do fotógrafo James Mollison que viajou o mundo fazendo registros de onde algumas crianças dormem. 

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui