No dia 29 de novembro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quinta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O trabalho com famílias de adolescentes em acolhimento". O encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Milena Maciel, psicóloga, mestre e doutora em psicologia. Milena inicia o encontro convidando as participantes a indicarem palavras que, para elas, definem o que é família. Partindo dessas ideias, que remetem a um lugar de cuidado e proteção e às próprias referências e vivências do grupo, ela provoca a pensar como, nem sempre, as famílias que convivemos e atuamos vão corresponder a esses elementos. A convidada aborda as várias formas de família que existem e as diversas relações que acontecem no contexto familiar, para além de um modelo padrão que ainda prevalece em muitos discursos. 

No primeiro momento do encontro, Milena promove uma reflexão sobre como a família se torna a nossa primeira noção de comunidade, onde iremos construir nossa história de vida e somos também construídos. Ela cita o Estatuto da Criança e adolescente (ECA) para ampliar o conceito, incluindo a família extensa, para além da nuclear, e outras figuras de referência com quem se tem vínculos de afinidade e afetividade. A partir da experiência de construção de uma árvore genealógica da família e também da apresentação de dados do Censo (IBGE), a convidada discute como a ideia de família na sociedade foi se transformando ao longo do tempo e das gerações, em termos de grau de escolaridade e educação, lugares ocupados por homens e mulheres e tamanho das famílias, por exemplo.

Milena aborda o termo “família desestruturada”, o qual circula hoje em muitos espaços e vem normalmente atrelado às famílias em situação de vulnerabilidade social e de pobreza, como forma de questioná-lo dentro do Sistema de Garantia de Direitos, considerando que a falta de estrutura não pode ser direcionada às famílias, mas sim a um sistema social que não oferece, enquanto políticas públicas, o suporte para que elas se mantenham. Diferentes modelos possíveis de famílias são apresentados, indicando como essas composições convivem no cotidiano e precisam ser reconhecidas no trabalho desenvolvido pelos Serviços de Acolhimento. 

Ainda nesse primeiro momento, Milena traz para discussão uma definição de adolescência, enquanto fase de transição da infância para a vida adulta e que, assim como a família, é uma construção social que se transforma a cada tempo histórico e contexto cultural. Aborda também como é um período caracterizado por muitas mudanças físicas e psicossociais e que há diversas formas de viver a adolescência, marcada pelas experiências que se pode ter acesso. Aqui, ela se utiliza da apresentação de dados de uma pesquisa com adolescentes brasileiros para refletir como eles próprios entendem a relação com as famílias hoje, atravessada por espaços de afeto e de escuta, mas que também pode ser lugar de violências e de violação de direitos.

Ao apontar a noção de vínculo como um laço que se constitui nas trocas, nos afetos e no cotidiano, Milena afirma como função do Serviço de Acolhimento ser um espaço de desenvolvimento para adolescentes, de reconstrução e fortalecimento de vínculos e de possibilidades de novas experiências. Ela indica alguns papéis que precisam ser assumidos nesse espaço, como de identificar e conviver com a diferença e com as múltiplas formas de famílias, e de partir daquilo que elas mostram como realidade para entender suas potencialidades, fazendo uma nova provocação: como podemos trabalhar com uma família, nas novas histórias que ela pode construir, se já partimos da ideia de que ela é incapaz? 

Em um segundo momento da oficina, a convidada propõe o compartilhamento de experiências desafiadoras vivenciadas com famílias de adolescentes pelos serviços, a partir de um exercício em que, primeiro, registrou-se essas situações e, depois, trocou-se os papéis entre os grupos para se pensar estratégias possíveis para lidar com as questões. 

Antes de encerrar, Milena ainda apresenta alguns pontos importantes de serem considerados no planejamento de propostas junto às famílias pelos Serviços de Acolhimento envolvendo, por exemplo, como esses espaços se preparam para escutar, recebê-las e o trabalho de ouvir o adolescente sobre suas vinculações e afetos para pensar junto com ele possibilidades de reinserção. Também compartilha algumas ações e recursos para se desenvolver com as famílias, enfatizando a potência do trabalho em grupo que possibilite espaços coletivos de aproximação e reflexão.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

Milena Maciel é psicóloga, mestre e doutora em psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela é também professora de Psicologia do Desenvolvimento Humano e coordena grupos de preparação para adoção e para apadrinhamento afetivo.