No dia 09 de agosto o Instituto Fazendo História realizou a oficina “Regras e rotina”, que contou com a participação de Cristina Rocha Dias, educadora, psicanalista, mestre em Psicologia Clínica pelo IPUSP, membro do Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL-USP), membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes, Supervisora institucional e de projetos no campo da infância e adolescência.

Cris Rocha iniciou sua fala e partiu com uma pergunta disparadora - “Qual a diferença entre regras e limites? Será que são a mesma coisa?”. Foi pontuando que o limite é a linha - real ou imaginária - que delimita um contorno, uma fronteira que se estabelece a partir de uma construção subjetiva. Já a regra é aquilo que regula, que diz respeito a uma norma ou princípio, delimitada por uma lei ou costume. A maneira como entendemos essa diferença marca não apenas a criança, mas principalmente, o nosso modo de atuar dentro do acolhimento. Portanto, regras e rotinas estão relacionadas.

Em seguida, a palestrante foi trazendo reflexões e provocações bastante pertinentes aos participantes da oficina, onde foi possível compreender que o imprevisto também faz parte da rotina de uma organização de acolhimento e que o limite é construído aos poucos, leva um tempo. A regra precisa ser compartilhada, há que ser construída junto, entre equipe e com as meninas e meninos. A rotina passa a não funcionar quando cada adulto/profissional passa a fazer do seu jeito e, quando se trabalha em equipe, é necessário abrir mão do olhar individual e ver o que faz sentido para esse coletivo, que são os adultos, as crianças e os adolescentes.

Ainda, Cris Rocha aqueceu a discussão partindo da premissa de que muitas vezes o conflito surge quando as regras são estabelecidas a partir de princípios contraditórios, produzindo efeito direto no trabalho dos educadores com as crianças e adolescentes. É fundamental considerar que essa transmissão só se sustenta em equipe, quando podemos compartilhar e debater os princípios que regulam as nossas ações, bem como as diferenças de valores e crenças de cada profissional.

Para tanto, Cris abarcou sobre a importância de antes de se pensar nas regras e rotinas, que o serviço de acolhimento olhe primeiramente para cada função dos profissionais que ali estão e entenda essas construções sobre o que é regra e o que é limite para o adulto – onde vigiar e controlar é diferente de proteger e cuidar. A rotina é um organizador daquele ambiente, é preciso saber o que essas crianças e adolescentes pensam, como eles entendem aquelas regras e as rotinas do serviço, e só é possível construir isso em conjunto/juntos, dialogando e trocando.

Cris ainda pontuou que a partir de um comportamento agressivo de uma criança ou de um adolescente pode-se perceber como ele entende aquela regra. Algo através dessa agressividade está sendo dito e é preciso perceber se aquela regra não está sendo vista como uma punição, e desconstruir essa lógica punitivista na qual estamos inseridos. Muitos serviços ainda utilizam termos como: “medidas”, “disciplinas”, “sanções”. Há que se tomar muito cuidado para que não fiquemos enrijecidos nas regras. Quebrar uma regra, ou não acatá-la, diz muito mais do que uma obediência - é preciso trabalhar essa escuta com as meninas e os meninos.

Em seguida, a palestrante enfatiza que existe um grande receio do educador de ocupar um lugar de autoridade. Podemos entender autoridade a partir da filósofa Hannah Arendt que traz um conceito diferente de exercer um poder, mas que vem de autoria, ou seja, precisamos ser autores e sustentar aquilo que estamos propondo, sustentar sua palavra. Por fim, a oficina chegou ao final e Cris Rocha encerrou sua participação lendo um texto de Valter Hugo Mãe “Os Professores”. Algumas pessoas pediram para comentar ao longo da apresentação e o encontro foi muito bem avaliado por todos os participantes da rede socioassistencial da cidade de São Paulo.

Em breve a oficina estará disponível na íntegra no canal do YouTube do Instituto Fazendo História!

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