No dia 30 de agosto o Instituto Fazendo História realizou a oficina “Racismo e Infância”, que contou com a participação da pedagoga Luciana Alves, mestre em educação pela USP, doutoranda em educação na UNICAMP e consultora no Centro de Estudos e Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e autora do livro “Ser branco” e de artigos científicos sobre relações raciais e da psicóloga Marleide Soares, que trabalhou com adolescentes em medidas socioeducativas e com crianças e adolescentes em acolhimento institucional e realiza palestras e aulas na temática do racismo na infância e orientações a famílias e educadores para o enfrentamento do racismo.

            Luciana iniciou sua fala contando sobre sua trajetória - em uma de suas primeiras experiências como professora de uma sala de quarta série do ensino fundamental no ensino público verificou que praticamente todas as crianças naquele grupo eram repetentes e eram negras ou pardas. Contou que, através de uma bolsa, conseguiu desenvolver um trabalho de reforço com essas crianças e no final do projeto foi descobrindo nelas diversas potencialidades que não eram visualizadas ou valorizadas por conta de suas invisibilidades. Faz uma afirmação através desta experiência, de que o fenômeno do racismo impacta mais do que a autoestima das crianças. Apresentou sua última pesquisa em parceria com a PORTICUS e CEERT, intitulada Relações Raciais e Infância – Um balanço do debate científico brasileiro. A pesquisa levantou 104 artigos do portal BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações) sendo os descritores de busca (palavras chave): “Racismo e educação infantil”, “Relações Raciais e Infância”, “Criança e Racismo” e “Racismos e Infância”. Dos trabalhos levantados, a grande maioria correspondia a área da educação. Os estudos foram divididos em 3 grandes núcleos para estudo: Racismo Institucional, Educação para as relações étnico-raciais e Subjetividade negra e branca. Luciana explanou sobre suas pesquisas, mostrando a intensidade das violências que são possíveis de se verificar através do levantamento dessas pesquisas e dos seus desdobramentos.

            Em seguida, Marleide iniciou sua fala sobre Racismo e Infância, informando que se atentaria mais aos aspectos psicológicos e do desenvolvimento da pessoa que sofre a violência do racismo, destacando que essa violência se inicia desde a vida intrauterina. Destacou a importância das escolas falarem sobre o tema racismo, uma vez que o ambiente escolar é responsável por grande parte do desenvolvimento infantil. Utilizando a teoria de Masud Khan apresentou a definição de que o trauma resulta de falhas da pessoa que cuida, fazendo um paralelo com os cuidadores/educadores dos serviços de acolhimento que são os responsáveis temporários por serem esse “escudo protetor” dos traumas dentro dos SAICAs. Marleide levantou um questionamento sobre quais são os ambientes potencialmente traumáticos da nossa sociedade, concluindo que são os espaços de relações sociais, iniciando pelo familiar e em seguida a comunidade em geral (condomínios, praças, parques, escolas). Por fim trouxe em sua conclusão por que devemos combater o racismo desde a infância, uma vez que essas marcas ficam estabelecidas nas pessoas de forma muito intensa . Muitas vezes as crianças crescem sem saber “nomear e entender” essa vivência, e isso fica “marcado no corpo psíquico” das pessoas que sofreram racismo na infância. Para refletir, trouxe dicas sobre como trabalhar o racismo nestes ambientes de relações sociais no contexto das crianças (família, escola) e também nos SAICAs destacando a inclusão da temática antirracista na formação técnica dos funcionários, e também promover atividades e rodas de conversas com as crianças e adolescentes, ofertar e trabalhar com livros, atividades, filmes que estejam ligados à temática, propor jogos e atividades (quiz) relacionados ao tema, e também promover festas com temas que incluam a cultura afro-brasileira. 

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