OFICINA – "Pensando o Acolhimento Familiar:  O impacto da violência na saúde mental de crianças.”

OFICINA – "Pensando o Acolhimento Familiar: O impacto da violência na saúde mental de crianças.”

No dia 31 de outubro de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), na Embaixada Preta - Casa Pretahub. O encontro teve como tema: "Pensando o Acolhimento Familiar: O impacto da violência na saúde mental de crianças." Este encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Famílias Acolhedoras e Rede Socioassistencial e Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Juliana Gomes: psicóloga clínica e institucional, mestre e doutoranda em psicologia pela UFRRJ, pesquisadora da primeira infância, servidora pública e docente universitária.

A profissional iniciou o encontro estimulando a reflexão sobre violências, diretas e indiretas. Pontuou sobre a violência psicológica, como afetam as crianças e adolescentes nos serviços de acolhimentos, e a importância de ações que visam a garantia e proteção de acordo com os parâmetros estabelecidos no ECA.  

Um ponto destacado pela convidada foi sobre a diferença entre negligência e abandono, e como essa falta de entendimento pode ocasionar situações de violências e violações de direitos das crianças e adolescentes.

Juliana propôs dinâmicas de grupo entre os participantes para refletir sobre a importância das maiorias populares, formas de resistência e as estruturas de poder. Falou sobre a relevância de mapear e conhecer as resistências nos territórios, como, quais são suas potências, fragilidades e principais desafios a serem superados através da construção do Eco Mapa.   

Por fim, um desafio apresentado por Juliana é de pensar no território como um espaço de produção de sentido. As ações de cuidado da saúde mental precisam estar em movimento e articuladas em cuidado territorializado para que se possa traçar planos de acompanhamento de crianças e adolescentes mais potentes.


Confira o vídeo com a oficina completa:

OFICINA – "Estratégias e possibilidades no acompanhamento de Famílias de origem no Serviço de Acolhimento”

OFICINA – "Estratégias e possibilidades no acompanhamento de Famílias de origem no Serviço de Acolhimento”

No dia 15 de outubro de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a quinta oficina do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. O encontro teve como tema "Estratégias e possibilidades no acompanhamento de Famílias de origem no Serviço de Acolhimento” e foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento, Rede Socioassistencial e Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Gracielle Feitosa de Loiola, assistente social do TJSP, mestre e doutora em Serviço Social, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Famílias (NCAF/PUC-SP) e autora do livro Produção Sociojurídica de Famílias “Incapazes”: do Discurso da “Não-Aderência” ao Direito à Proteção Social.

A profissional iniciou o encontro compartilhando aspectos de sua trajetória, as inquietações a respeito dos relatos produzidos nos relatórios sobre as famílias de origem de crianças e adolescentes acolhidos, e os caminhos percorridos em suas pesquisas de mestrado e doutorado.

Um ponto destacado por Gracielle foi o quanto nossas concepções pessoais de família atravessam a prática profissional, influenciando análises e avaliações. Ressaltou a importância de desenvolver o olhar crítico e o estranhamento necessário para que o(a) profissional não imponha ao outro interpretações baseadas em valores individuais, evitando que sejam tomadas como verdades absolutas.

Por fim, Gracielle apresentou questionamentos relevantes sobre o acompanhamento das famílias: quem tem realizado esse trabalho e o que, de fato, o caracteriza. Destacou que atendimento e acompanhamento não são sinônimos e, como estratégia fundamental, mencionou o PIA (Plano Individual de Acompanhamento), problematizando a forma como ele vem sendo elaborado nos serviços.

Dessa forma, Gracielle nos convida a refletir sobre a necessidade de ressignificar as práticas no cotidiano dos serviços, fortalecendo o entendimento do acompanhamento como um processo contínuo, planejado, crítico e ético-político, comprometido com a efetiva transformação das trajetórias familiares.

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OFICINA – "Pensando o Acolhimento Familiar: Famílias & Famílias - refletindo arranjos familiares."

OFICINA – "Pensando o Acolhimento Familiar: Famílias & Famílias - refletindo arranjos familiares."

OFICINA – "Pensando o Acolhimento Familiar: Famílias & Famílias - refletindo arranjos familiares."

No dia 26 de setembro de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a terceira oficina presencial do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no espaço Preta Hub. O encontro teve como tema: Pensando o Acolhimento Familiar: Famílias & Famílias - refletindo arranjos familiares." e foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Familia Acolhedora, Famílias Acolhedoras vinculadas aos serviços e a Rede Socioassistencial e Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Gracielle Feitosa de Loiola - assistente social no TJSP, mestre e doutora em serviço social, integrante do núcleo de estudos e pesquisas sobre crianças, adolescentes e famílias - NCAF/ PUCSP, autora do livro: produção Sociojurídica de famílias “incapazes”: do discurso da “não-aderência” ao direito à proteção social.

A profissional iniciou o encontro abordando os caminhos da sua pesquisa de mestrado e alguns relatos das famílias entrevistadas, que culminaram na escrita de seu livro. Um ponto destacado pela convidada foi que a capacidade de cuidado tem sido central nas discussões sobre o trabalho social. A produção de narrativas que descrevem algumas famílias como “incapazes” ou “negligentes” revela a maneira como as condições sociais e históricas impactam o cuidado familiar. Alguns questionamentos apresentados por Gracielle como: “Qual modelo de família tem prevalecido no cotidiano?”, “Como temos rompido com o modelo idealizado e naturalizado acerca do ser família? provocaram reflexões importantes.

Um elemento destacado pela convidada se refere à necessidade do trabalho social com famílias ser conduzido de forma crítica, ética e política. É necessário considerar aspectos complexos da realidade das famílias - históricos , sociais e econômicos - que atravessam e moldam a realidade. Ela convida os profissionais e as famílias acolhedoras a buscarem sempre um escuta ético- política e uma escuta e escrita antirracista.

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OFICINA –  "Educador, Orientador e Cuidador: Papéis e desafios dos profissionais no cotidiano"

OFICINA – "Educador, Orientador e Cuidador: Papéis e desafios dos profissionais no cotidiano"

No dia 17 de setembro de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a quinta oficina presencial do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. O encontro teve como tema "Educador, Orientador e Cuidador: Papéis e desafios dos profissionais no cotidiano" e foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento, Rede Socioassistencial e Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Vagner Souza, educador popular e analista institucional. Atuante no Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes desde 2003, já foi educador em SAICA, arte-educador na Fundação Casa, coordenador de Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA) e, desde 2011, atua como supervisor institucional e formador.

O profissional iniciou o encontro abordando o papel do Estado, da família e da sociedade civil na garantia do cuidado e da proteção integral, conforme preconiza o artigo 4º do ECA, dialogando também sobre aspectos históricos e do cotidiano do serviço.

Um ponto destacado pelo convidado foi: quais dispositivos podemos criar para garantir espaços de diálogo? Embora não exista um lugar perfeito, é essencial assegurar um espaço onde crianças e adolescentes possam se expressar e compartilhar suas experiências.

Vagner compartilhou uma experiência prática: toda segunda-feira à tarde era realizada uma assembleia. Não se tratava de decisão por voto, mas pelo desgaste do argumento. Com o tempo, os adolescentes perceberam que os adultos acabavam ganhando os debates. Então, começaram a organizar sua própria assembleia aos domingos, chegando na segunda-feira mais confiantes e com argumentos fortalecidos.

Por fim, um desafio apresentado por Vagner é que, embora existam propostas para crianças e a Política da Primeira Infância, e isso é importante, isso não ocorre com os adolescentes de forma sistemática, muitas vezes os adolescentes são vistos apenas como “o problema”. É fundamental mudar essa perspectiva.

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Projeto "História e Acolhimento" - Serviços Selecionados

Projeto "História e Acolhimento" - Serviços Selecionados

É com imensa alegria que o Instituto Fazendo História divulga o resultado do processo de seleção dos serviços de acolhimento para crianças e adolescentes da Região Administrativa de Campinas (SP), que passam a integrar o Programa Fazendo Minha História

OFICINA – Cartografia dos afetos: O pertencimento de crianças e adolescentes ao território

OFICINA – Cartografia dos afetos: O pertencimento de crianças e adolescentes ao território

No dia 27 de agosto de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a quinta oficina presencial do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. O encontro teve como tema “Cartografia dos afetos: o pertencimento de crianças e adolescentes ao território” e foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento, Rede Socioassistencial e Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Sidnei das Neves, Psicólogo, Terapeuta Comunitário e Gerente do SPVV Claret II Brasilândia/Freguesia do Ó. Atua na área social dentro do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, propondo discussões sobre as múltiplas violências que esse público e seus familiares/responsáveis vivenciam, testemunham ou presenciam em territórios de extrema vulnerabilidade. Atua também no território de Vila Brasilândia, como articulador e produtor cultural, sendo um dos fundadores do Sarau da Brasa, coletivo que existe há 17 anos no bairro, contribuindo para que as expressões culturais e artísticas dos moradores do território tenham espaço, visibilidade e oportunidade de desenvolvimento.

O profissional iniciou o encontro com a provocação: “Qual é o meu lugar?” Em seguida, propôs uma atividade em que os participantes precisavam escolher o ponto mais desconfortável do ambiente para sentar. Prosseguindo, perguntou aos presentes: “O que é afeto?” As respostas incluíram: amor, cuidado, vínculo, raiva, violência, elementos que nos afetam e nos atravessam.

Em continuidade, Sidnei pontuou a correlação entre o lugar onde crescemos e o afeto: ao pensarmos naquilo que amamos, os lugares costumam estar presentes na memória. Mencionou também o símbolo Sankofa, que significa olhar para trás para seguir adiante, enfatizando que muitas das crianças e adolescentes atendidos desconhecem sua origem.

A partir dessas reflexões, Sidnei ressaltou que o território faz parte da construção de identidade e da nossa constituição enquanto sujeitos. O lugar ao qual pertencemos pode gerar sentimentos de insegurança, inferioridade, medo, vulnerabilidade e vergonha, consequência do racismo e da violência estrutural que permeiam esses espaços.

Por fim, o profissional reforçou a importância da construção de estratégias que promovam a vinculação de crianças e adolescentes ao território em que estão inseridos, a partir das potencialidades e das produções artísticas e culturais locais. Alertou para o risco de reduzir o território às narrativas impostas a ele e salientou que, para a construção de mapas de afetos, é necessário acolher as angústias e as lembranças dolorosas das crianças, adolescentes e famílias atendidas.

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OFICINA – Motivo do acolhimento: Discutindo o conceito de negligência

OFICINA – Motivo do acolhimento: Discutindo o conceito de negligência

No dia 16 de julho de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis, com o tema "Motivo do acolhimento: Discutindo o conceito de negligência". O encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Thais Berberian, que possui Graduação e Mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, experiência profissional na política de saúde e na área sociojurídica e trabalha atualmente como assistente social pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

A convidada trouxe provocações importantes sobre o conceito de negligência, especialmente no contexto dos casos de acolhimento de crianças e adolescentes. Uma das reflexões centrais foi a forma como o termo tem sido utilizado, muitas vezes como sinônimo de pobreza, o que é preocupante. A negligência precisa ser compreendida como um fenômeno complexo, que não se limita às práticas internas das famílias. É necessário olhar para as famílias com os atravessamentos dos fatores sociais, econômicos, ausência de acessos , políticos e culturais.

Thais apresentou uma reflexão que convida a perguntar: a quem serve o uso recorrente do termo “negligente”? É preciso atenção ao modo como ele pode reforçar estigmas e responsabilizar exclusivamente as famílias, desconsiderando os contextos de desigualdade e desproteção social em que estão inseridas.

Nesse cenário, a escrita dos relatórios assume um papel central,  pois tem o poder de abrir caminhos ou fechar portas. Por isso, é fundamental que essa escrita seja ética, crítica e comprometida com a complexidade da realidade vivida pelas crianças, adolescentes e suas famílias.

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OFICINA – O direito do Brincar para crianças e adolescentes

OFICINA – O direito do Brincar para crianças e adolescentes

No dia 21 de maio de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a segunda oficina presencial do Projeto Formação em Rede, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O Direito do Brincar para Crianças e Adolescentes", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento, bem como a outros profissionais da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Mineia Oliveira – do Brincando na Kebrada – mulher preta, nordestina, mãe solo , periférica , ativista comunitária, ludo educadora, produtora cultural, formação acadêmica em Pedagogia pelo Instituto Singularidades, idealizadora do coletivo Brincando na Kebrada e pesquisadora de diversos brincares, com foco nas brincadeiras africanas e afro-brasileiras.

A convidada compartilhou as propostas que o Coletivo  Brincando na Kebrada utiliza  para garantir o direito do brincar com crianças e adolescentes no território e que podem ser utilizadas  como inspiração para os Serviços, além de promover o resgate do brincar e como os adultos precisam se reconectar com o brincar para que não seja visto como privilégio. Mineia apresentou estratégias para que os participantes da oficina pudessem produzir brinquedos de material reciclável, os brinquedos produzidos durante a oficina foram distribuídos entre os serviços.

Os participantes  puderam interagir com diversos brinquedos, tiveram brincadeiras de rodas,  partilharam memórias do brincar e outros tiveram a chance de conhecer algumas brincadeiras que até então desconheciam.  O espaço foi tomado por gargalhadas dos participantes e com  profundas reflexões sobre como o brincar é um direito e universal, e que como sociedade  devemos pensar em colocar o brincar na agenda como política pública. 

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OFICINA – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: DESAFIOS PARA SUA EFETIVAÇÃO

OFICINA – PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: DESAFIOS PARA SUA EFETIVAÇÃO

No dia 16 de junho de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a terceira oficina presencial do Projeto Formação em Redes, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. O encontro teve como tema “Projeto Político Pedagógico: Desafios para sua efetivação” e foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento, além de outros trabalhadores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Célia Silva de Paulo Andrade, psicopedagoga com mais de dez anos de atuação em SAICA (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes). Célia é dedicada ao desenvolvimento de habilidades para a convivência coletiva e também escritora juvenil, abordando temas que estimulam a cultura de paz e a valorização da vida como base para a evolução.

A convidada iniciou sua fala destacando a importância do Projeto Político Pedagógico (PPP) nos serviços da rede socioassistencial. Embora, muitas vezes, esse tema possa gerar receio entre os profissionais, Célia enfatizou que é fundamental que o documento seja construído com a participação de todos — trabalhadores, crianças, adolescentes e famílias atendidas — e que vá além de uma mera exigência burocrática.

Na sequência, foi proposta uma atividade em grupos, que trouxe três desafios para reflexão:

  1. Qual a história do serviço ao qual você pertence e o que sabe sobre ela?

  2. Como o serviço em que atua organiza suas atividades? A quem esse serviço se destina? O que se busca promover na pessoa atendida?

  3. O que o serviço faz de bom (referência)? O que precisa melhorar? Como promover essas melhorias e mudanças?

A partir dessas questões, Célia ressaltou que conhecer a história da instituição é essencial para a construção do PPP, pois essa história reflete os valores que norteiam a prática, indicando de onde viemos e para onde queremos seguir. Ela também destacou a importância do trabalho coletivo e das discussões em grupo, pois é nesse espaço que se expressa a filosofia do serviço, o reconhecimento das forças do grupo e a identidade da equipe. Além disso, enfatizou a necessidade de garantir espaços participativos, como assembleias, com a presença de crianças, adolescentes e famílias.

Por fim, a profissional reforçou que a construção e revisão do Projeto Político Pedagógico questionam as práticas institucionais, asseguram o olhar cuidadoso para o outro e orientam o grupo na caminhada rumo aos objetivos. O PPP deve conter uma visão de futuro sobre a atuação profissional, bem como os valores, a missão e a visão da instituição.

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OFICINA – O IMPACTO DO RACISMO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL.

OFICINA – O IMPACTO DO RACISMO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL.

No dia 16 de abril de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a primeira oficina presencial do Projeto Formação em Rede, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O impacto do racismo no desenvolvimento infantil", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento, bem como a outros profissionais da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. A oficina contou com a participação de Carla Ferreira França Rosa, psicóloga com 14 anos de experiência clínica e social, especialista em saúde da família e relações étnico-raciais. É cofundadora da Odo Consultoria Viva, que atua em processos socioeducacionais.

A convidada abordou aspectos com relação ao olhar para crianças e adolescentes negros e suas famílias, além de estratégias para a construção de um acolhimento afetivo e reparador. Abordou questões como leis e projetos que tentaram apagar a memória e a existência das pessoas negras, criando estereótipos que determinam as desigualdades das populações negras e indígenas, caracterizando o racismo como sistema estrutural. Fez uma provocação importante em relação aos cuidados oferecidos: crianças brancas são mais bem cuidadas que crianças negras nos serviços de acolhimento, muitas vezes sem que os profissionais percebam essa diferenciação, consequência do racismo estrutural. Complementou sua fala com dados relevantes sobre as consequências de ambientes discriminatórios à saúde das crianças negras, como ansiedade, depressão e micro agressões, que frequentemente se manifestam de forma não verbal, nas sutilezas, causando dúvidas e paralisando a vítima.

A convidada ressaltou a necessidade e importância de que crianças e adolescentes tenham ambientes que lhes permitam decidir sobre si mesmas, especialmente no que diz respeito ao próprio corpo (como corte de cabelo, vestimentas e acessórios). Carla trouxe a importância de desenvolver, nos serviços, atividades que contemplem as vivências de crianças e adolescentes e, sobretudo, que contem com a adesão e integração da maioria da equipe, para que compreendam, por exemplo, os aspectos abordados em uma exposição escolhida enquanto proposta. 

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OFICINA - Reflexões sobre violências institucionais: silêncios e omissões

OFICINA - Reflexões sobre violências institucionais: silêncios e omissões

No dia 25 de março de 2025, o Instituto fazendo História, com o apoio do FUMCAD, realizou uma oficina no Instituto Polis que recebeu profissionais para uma manhã de debates sobre o tema: "Violências Institucionais: Silêncios e Omissões". A oficina foi conduzida por Samara Xavier, educadora social, professora de pós-graduação em Gestão e Serviços do SUAS na Fapcom, formadora da PAULUS Social e da Social Soluções.

Por que este tema é tão importante?

As violências institucionais afetam diretamente a vida de milhares de pessoas, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. Ao ignorar ou naturalizar essas violências, perpetuamos sistemas de desigualdade e exclusão.

Durante o encontro, Samara trouxe à tona questões fundamentais sobre como as violências institucionais se manifestam no cotidiano, muitas vezes de forma invisível, perpetuadas por silêncios, omissões e práticas normalizadas nas instituições. “Quando falamos de violência institucional, estamos falando de violências cometidas a partir do Estado brasileiro e transbordadas para as instituições que representamos”, explicou a facilitadora. “Mas essas violências não são abstrações – elas são operacionalizadas por pessoas, incluindo nós, trabalhadores.”

O evento proporcionou aos participantes uma oportunidade única de alinhar conceitos, refletir sobre as relações de poder e discutir estratégias para enfrentar essas violências. Um dos pontos centrais da oficina foi a importância de reconhecer a humanidade nas interações com o público atendido, especialmente em serviços de cuidado e proteção. “Não podemos reproduzir estigmas ou tratar como violentas as pessoas que já são vítimas de um sistema desigual”, destacou Samara.

A facilitadora também chamou atenção para a necessidade de olhar criticamente para as próprias práticas institucionais. “Muitas vezes, somos ensinados a reproduzir comportamentos que perpetuam violências, mesmo sem perceber. É preciso desconstruir isso.” Entre os exemplos discutidos, estavam situações como a falta de apoio adequado, a omissão de informações claras e a revitimização de pessoas que buscam ajuda.

Outro aspecto relevante foi a discussão sobre como as violências institucionais se entrelaçam com outras formas de opressão, como racismo institucional, misoginia, capacitismo e xenofobia. “Para enfrentarmos as violências institucionais, precisamos nomeá-las e compreender suas especificidades”, afirmou Samara. “Silenciar essas questões é reforçar o ciclo de exclusão.”

A oficina contou com momentos de diálogo, análise de casos reais e reflexões coletivas, criando um espaço seguro para questionar práticas e propor mudanças. Os participantes saíram do evento com novas perspectivas e ferramentas para aplicar em seus contextos profissionais e pessoais.

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OFICINA – TRABALHO EM REDE: CONSTRUINDO CAMINHOS COLETIVOS

OFICINA – TRABALHO EM REDE: CONSTRUINDO CAMINHOS COLETIVOS

No dia 29 de janeiro de 2025, o Instituto Fazendo História realizou a décima terceira oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "Trabalho em rede: construindo caminhos coletivos", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Rosimeire Mantovan, assistente social e advogada, especialista em Direito Constitucional e em Gestão da Política Pública de Assistência Social, mestre em Serviço Social pelo Programa de Estudos Pós Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e tem experiência profissional como gestora e pesquisadora na Política de Assistência Social e atuação em Assistência Judiciária, especialmente nas áreas de atenção à família, criança e adolescente. É sócia fundadora e consultora da Tecendo Social, docente de pós-graduação e docente habilitada do Programa de Educação Permanente da Política de Assistência Social – CapacitaSUAS do governo federal. 

Rosi inicia o encontro falando do grande desafio que é trabalhar em rede, primeiro porque há uma tendência a personificá-la e considerá-la como separada de nós, ao invés de compreender a rede como algo a ser construído a partir de uma dedicação coletiva e relacionada ao Sistema de Garantia de Direitos. Parte, então, de uma breve apresentação sobre esse sistema, quem o compõe, como se articula e sua perspectiva de proteção integral, fortalecendo o que é proposto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Aborda seus 3 eixos estruturantes -promoção/proteção, defesa e controle- nos quais participam e se articulam diferentes atores da sociedade, como parte de um processo de construção e reconstrução permanente para garantia e operacionalização de direitos.

Em seguida, a convidada apresenta os principais conceitos, características e desafios vinculados à construção de uma rede, integrando a relatos de experiências de sua prática profissional. Dentre eles, ela enfatiza a importância de desenvolvimento de uma clareza acerca de qual a atribuição de cada área, possibilitando que cada uma assuma o seu papel, a partir de relações horizontais e de processos de responsabilização, e evitando que ocorra sobreposições e omissões que acarretem em desproteções. 

Ao trazer um histórico do campo da assistência social no Brasil, abrangendo a ausência do estado no papel de proteção, o que se dá de modo mais recente, aborda como, por muito tempo, coube à sociedade civil essa ação protetiva, partindo de um lugar assistencialista e de culpabilização das pessoas. E como, ainda hoje, persistem impasses e elementos que remetem a essa história de estigmatização de indivíduos e famílias com seus direitos violados. Ela chama a atenção para as complexidades dessas situações de desproteção, envolvendo ciclos repetitivos enfrentados por essas famílias e que vão se agravando, a partir de um processo de naturalização de violências, e que exigem intervenções estruturadas e qualificadas em rede.

A noção de intersetorialidade também aparece como um fator importante na estruturação de uma rede coesa, sendo compreendida como um instrumento estratégico de otimização de saberes, competências e relações sinérgicas em prol de um objetivo comum, transcendendo um único setor da política social e construindo saberes coletivos e múltiplos, a partir de uma visão integrada do território. Nessa perspectiva, Rosi expõe uma conceitualização de rede enquanto uma estrutura na qual seus integrantes se ligam horizontalmente, e não hierarquicamente, a todos os demais, e as decisões são tomadas coletivamente. Ou seja, uma malha de múltiplos fios, a qual precisa ir tecendo cuidadosamente e que pode se espalhar por muitos lados, sem que nenhum de seus nós seja considerado principal, cada qual com sua função e importância. Quando um nó se desfaz, falha-se a proteção e a responsabilidade é de todos. 

A convidada explicita como uma rede não pode se resumir a reuniões de discussão de casos, encaminhamentos ou a disponibilização de lista de endereços, se organizando como uma integração de políticas sociais, para elaborar e avaliar possibilidades, e que é sempre perpassada por relações de poder. Por conta disso, estar atento a tais relações e preparado para compatibilizar interesses e lidar com conflitos torna-se fundamental, contribuindo para a construção de uma rede mais democrática. A habilidade de dialogar, também com os atores com os quais se tem ruídos ou incompatibilidades, é essencial, garantindo suas características de interdependência e complementação entre áreas. Assim, caminha-se em direção a um trabalho contínuo, coordenado e aberto a intervenções ampliadas, que se dê de forma descentralizada e com participação social.

Em um segundo momento da oficina, Rosi propõe uma dinâmica na qual participantes voluntários, cada qual com uma bexiga e se apresentando como representante de uma área da rede de proteção, devem jogá-las para cima e cuidar, no coletivo, para que não caiam no chão. Após esse exercício, abre-se uma discussão, com participantes e observadores, acerca de como foi a experiência, seus desafios e o que fariam diferente, vinculando ao processo de formação de uma rede. Troca-se como, ao lançar-se na rede, o trabalho e a responsabilidade passam a ser de todos, a partir de um processo planejado, colaborativo e contínuo de proteção, no qual precisa-se cuidar para que nenhuma bexiga caia.

Na parte final, ocorre também um espaço de diálogo sobre os principais desafios e possibilidades que os participantes identificam no trabalho em rede em cada território. Uma questão que surge diz respeito ao lugar de isolamento de muitos serviços, autorizando-se a não se reconhecer como potência e não reconhecendo as potências dos outros atores dessa rede de proteção. O grupo é convocado a se perceber como parte dessa rede e a assumir um lugar ativo nela, participando, tensionando e se posicionando.

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OFICINA - Perspectivas para o Futuro: Oficina Debate Desafios da Saída do Acolhimento aos 18 Anos

OFICINA - Perspectivas para o Futuro: Oficina Debate Desafios da Saída do Acolhimento aos 18 Anos

No dia 27 de novembro de 2024, o Instituto Pólis sediou a 12ª Oficina IFH | Perspectivas de Saída do Acolhimento aos 18 Anos, promovida pelo Instituto Fazendo História por meio do projeto FUMCAD-Formação Profissional. O evento contou com a participação de duas convidadas de destaque: Patrícia Rodrigues, advogada em Direitos Humanos, egressa do serviço de acolhimento e Conselheira Deliberativa do Instituto Fazendo História, e Mahyra Costivelli, psicóloga especializada em psicanálise da criança, com extensa experiência na coordenação de projetos voltados para adolescentes em transição para a vida autônoma.

Durante a oficina, Patrícia compartilhou sua história de vida, abordando os desafios enfrentados após deixar o acolhimento institucional. Expulsa de casa aos 15 anos, ela ingressou no serviço de acolhimento e, posteriormente, precisou enfrentar dificuldades relacionadas à moradia, emprego e acesso à educação. Sua trajetória, marcada por residências temporárias e trabalhos informais, evidenciou a necessidade de suporte contínuo a jovens que deixam o acolhimento. Foi através do Instituto Fazendo História que encontrou apoio para ingressar no ensino superior e se tornar advogada.

Mahyra Costivelli complementou a discussão destacando a importância da escuta ativa por parte dos profissionais do acolhimento. Segundo ela, compreender as demandas dos adolescentes e oferecer um suporte adequado é essencial para uma transição mais segura para a vida adulta. Mahyra reforçou ainda a necessidade de preparar os jovens para enfrentar desigualdades estruturais, como racismo e preconceito, que podem dificultar seu acesso a oportunidades e direitos.

A oficina além de oferecer estratégias para a criação de um projeto para maioridade dos acolhidos também trouxe reflexões sobre o papel das políticas públicas na promoção da autonomia dos jovens egressos do acolhimento, ressaltando que a responsabilidade pelo futuro desses adolescentes não deve recair exclusivamente sobre eles. A partir das discussões, ficou evidente que o apoio emocional, o acesso à educação e a inserção no mercado de trabalho são pilares fundamentais para garantir um futuro digno e independente.

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Programa Fazendo Minha História realiza projeto Histórias em Movimento em São Paulo

Programa Fazendo Minha História realiza projeto Histórias em Movimento em São Paulo

O Projeto Histórias em Movimento é realizado pelo Programa Fazendo Minha História com apoio do FUMCAD. Visa implementar a metodologia do trabalho com histórias de vida no contexto do acolhimento de crianças e adolescentes nas regiões Leste e Noroeste de São Paulo.

Os SAICAs participantes são: SAICA São Mateus II, SAICA São Mateus IV, SAICA Caminhando Juntos, SAICA Professora Kalu e SAICA Estrela do Amanhã II.

O projeto teve início em setembro de 2024, e desde as equipes dos serviços junto a equipe do FMH, tem se empenhado na organização inicial do trabalho para que em breve tenha início os encontros semanais entre voluntários e crianças e adolescentes para construção do álbum de memórias e mediação de leitura.

A equipe do FMH realizou visitas e reuniões com os serviços para planejar os espaços onde serão implantadas as bibliotecas, auxiliar nas escolhas de móveis e itens de decoração, construção da lista de livros, além de encontros para refletir sobre o contexto histórico do acolhimento e a importância do trabalho com histórias de vida nos Serviços de Acolhimento de Crianças e Adolescentes.

E seguimos com muito trabalho pela frente em 2025!

OFICINA – ESTRATÉGIAS EM SAÚDE MENTAL: MANEJO DA AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA

OFICINA – ESTRATÉGIAS EM SAÚDE MENTAL: MANEJO DA AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA

No dia 25 de setembro de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a décima primeira oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "Estratégias em saúde mental: manejo da agressividade e violência", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Kleber Duarte Barreto, psicólogo e supervisor clínico, que atua como pesquisador e supervisor na área de Acompanhamento Terapêutico (AT) na UNIP, além de coordenar a equipe Prosopon de AT. Desde 2004, ele supervisiona a equipe de AT do CEVAT, do Tribunal de Justiça de São Paulo e é, também, autor do livro “Ética e Técnica no Acompanhamento Terapêutico: andanças com Dom Quixote e Sancho Pança”.

Kleber abre o encontro abordando o quanto é desafiador esse tema do manejo de situações de agressividade e violência junto a adolescentes, que faz parte da rotina daqueles que trabalham nos serviços de acolhimento. Em um primeiro momento, permeado por relatos de experiências de sua prática profissional e pela abertura às questões dos participantes, ele apresentou conceitos básicos para aprofundar o olhar e a reflexão, a partir das ideias dos psicanalistas Donald Winnicott e Gilberto Safra. 

O convidado trouxe a ideia de hospitalidade como uma das condições básicas do ser humano, ligada à experiência de pertencimento, ou seja, temos a necessidade de nos inscrever na subjetividade de alguém, o que vai ganhando complexidade: desde pertencer a um grupo familiar, a uma comunidade, até a uma sociedade e à história da humanidade. Nesse sentido, há casos, quando já se perdeu a esperança de pertencer, em que se usa, como último recurso, a violência. Os comportamentos mais desafiadores de adolescentes, difíceis de suportar porque machucam e despertam ódio, podem se apresentar como formas desesperadas de buscar reconhecimento de que se pertence e está na subjetividade de outra pessoa.

Kleber também indica a agressividade enquanto um aspecto constitutivo do ser humano e que surge a partir da experiência de corporeidade do bebê, no processo de integração da dimensão somática, com a qual se nasce, a uma dimensão psíquica. Aprofundando na teoria de Winnicott, ele discute sobre a experiência de onipotência do bebê e como, à medida que o ambiente vai falhando, o que invariavelmente acontece e é necessário para que ele desenvolva seus recursos psíquicos e mentais, surge a agressividade. É por meio da agressividade que se desenvolve o princípio de realidade: quando tenta-se destruir o outro e o outro sobrevive, o bebê percebe que seu desejo de destrutividade não é tão poderoso assim. O convidado aborda a importância dos adultos sobreviverem a esse ataque e questiona como isso pode se desenrolar no contexto do acolhimento.

Kleber convoca o grupo a pensar como a violência vai ganhando complexidade conforme a criança cresce e tendo efeitos mais drásticos nas relações com o ambiente, despertando naqueles à sua volta sentimentos de raiva e ódio, os quais precisam ter um lugar de reconhecimento pelos profissionais. O ódio das crianças e adolescentes, e também dos adultos, pode se voltar para dentro, atacando o humor, a vitalidade e os vínculos internos, e se constituindo como ressentimento; ou para fora, se direcionando às pessoas de quem mais se gosta e com quem têm experiências de amor: de modo geral, quem mais nos desorganiza, é quem mais amamos. Pode-se viver esse ódio atuando nas relações, ferindo e machucando o outro, ou expressá-lo de outras maneiras, mais simbólicas.

Ele apresenta o serviço de acolhimento enquanto um lugar que deve ofertar experiências de cuidado e convivência às crianças e adolescentes, em um âmbito institucional, reproduzindo situações e relações básicas próprias do funcionamento de uma casa, para que eles se constituam e sigam suas vidas. Estas condições envolvem vivências de conflitos, presença de figuras masculinas e femininas, possibilidades de fantasias de separação e experiências de amor e ódio com uma mesma pessoa, integrando-a na relação. Traz também a relevância de pessoas de referência que sobrevivam, física e psiquicamente, aos ataques de ódio, para que, assim, os adolescentes possam perceber suas histórias de forma mais objetiva, reconhecer que as relações são compostas por coisas boas e ruins, e escolher dentro de possibilidades (não só, repetir). 

O convidado também atenta os profissionais para como a própria experiência de abrigamento é vivida pelos adolescentes como uma violência, que deixa marcas, da mesma forma que é importante reconhecer outras violências que se estabelecem, de modo silencioso, no cotidiano dos serviços e não são compreendidas como tal, tais quais situações de capacitismo, de superproteção e de ausência de limites. Ele aponta como a vivência de rupturas, enfrentamentos e conflitos, que pode envolver gestos de agressividade, é necessária para o amadurecimento do adolescente, e precisa de um ambiente acolhedor e seguro para que seja experienciada. 

Ambiente este no qual, a partir da relação com alguém mais significativo e que tenha sensibilidade para compreender o panorama no qual se deu conflito, o adolescente tenha a possibilidade de acolher em sua subjetividade essa experiência de dor e possa se situar, de maneira mais saudável e simbólica, frente à situação imediata, assim como à sua própria história. Nessa perspectiva, Kleber problematiza o lugar do castigo e da punição como formas de lidar com comportamentos desafiadores, indicando como atuam, muito mais, como tentativas de inibir, do que de transformar. E, como pensar em estratégias de interlocução, de restabelecimento da confiança e de construção de compromissos, nas quais os adolescentes tenham opções de escolha e sejam reconhecidos para além do lugar de desafio, pode ser um caminho muito mais efetivo.

Para ilustrar a ideia da experiência de habitar o coração do outro como transformadora, Kleber apresenta um trecho do documentário “Human”. Na segunda parte do encontro, os participantes se dividiram em grupos para discutir casos do cotidiano nos serviços de acolhimento, envolvendo situações de agressividade e violência com adolescentes, e depois expuseram no grupo maior, com a mediação do convidado.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

OFICINA - RELAÇÕES RACIAIS E O ACOLHIMENTO DE ADOLESCENTES

OFICINA - RELAÇÕES RACIAIS E O ACOLHIMENTO DE ADOLESCENTES

No dia 31 de julho de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a décima oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "Relações raciais e o acolhimento de adolescentes", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da cidade de São Paulo.

Convidamos Paulo Bueno, psicanalista, psicólogo, mestre e doutor em Psicologia Social. Paulo também colaborou com o Instituto AMMA Psique & Negritude de 2020 a 2021 e é autor de Coisas que o Pedro me ensina: crônicas de uma paternidade.

Paulo iniciou o encontro com os questionamentos: Como pensar as relações raciais na adolescência no contexto do acolhimento institucional? E como podemos desenvolver uma prática em Serviços de Acolhimento que possa ser identificada como antirracista?

Para refletir sobre uma prática antirracista, Paulo convidou todos a pensar sobre o que é o racismo, apresentando os elementos que compõem essa violência.

O racismo pressupõe a presença de três elementos. O primeiro é a construção da diferença. Para se falar de racismo, é necessário considerar a diferença como uma construção histórica. Não se trata apenas de constatação, mas de uma diferença específica em caracteres raciais que ganha propriedades ao longo do tempo. Nesse sentido, a diferença presente na noção de raça é construída, não como uma invenção, mas como uma categorização — por exemplo, entre raças branca, negra, amarela e indígena.

A diferença, por si só, pode produzir discriminação. Quando pensamos em outras formas de diferença que não são necessariamente raciais, encontramos formas discriminatórias — uma separação, critérios de segregação. Porém, nesse primeiro elemento, ainda não se inclui a ideia de negatividade presente no racismo.

Pode haver discriminação positiva; inclusive, pode-se encontrar valor nela, uma vez que o conceito de igualdade tende a nivelar diferenças, o que pode ser problemático. Por isso, no campo das políticas públicas, opta-se por políticas de equidade em vez de políticas de igualdade. Reconhecemos as diferenças e, assim, promovemos uma discriminação positiva que possibilita políticas de equiparação, como a política de cotas raciais.

O segundo elemento que compõe a noção de racismo é a hierarquia. Além de constatar a diferença, há também a sua hierarquização, algo que foi fomentado pelo colonialismo.

O colonialismo, ao inventar as raças, imediatamente hierarquizou entre aqueles que são considerados racionais e aqueles que não seriam dotados dessa capacidade. Os mais próximos de uma civilidade conforme os padrões europeus — ainda que existam outras civilizações com diferentes formatos — são escolhidos como modelo civilizatório, com outras sociedades sendo vistas como primitivas.

A diferença, combinada com a hierarquia, gera não apenas discriminação, mas também preconceito, pois a hierarquização implica uma inferioridade inata, socialmente construída em relação a determinado grupo.

Por fim, o terceiro elemento fundamental para a construção do racismo é o poder. Há uma distribuição desigual nas relações raciais; além da hierarquização, o poder se concentra em um determinado grupo — o grupo branco — em comparação com os demais grupos racializados. Paulo trouxe para a discussão Grada Kilomba, que aponta que o racismo, necessariamente, está relacionado à supremacia branca. Isso se torna claro quando observamos que o poder, os bens materiais e os bens simbólicos estão concentrados nas mãos da branquitude.

Ao incluir o elemento do poder na definição de racismo, entende-se por que não é possível falar em racismo contra si próprio. Não existe racismo contra si próprio, pois a dinâmica de poder fará com que práticas e discursos racistas sejam voltados contra a própria população negra. Paulo exemplificou que, se ele se posicionar contra as cotas raciais, no futuro, as crianças de sua família serão prejudicadas. Nesse sentido, a noção de racismo contra si próprio não se sustenta, pois é necessário considerar o poder nas relações raciais.

Paulo explicou que o conceito de "racismo reverso" é impreciso. Mesmo que ocorram comportamentos hostis de indivíduos negros contra indivíduos brancos com base em raça, essas ações não se enquadram na definição de racismo, pois a dinâmica de poder subjacente permanece inalterada, sendo este um elemento crucial na definição de racismo.

A noção de racismo apresentada por Paulo Bueno se sustenta na diferença, hierarquia e poder, diferenciando as categorias de racismo, preconceito e discriminação, que não são sinônimos. No racismo, há discriminação e preconceito; no preconceito, há discriminação, mas não necessariamente racismo.

Paulo avançou na definição de racismo, diferenciando o racismo estrutural do racismo institucional, que, por sua vez, difere do racismo cotidiano. Na oficina, ele abordou em mais detalhes essas distinções e como o racismo se manifesta nas instituições, assim como os impactos que os jovens negros acolhidos sofrem em seu dia a dia.

Paulo Bueno é psicanalista, psicólogo (PUC-SP), mestre e doutor em Psicologia Social (PUC-SP). Ele também colaborou com o Instituto AMMA Psique & Negritude (2020-2021) e é autor de Coisas que o Pedro me ensina: crônicas de uma paternidade. Além disso, atua como supervisor clínico e institucional, é docente no Instituto Gerar de Psicanálise, pesquisador do Núcleo Psicanálise e Sociedade (PUC-SP) e professor convidado do Programa Fellowship (2021-2022) da Columbia University.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

PROJETO - Histórias em Movimento

PROJETO - Histórias em Movimento

Apresentação do projeto: Histórias em Movimento para os serviços de acolhimento selecionados

É com muita alegria que o Instituto Fazendo História, em parceria com o Fundo Municipal dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes - FUMCAD, inicia o Projeto Histórias em Movimento.

Foram selecionados 5 serviços de acolhimento nas regiões leste e noroeste da cidade de São Paulo, que irão multiplicar a metodologia de trabalho do Fazendo Minha História, permitindo que crianças e adolescentes em acolhimento compartilhem suas experiências de vida com voluntárias(os), de forma afetiva, a fim de contribuir para a construção e o fortalecimento de suas identidades, valores e ideias.

Os serviços selecionados são:

SAICA São Mateus II

SAICA São Mateus IV

SAICA Caminhando Juntos

SAICA Professora Kalu

SAICA Estrela do Amanhã II

Este projeto é realizado com o apoio do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e dos Adolescente - FUMCAD, com o apoio das empresas: Pernambucanas, Stima, Singulare, Velt, Casa Bauducco e Credit Suissse Hedging-Griffo Wealth Management SA.

PLANO ANUAL INSTITUTO FAZENDO HISTÓRIA - SERVIÇOS SELECIONADOS

PLANO ANUAL INSTITUTO FAZENDO HISTÓRIA - SERVIÇOS SELECIONADOS

COM APOIO DO MINISTÉRIO DA CULTURA, O FAZENDO MINHA HISTÓRIA ESTABELECE PARCERIA COM 14 SERVIÇOS DE ACOLHIMENTO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS MUNICÍPIOS DE MACEIÓ E REGIÃO METROPOLITANA E EM ARACAJU E REGIÃO METROPOLITANA.

É com muita alegria que divulgamos em primeira mão os 14 serviços de acolhimento contemplados pelo projeto "PLANO ANUAL INSTITUTO FAZENDO HISTÓRIA", que contempla serviços de acolhimento dos estados de Alagoas e Sergipe. Abaixo seguem as unidades selecionadas.

1. Abrigo Institucional Luzinete Soares de Almeida (AL)

2. Serviço de Acolhimento Institucional Acolher (AL)

3. Acolhimento Institucional Casa Lar SEMDES (AL)

4. Casa Lar de Rio Largo (AL)

5. Serviço de Acolhimento Institucional Rubens Colaço (AL)

6. Unidade de Acolhimento Para Crianças e Adolescentes de Pilar (AL)

7. Casa Lar Aconchego (AL)

8. Unidade de Acolhimento Sorriso (SE)

9. Unidade de Acolhimento Caçula Barreto (SE)

10. Casa Lar 1 (SE)

11. Casa Lar 2 (SE)

12. Casa Lar 3 (SE)

13. Casa da Criança Nossa Senhora Da Vitória (SE)

14. Unidade de Acolhimento Mista Irmã Valmira (SE)

Construiremos junto com cada um dos serviços de acolhimento parceiros um espaço de leitura com 300 livros infantojuvenis. O projeto ainda prevê seminários e todo o suporte necessário para favorecer o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes acolhidos.

Parabéns aos selecionados, estamos muito felizes por fazer história com vocês!

ARTIGO - Telas, bebês e acolhimento

ARTIGO - Telas, bebês e acolhimento

Por Melina Bertholdo e Vitoria Whately

Onde estamos?

Além de necessitar de supervisão em tempo integral, bebês e crianças pequenas solicitam constantemente nossa atenção, afeto e proximidade física. Diante dessas demandas intensas, muitos cuidadores recorrem às telas como forma de distrair as crianças e poder dedicar algum tempo a outras funções, ou mesmo para ter alguns minutos de descanso. Recorrer à chupeta eletrônica é uma estratégia compreensível, além de tremendamente eficaz. E, visto que o mundo ao redor é cada vez mais um mundo de telas, esta fica parecendo a saída natural, ou mesmo a entrada na cultura.

São algumas, a essa altura, as gerações criadas na frente da televisão. Essas pessoas acabam com muita tranquilidade dando continuidade ao tipo de criação que receberam, entendendo que "é assim que se faz". E, com as novas tecnologias e crescente cultura digital, as telas têm aparecido cada vez mais cedo e de maneira mais intensa na vida de bebês e crianças pequenas. De berços com tablets no lugar de móbiles a adultos convictos de que estão fazendo o melhor ao introduzir desde cedo seus bebês ao mundo virtual - no qual certamente um dia terão que participar - a cultura contemporânea facilita a introdução precoce às telas.

Quando voltamos nossa atenção para os SAICAS (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes), onde uma equipe frequentemente reduzida precisa atender às necessidades de crianças e adolescentes de diversas idades, é comum observar a prática estabelecida de deixar os bebês em frente à televisão por períodos prolongados. Muitas vezes, esses bebês são colocados em seus carrinhos voltados para a TV, que pode estar sintonizada em um canal infantil ou em um programa especificamente voltado para bebês.

As telas são vistas não apenas como um auxílio para a equipe, mas como um estímulo positivo para o desenvolvimento infantil. Desta forma, além de uma facilidade, a televisão ocupa o lugar de um cuidador a mais da instituição, que proporciona companhia e estímulo a esses bebês.

Seja em um SAICA, no ambiente doméstico ou num espaço público, o resultado é uma ordem aparente, uma vez que as luzes e sons atraem e mantêm a atenção dos bebês que, retirados do convívio, deixam a sensação de um ambiente calmo e organizado.

Mas afinal, por que ordem aparente? Por que introdução precoce?

Qual o problema?

Desde o advento dos celulares smartphone e uso massivo da internet, apenas uma geração nasceu e cresceu. Ou seja, tivemos pouco tempo para entender os efeitos de um uso que, enquanto falamos, já está se transformando para adquirir novas formas e características. A intensidade crescente do uso de telas parece estar mobilizando esforços de pesquisa sobre exposição precoce mesmo no que tange a tecnologias mais antigas como a televisão (ver fontes bibliográficas ao final). O fato é que já sabemos um tanto e temos informação o suficiente para afirmar que as telas de forma geral podem ser extremamente prejudiciais para bebês e crianças pequenas.

Não à toa, a Organização Mundial da Saúde recomenda que bebês com menos de dois anos de vida não tenham nenhum tempo de exposição às telas. Após esse período inicial, as telas devem ser introduzidas de maneira limitada, progressiva e supervisionada durante toda a infância e adolescência. As demais instituições de saúde, em nível nacional e internacional, seguem na esteira das recomendações da OMS.

Ou seja, voltando aos bebês na frente da TV, é importante destacar que não existe programação verdadeiramente adequada para esta faixa etária.

Em uma pesquisa de 2015 (ver referências ao final) comparando crianças de 15 a 35 meses expostas frequentemente à TV com crianças não expostas ou com baixa exposição, verificou-se risco aumentado de atraso no desenvolvimento cognitivo, motor e da linguagem, proporcional ao tempo de exposição à televisão. Ou seja, quanto mais tempo na frente da TV, maior o risco. Uma outra pesquisa (2012) mostra que a televisão como pano de fundo, ligada no mesmo ambiente em que a criança está mesmo que esta não esteja prestando atenção, afeta negativamente o uso e aquisição da linguagem, a atenção, o desenvolvimento cognitivo e a função executiva - ou seja, a capacidade de processar informações e tomar decisões - em crianças com menos de cinco anos. Além dos impactos cognitivos, há impacto no desenvolvimento social: a exposição precoce reduz a quantidade e qualidade das interações entre pais e filhos - ou adultos cuidadores e crianças - e distrai a criança do brincar.

Uma outra pesquisa de 2022, que comparou grupos de crianças em idade pré-escolar com maior e menor tempo de exposição às telas, apontam diferenças significativas, com prejuízo para o primeiro grupo, no que diz respeito a problemas psicopatológicos, sobrepeso e obesidade, problemas do sono e distúrbios alimentares. A lista de males segue com cada nova pesquisa consultada: prejuízo no desempenho acadêmico, desenvolvimento social e emocional, depressão e ansiedade, prejuízo na capacidade de interpretar emoções, comportamento agressivo, redução na saúde física e no bem-estar geral.

Por que é tão problemático assim?

Como quase tudo na vida, as telas podem ter um uso positivo e um uso negativo. Isso se relaciona à qualidade do conteúdo consumido e também ao tempo de uso. Isso vale para crianças e para adultos também. Costumamos pensar que o cérebro se desenvolve na infância e depois para de se modificar. No entanto, ele segue se modificando ao longo de toda a vida.

Miguel Nicolelis, neurocientista brasileiro, alerta que as telas, particularmente os smartphones, podem alterar a fisiologia (função) e mesmo a morfologia (forma) do cérebro. O cérebro se molda às circunstâncias a que o indivíduo é exposto - é a chamada neuroplasticidade. Essa característica permite a criação bem como a perda de sinapses, em função do uso e desuso das mesmas. Nicolelis é contundente: as pesquisas atuais sugerem, e devem indicar cada vez mais, que os celulares estão moldando o nosso cérebro em prejuízo das funções da memória, criatividade, intuição e mesmo empatia. Isso vale para todos, inclusive adultos. O conceito da parentalidade distraída vem para mostrar que o uso excessivo de celulares incide também indiretamente sobre as crianças: como fica a relação quando os cuidadores estão ali só de corpo presente, imersos no virtual?

Por mais que o uso de telas tenha efeitos para todos, a infância é a época da neuroplasticidade por excelência. É quando o cérebro está, mais do que nunca, apto a adquirir novas vias de conexão e abandonar outras. Nesse período, há o que se chama de uma janela de oportunidade, ou seja, é ali que certas funções muito importantes, como a linguagem, devem se consolidar. A infância, particularmente a primeira infância, é quando se dá não só o desenvolvimento orgânico, cognitivo e motor das crianças, como também se estabelecem suas relações sociais e afetivas.

E é por isso que, no cruzamento entre os efeitos das telas sobre o cérebro humano e o período da vida onde esse mesmo cérebro está em pleno desenvolvimento, o cenário é um pouco mais complicado. E não há escapatória: quanto mais cedo a exposição, pior. E, mais uma vez, não há quantidade adequada de exposição a telas para bebês.

Julieta Jerusalinsky, psicanalista com extenso trabalho de prevenção em saúde mental na primeiríssima infância, fala que, dos 0 aos 3 anos de idade, temos um tempo de apropriação do corpo. O bebê descobrirá sua própria organização corporal, verá que no espelho o que está ali é ele mesmo e se dedicará a explorar as possibilidades de relações com o mundo: alcançar objetos, colocá-los na boca, se virar, engatinhar, andar, sorrir e receber sorrisos de volta, chamar e ser atendido, entrar em diálogos sonoros com seus cuidadores, perceber as sucessivas desregulações pelas quais seu corpo passa e aos poucos se apropriar delas, sejam fome, sono, frio, calor, frustração. Nesse cenário, a tela captura o bebê para fora de si mesmo e das relações com o outro, o corpo e o espaço.

Em alguns casos, vemos que os cuidadores confundem a captura que as telas produzem nos bebês com uma relação de prazer construtiva, dizendo-nos que "eles gostam" da TV ou do celular. Uma comparação pode ser elucidativa. Da mesma forma que alimentos industrializados são palatáveis, fáceis de serem gostados, telas e brinquedos eletrônicos tendem a ser preferidos pelas crianças quando estão disponíveis. Isso não significa que são mais saudáveis. Pelo contrário, os ultraprocessados empobrecem e mesmo "viciam" o paladar, visto que possuem aditivos que intensificam certos sabores naturalmente atraentes para a espécie humana. Os eletrônicos, por sua vez, expõem o cérebro a estímulos constantes, alterando as vias de recompensa do cérebro, empobrecendo as possibilidades de interação com o mundo. O uso de telas e brinquedos eletrônicos que "brincam por si mesmo" antagonizam a exploração e o brincar de qualidade para o bebê e a criança.

As alternativas

Portanto, é crucial promover uma reflexão coletiva e, quando o assunto são os SAICAs, implementar mudanças práticas no nível institucional. A primeira etapa é reavaliar a utilização das telas e conscientizar as equipes sobre seus efeitos no desenvolvimento dos bebês. É necessário realizar um amplo trabalho de formação e sensibilização para estabelecer diretrizes claras sobre o uso de telas dentro dos SAICAS e outras instituições que atendem à infância.

Algumas atitudes simples já podem exercer uma enorme mudança. Ao invés da TV, é possível, por exemplo, deixar os bebês dentro do chiqueirinho ou no chão com brinquedos à disposição. Em um momento em que estejam todos na sala, os bebês podem estar presentes sem necessariamente estarem expostos diretamente à TV. É possível acomodá-los de modo que possam observar as pessoas, deixando-os de costas para a TV. A TV pode também ser utilizada apenas para tocar alguma música para os bebês, enquanto esses estão nos seus carrinhos olhando para um outro ambiente e com objetos interessantes para explorar.

Enfim, o Governo Federal está desenvolvendo o "Guia para Uso Consciente de Telas por Crianças e Adolescentes", que deverá ser lançado até o final de 2024. Este guia tem o potencial de transformar as práticas institucionais e promover um ambiente mais saudável e adequado para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Lembremos também que muito se fala sobre a importância de oferecer estímulos ao bebê. Mas de qual estímulo de fato se trata? Os estímulos positivos para o desenvolvimento envolvem participação ativa do bebê, ao contrário da relação de passividade, ou de recompensa imediata, que as telas promovem. Estimular o desenvolvimento cognitivo do bebê costuma ser muito mais simples do que as pessoas tendem a pensar. Elementos presentes na maioria das casas são necessários e suficientes, como por exemplo paninhos, colheres de madeira e de forma geral objetos que possam ser segurados pelo bebê e levados à boca. O bebê precisa também de tempo no chão, no qual possa testar seus apoios e descobrir como se relaciona com a gravidade e o que seu corpo pode fazer no espaço. Os objetos oferecidos ao bebê e criança pequena devem, em última instância, abrir caminho para o brincar, atividade central para o desenvolvimento.

Mais do que tudo, na infância, o estímulo mais importante é o social e afetivo. O tempo de qualidade com um adulto cuidador é a base sobre a qual tudo se estabelece. Estar perto de um adulto que se interesse pelo bebê, respeite seu tempo, celebre suas conquistas, compartilhe momentos de alegria, ofereça aconchego e dê apoio à exploração e aprendizagem naturais do bebê será fundamental para seu bom desenvolvimento.

Materiais de referência:

Intoxicações eletrônicas na primeira infância, entrevista com Julieta Jerusalinsky

Entrevista com Miguel Nicolelis, sobre o mundo digital e fisiologia e morfologia do cérebro

Movimento desconecta

Matéria do Hospital Einstein sobre o tema

Entrevista com Julieta Jerusalinsky

Guia para uso consciente de telas do governo federal

Perfil do pediatra Daniel Becker:

Dados brasileiros sobre infância e telas:
https://www.instagram.com/p/C7rgajKMrVg/

Qual a melhor tela quando preciso de um tempo para fazer minhas tarefas? https://www.instagram.com/p/C-TlDQLJS5Y/

4 sugestões para uma infância mais saudável na era digital: https://www.instagram.com/p/C9imYx8pdak/?img_index=1

Pesquisas:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25544743/

https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/14054

https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12889-022-12701-3

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10353947/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5823000/

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https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23027166/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8905397/