OFICINA – Estratégias e Reflexões sobre o Projeto Político Pedagógico

OFICINA – Estratégias e Reflexões sobre o Projeto Político Pedagógico

No dia 31 de janeiro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a sexta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "ESTRATÉGIAS E REFLEXÕES SOBRE O PPP". O encontro foi direcionado aos profissionais da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

Para esse encontro, convidamos Valéria Pássaro, pedagoga e especialista em educação e acolhimento, para conduzir esta oficina. A palestrante compartilhou sua experiência na construção do PPP no serviço em que trabalhou por muitos anos, abordando os desafios, conquistas, preocupações e algumas das estratégias que ela implementou. Ela inicia sua abordagem com uma observação crítica sobre o papel do pedagogo nos serviços de acolhimento. Ela destaca que a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) não é uma responsabilidade exclusiva desses profissionais, fazendo um alerta: "Não solicitem aos pedagogos que resolvam os problemas dos projetos políticos pedagógicos das instituições".

Valéria ressalta a inadequação de simplesmente copiar e colar o PPP, já que ele está intrinsecamente ligado à realidade específica de cada serviço de acolhimento. Ela argumenta que uma instituição com diversos serviços não pode criar um PPP genérico que sirva para todos os espaços, enfatizando a necessidade de que cada serviço tenha o seu próprio PPP. Isso se deve à singularidade de cada grupo, composto por profissionais ou acolhidos com diferentes vivências. Valéria destaca a importância de ouvir todas as partes envolvidas e exemplifica, questionando se, por exemplo, o PPP prevê um trabalho com a família que, para a especialista, é fundamental. 

A palestrante enfatizou que a construção do PPP deve ser realizada no serviço e por aqueles que ali estão e destacou a importância de valorizar as vivências das crianças e adolescentes acolhidos, tanto na elaboração quanto na garantia do seu desenvolvimento.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

Valéria Pássaro é pedagoga e especialista em educação e acolhimento. Com uma vasta experiência, ela atuou como coordenadora na Casa das Expedições e atualmente desempenha o papel de diretora executiva na Moradia Associação Civil. Ao longo de mais de 30 anos dedicados à área de acolhimento institucional, esteve na vanguarda das mudanças, não apenas nas legislações pertinentes, mas também nas propostas de acolhimento e em como essas transformações impactam os diversos equipamentos.

OFICINA – O Trabalho em Rede: Construindo estratégias a partir do Território

OFICINA – O Trabalho em Rede: Construindo estratégias a partir do Território

No dia 24 de janeiro de 2024, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Capacitação em Serviços de Acolhimento, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O trabalho em rede: construindo estratégias a partir do território", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Rafael Sá Martins, educador social, graduado em história, especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo. E Thamara Sauini, cientista ambiental, mestre e doutora em biologia química. 

Thamara apresenta uma definição de território, enquanto espaço formado por meio de ações realizadas por determinados atores que levam à sua apropriação, e convida o grupo a refletir sobre as formas nas quais estão inseridos nos territórios que moram e trabalham. Ao usar exemplos de marcos em São Paulo, contextualizando como eram antigamente e o que se tornaram a partir de pressões urbanas, ela indica como o território está estritamente vinculado com as noções de enraizamento, identidade, lugar de vida e relações cotidianas. 

Ao apresentar a ideia de cidade como um sistema vivo que absorve experiências, Thamara traz o que seria uma educação socioambiental, despertando os participantes para uma nova forma de pensar e olhar para o território. Ela aponta como isso envolve um diagnóstico de que território é esse, de suas dinâmicas e interações, compreendendo o espaço enquanto um sistema integrado com a natureza, onde se compartilha recursos com ela, e não acima dela. Cita, também, a noção de trilhas urbanas, como espaços pedagógicos que possibilitam uma “quebra” nas rotinas escolares, partindo do reconhecimento de diferentes elementos, serviços ambientais e usos que podemos fazer dos espaços e áreas verdes no entorno. 

Ainda se utilizando de imagens com diferentes paisagens, a convidada segue instigando os participantes a identificarem os elementos presentes para além do que se enxerga, a refletirem sobre a ação do homem em relação à natureza e os diversos usos e relações possíveis com os territórios a partir de diferentes culturas e tempos históricos. Por fim, ela propõe uma atividade prática, de produção de desenhos sobre o lugar onde trabalham e dos elementos que lembram dessa região, incluindo aquilo que enxergam e não enxergam, o que sentem, o que conhecem e não conhecem, sua vegetação, fauna, flora e aspectos sociais e econômicos. Essa atividade proporcionou uma troca muito rica no grupo e novas possibilidades de olhar para esses territórios e de fazer articulações com seus recursos.

Em um segundo momento, Rafael assume a fala, questionando ao grupo quais são os diferentes serviços presentes na oficina e em que regiões se encontram. Ele indica como pensar o trabalho em rede a partir da perspectiva do território faz com que a abordagem se torne diferente da usual, na qual prevalece a ideia de que a rede não funciona. Assim, partindo de suas experiências, o convidado traz reflexões sobre diferentes tipos de redes existentes, puxadas por serviços diversos, formais e informais, e com recortes temáticos. E, se aproximando do foco do público do encontro, apresenta um conceito de rede como um conjunto de ações, programas, serviços, projetos públicos e privados que atuam de forma integrada, garantindo os direitos das crianças e dos adolescentes.

Em seguida, Rafael convida o grupo a ampliar a definição de território como espaço físico e social onde crianças e adolescentes vivem e interagem, trazendo algumas provocações: como que o território influencia no processo de desenvolvimento dessas crianças e adolescentes?

Como possibilitamos às crianças e adolescentes estarem em seus territórios, potencializando quem são e podem ser?

Ele convoca a pensar sobre elementos, ausências e presenças, espaços e políticas públicas, a partir da perspectiva das crianças e do adolescentes que têm um papel significativo em seu cotidiano.

O encontro finaliza com uma breve exposição de ferramentas que podem fortalecer o reconhecimento e apropriação dos profissionais em relação ao território em que estão inseridos, visando potencializar o trabalho com as crianças, adolescentes e suas famílias.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui.

Rafael Sá Martins é educador social, graduado em história, especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo e Gestão e Planejamento de Processos Pastorais e Pedagógicos, e assessor da Tocando em Frente Assessorias, acompanhando o trabalho de organizações sociais que atuam com crianças e adolescentes na cidade de São Paulo.

Thamara Sauini é cientista ambiental, mestre e doutora em biologia química pela UNIFESP, técnica em turismo, e desde 2018, atua como educadora no Instituto Trilhas pesquisando áreas verdes, monitorando trilhas interpretativas e elaborando materiais educativos. 

OFICINA – O Trabalho com Famílias de Adolescentes em Acolhimento

OFICINA – O Trabalho com Famílias de Adolescentes em Acolhimento

No dia 29 de novembro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quinta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema "O trabalho com famílias de adolescentes em acolhimento". O encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Milena Maciel, psicóloga, mestre e doutora em psicologia. Milena inicia o encontro convidando as participantes a indicarem palavras que, para elas, definem o que é família. Partindo dessas ideias, que remetem a um lugar de cuidado e proteção e às próprias referências e vivências do grupo, ela provoca a pensar como, nem sempre, as famílias que convivemos e atuamos vão corresponder a esses elementos. A convidada aborda as várias formas de família que existem e as diversas relações que acontecem no contexto familiar, para além de um modelo padrão que ainda prevalece em muitos discursos. 

No primeiro momento do encontro, Milena promove uma reflexão sobre como a família se torna a nossa primeira noção de comunidade, onde iremos construir nossa história de vida e somos também construídos. Ela cita o Estatuto da Criança e adolescente (ECA) para ampliar o conceito, incluindo a família extensa, para além da nuclear, e outras figuras de referência com quem se tem vínculos de afinidade e afetividade. A partir da experiência de construção de uma árvore genealógica da família e também da apresentação de dados do Censo (IBGE), a convidada discute como a ideia de família na sociedade foi se transformando ao longo do tempo e das gerações, em termos de grau de escolaridade e educação, lugares ocupados por homens e mulheres e tamanho das famílias, por exemplo.

Milena aborda o termo “família desestruturada”, o qual circula hoje em muitos espaços e vem normalmente atrelado às famílias em situação de vulnerabilidade social e de pobreza, como forma de questioná-lo dentro do Sistema de Garantia de Direitos, considerando que a falta de estrutura não pode ser direcionada às famílias, mas sim a um sistema social que não oferece, enquanto políticas públicas, o suporte para que elas se mantenham. Diferentes modelos possíveis de famílias são apresentados, indicando como essas composições convivem no cotidiano e precisam ser reconhecidas no trabalho desenvolvido pelos Serviços de Acolhimento. 

Ainda nesse primeiro momento, Milena traz para discussão uma definição de adolescência, enquanto fase de transição da infância para a vida adulta e que, assim como a família, é uma construção social que se transforma a cada tempo histórico e contexto cultural. Aborda também como é um período caracterizado por muitas mudanças físicas e psicossociais e que há diversas formas de viver a adolescência, marcada pelas experiências que se pode ter acesso. Aqui, ela se utiliza da apresentação de dados de uma pesquisa com adolescentes brasileiros para refletir como eles próprios entendem a relação com as famílias hoje, atravessada por espaços de afeto e de escuta, mas que também pode ser lugar de violências e de violação de direitos.

Ao apontar a noção de vínculo como um laço que se constitui nas trocas, nos afetos e no cotidiano, Milena afirma como função do Serviço de Acolhimento ser um espaço de desenvolvimento para adolescentes, de reconstrução e fortalecimento de vínculos e de possibilidades de novas experiências. Ela indica alguns papéis que precisam ser assumidos nesse espaço, como de identificar e conviver com a diferença e com as múltiplas formas de famílias, e de partir daquilo que elas mostram como realidade para entender suas potencialidades, fazendo uma nova provocação: como podemos trabalhar com uma família, nas novas histórias que ela pode construir, se já partimos da ideia de que ela é incapaz? 

Em um segundo momento da oficina, a convidada propõe o compartilhamento de experiências desafiadoras vivenciadas com famílias de adolescentes pelos serviços, a partir de um exercício em que, primeiro, registrou-se essas situações e, depois, trocou-se os papéis entre os grupos para se pensar estratégias possíveis para lidar com as questões. 

Antes de encerrar, Milena ainda apresenta alguns pontos importantes de serem considerados no planejamento de propostas junto às famílias pelos Serviços de Acolhimento envolvendo, por exemplo, como esses espaços se preparam para escutar, recebê-las e o trabalho de ouvir o adolescente sobre suas vinculações e afetos para pensar junto com ele possibilidades de reinserção. Também compartilha algumas ações e recursos para se desenvolver com as famílias, enfatizando a potência do trabalho em grupo que possibilite espaços coletivos de aproximação e reflexão.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

Milena Maciel é psicóloga, mestre e doutora em psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela é também professora de Psicologia do Desenvolvimento Humano e coordena grupos de preparação para adoção e para apadrinhamento afetivo.

OFICINA – Sexualidade na Adolescência: Escutas Urgentes

OFICINA – Sexualidade na Adolescência: Escutas Urgentes

No dia 04 de outubro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Sexualidade na adolescência: escutas urgentes”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Dandara Gal dos Santos, mulher travesti, negra, gorda, da periferia da Zona Leste de São Paulo, psicóloga clínica, sexóloga e militante. Ela iniciou sua atuação na psicologia no terceiro setor com crianças e adolescentes em vulnerabilidade e hoje trabalha na clínica, especialmente com mulheres, pessoas pretas, gordas e lgbtqiap+, sob as óticas da psicologia decolonial e da terapia analítica junguiana.

Dandara inicia se apresentando e colocando a responsabilidade que é abordar essa temática com os profissionais dos serviços de acolhimento. Ela adianta que fará uma fala provocativa, já que acredita que dificilmente se produz transformação social sem incômodos e sem o questionamento dos sistemas que estão estabelecidos e, ao mesmo tempo, acolhedora, visando a troca e a construção de conhecimentos conjuntos. Em seguida, propõe uma divertida dinâmica de telefone sem fio, estimulando a reflexão na qual, mesmo perto e cochichando no ouvido, esbarramos com dificuldades em, de fato, escutar o outro.

Na primeira parte do encontro, a convidada faz uma proposta de definição de adolescência, como um período de transição entre a infância e a vida adulta, de intensas modificações hormonais, biológicas, psicológicas e sociais e quando, convencionalmente, aflora-se a questão da sexualidade. Ela indica também uma concepção de sexualidade, ao abordá-la como um aspecto central do ser humano e que abrange não só o ato sexual em si, mas também as identidades, os papéis de gênero, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução. Traz como ela se expressa em nossos pensamentos, desejos, valores, comportamentos e relacionamentos e, para ser compreendida de forma mais singularizada, precisa-se considerar a ideia de interseccionalidade: trata-se da relação entre diferentes características sociais, como gênero, raça e classe, que define que lugares que determinadas identidades podem ocupar socialmente e a quais violências estão submetidas.

A partir da convocação do grupo com perguntas, da exposição de narrativas e de dados de pesquisas e, também, de um exercício no qual todos foram convidados a refletir sobre as suas experiências sexuais, Dandara propõe que olhem para as particularidades da sexualidade na adolescência, especialmente, em situação de acolhimento, quais suas características e diferenças em relação a outras adolescências. Ela reforça, como uma dessas especificidades, o contexto de vulnerabilidades e de muitas rupturas que marcam o processo de desenvolvimento desses adolescentes, onde já foram privados de direitos fundamentais. E abre para a discussão de aspectos, tais quais, a reprodução de discursos machistas e misóginos sobre sexualidade em nossa sociedade, enquadrando homens e mulheres em papéis esperados; o perigo da ideia na qual adolescentes não têm sexualidade, gerando vergonha e dificultando o acesso a informações e espaços de cuidado e prevenção; e a dimensão da responsabilidade dos profissionais acerca daquilo que é dito, partindo de uma escuta que considere o lugar de quem fala e contribuindo com outros caminhos e discursos possíveis, que promovam mais consciência aos adolescentes em relação aos seus próprios corpos.

Em um segundo momento, como forma de sensibilizar para a importância de espaços de escuta quando falamos da sexualidade de adolescentes, Dandara parte de um exercício individual no qual convida os participantes a tocarem e sentirem uma parte do corpo, o que, de modo geral, se perde dentro de um cotidiano atribulado e tomado por cobranças. Aborda a ideia na qual torna-se difícil ouvir o outro, se não nos percebemos antes, acerca de quem somos e o que estamos fazendo em nossas vidas.

Nessa parte da oficina, Dandara levanta algumas questões para os participantes e complementa com dados de seus estudos e conhecimentos. A primeira delas é sobre o problema do silenciamento da sexualidade dos adolescentes, onde se discute a sexualidade como forma primordial de expressão e de estar no mundo, permeando as conversas, afetos e escolhas das pessoas. E como silenciar é contribuir para uma vulnerabilização ainda maior desses adolescentes, gerando impactos, como a quebra de direitos sexuais e reprodutivos, prejuízos na construção da identidade e da autonomia, a busca por fontes de informação ineficientes e deturpadas, que reforçam estereótipos de gênero, maior exposição à violência sexual e uma tendência à repressão da sexualidade do outro.

A convidada também dialoga sobre porque é tão difícil falar sobre sexualidade com os adolescentes, indicando um não-lugar que eles ocupam na sociedade, cheio de conflitos, e que confronta o adulto a encarar sua própria adolescência e a sua relação com a sexualidade, ao trabalhar com eles. Aborda a relevância de se considerar as estruturas de poder postas, como o patriarcado e o capitalismo, a partir de uma perspectiva colonial, moralista e cheia de tabus, que funda nossa sociedade e determina e controla o que é visto como certo e errado, incluindo o que diz respeito às questões de sexualidade e de gênero.

Dandara finaliza apresentando os benefícios de práticas de escuta e da educação sexual com os adolescentes, assim como indicando caminhos possíveis nesse trabalho. Nesse sentido, ela aponta para a importância de superar as concepções morais e religiosas que podem fazer parte da formação do profissional e olhar da perspectiva dos adolescentes, do que faz ou não sentido a eles, e da promoção de espaços de diálogo e escuta, sem imposição. Precisa-se reconhecer que falar de sexualidade é falar também de corpo, interesses, legitimação de desejos, de sonhar outros futuros e, principalmente, de prazer, para que este possa ser vivido de forma saudável e não violenta. Acredita que tudo isso pode contribuir para o desenvolvimento de adolescentes e adultos mais responsáveis consigo e com o outro, fortalecidos em suas identidades e autoestima, conscientes de seus próprios corpos, desejos, limites e da importância do autocuidado, rompendo, inclusive, com ciclos de violência.

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OFICINA – Acompanhamento de Grupo de Irmãos no Acolhimento

OFICINA – Acompanhamento de Grupo de Irmãos no Acolhimento

No dia 18 de outubro de 2023, o Instituto Fazendo História promoveu a terceira oficina presencial do Projeto Capacitação em Serviços de Acolhimento, apoiado pelo FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. O evento teve como foco 'Acompanhamento de grupo de irmãos no acolhimento' e foi direcionado a profissionais dos Serviços de Acolhimento, além de outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

Os palestrantes foram Deise Fernandes do Nascimento, mestra e doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP e fundadora e coordenadora Geral do Coletivo Círculo de Cultura; e Alan de Loiola Alves, doutor em Serviço Social pela PUC-RJ e PUC-SP, e especialista no Atendimento a Crianças e adolescentes vítimas de Violência Doméstica.

Para sensibilizar os convidados sobre a temática do encontro, os palestrantes realizaram uma dinâmica em que os participantes responderam o que veio à mente quando se pensa em irmãos. Ao explorarem diversas palavras associadas aos laços familiares fornecidas pelos participantes, eles estimularam a reflexão sobre os aspectos positivos, como laços afetivos e confiança, mas também sobre os desafios inerentes, como conflitos e inveja entre irmãos. Enfatizaram que ao lidar com grupos de irmãos no acolhimento, apesar das diferentes histórias, tratamos de relações próximas onde essas questões cruciais estão em jogo, incluindo a ambivalência entre o desejo de proximidade e o distanciamento entre eles

Alan inicia sua fala explorando a proteção como ponto central do debate. Ele introduz o sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes, destacando sua origem, os instrumentos normativos que o sustentam e sua relação com as políticas públicas. Em seguida, questiona a lógica tutelar, convidando o grupo a refletir sobre as consequências da separação de irmãos e a importância de considerar os desejos das crianças e adolescentes quanto ao convívio familiar e comunitário.

Além disso, enfatiza a necessidade de os profissionais dos serviços de acolhimento reconhecerem e articularem políticas que visem fortalecer os vínculos familiares, questionando a prática de acolhimento motivada pela pobreza, o que contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ele ressalta o direito desses jovens de serem criados em ambientes com vínculos, salientando o papel dos atores do Sistema de Proteção e de Garantia de Direitos em preservar esses laços desde a chegada até o desligamento do serviço.

Alan destaca a presença dos irmãos como fonte de apoio e referência para as crianças e adolescentes em acolhimento, facilitando o enfrentamento desta condição, ressaltando a importância de reconhecer os laços afetivos existentes, mesmo diante de conflitos. Ele destaca a individualidade de cada jovem, sem perder de vista a importância dos laços e do convívio familiar. Estar com os irmãos é poder viver a convivência familiar no serviço. Separar, em contrapartida, como se faz historicamente, é negar esse direito.

Deise, por sua vez, inicia com o poema “Verbo ser”, de Carlos Drummond de Andrade, estimulando a reflexão na qual, muitas vezes, ignoramos o que a criança sente, deseja e o que ela já é, ao criar narrativas de que ela só vai ser no futuro. Ela questiona falas que naturalizam e determinam que irmãos que brigam e têm conflito não se gostam e não poderão se dar bem, apontando como, no decorrer do processo de desenvolvimento, muitas pessoas podem passar e contribuir com o fortalecimento de vínculos, sendo o serviço de acolhimento um espaço fundamental nesse sentido. A convidada, ao reconstruir com o grupo as principais ações feitas pelos serviços para preservação dos vínculos familiares e comunitários, indica como é papel deles identificar e reforçar os vínculos e afetos presentes nessas relações.

Durante sua fala, Deise destaca a necessidade de pensar estrategicamente ações que promovam relações de companheirismo entre irmãos. Ela aponta a importância de não sobrecarregar os irmãos mais velhos, evitar comparações e estimular o diálogo e atividades compartilhadas para manter a convivência familiar no serviço de acolhimento. Aborda também que é necessário enxergar essas relações a partir das histórias singulares que se apresentam, sem se deixar pautar pelos próprios relacionamentos pessoais e experiências com os irmãos por parte da equipe. 

No segundo momento da oficina, Deise e Alan apresentam uma pesquisa feita com crianças e adolescentes que viveram o acolhimento junto aos seus irmãos, baseada nas falas deles sobre essas relações. Eles incentivam o compartilhamento de experiências e perguntas dos participantes sobre esse tema, abrindo espaço para um diálogo enriquecedor.

Confira o vídeo com a oficina completa: 

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Deise Fernandes do Nascimento é assistente social, mestra e doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP, fundadora e coordenadora Geral do Coletivo Círculo de Cultura.

Alan de Loiola Alves é mestre e doutor em Serviço Social pela PUC-RJ e PUC-SP, especialista no Atendimento a Crianças e adolescentes vítimas de Violência Doméstica e pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Criança e Adolescente - ênfase no Sistema de Garantia de Direitos (NCA-SGD) – Programa de Pós Graduação em Serviço Social - PUC/SP.

OFICINA –  Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do serviço de acolhimento

OFICINA – Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do serviço de acolhimento

No mês de dezembro, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA), realizou a oficina "Cuidando de quem cuida: saúde mental dos trabalhadores do Serviço de Acolhimento" nas cidades de Guarulhos e Campinas. Participaram as profissionais Ana Carolina Barros Silva, psicóloga e psicanalista, com doutorado em Psicologia, Linguagem e Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris VIII - Vincennes (França); e Luciana Braga, psicóloga, psicanalista e mestre em educação.

A oficina teve início com a introdução das profissionais. Ana apresentou a proposta de trabalho que realiza na "Casa de Marias" e a centralidade no atendimento a mulheres negras e periféricas, que, frequentemente, não recebem cuidados na mesma medida em que cuidam. Em seguida, foram apresentados dados estatísticos sobre causas de adoecimento no contexto de trabalho.

Os dados mostraram que o recorte de gênero e raça são fatores importantes a serem considerados. De acordo com a prática clínica, as mulheres adoecem mais que os homens (principalmente em relação à depressão), o que não exclui a possibilidade dos homens também serem afetados por tais questões, embora muitas vezes não consigam sinalizar ou verbalizar isso devido ao sistema patriarcal em que estamos inseridos.

No momento de interação, foram distribuídas folhas, lápis e canetas aos participantes, propondo que refletissem se já haviam adoecido alguma vez por conta do trabalho, e que eles escrevessem sobre suas experiências. Após a atividade, foram apresentados os impactos da Necropolítica nas Políticas de Assistência Social e de Saúde Pública no contexto brasileiro, incluindo desvalorização salarial e formas de acesso e cuidado que contribuem para o adoecimento dos trabalhadores.

Para encerrar o primeiro bloco da oficina, Ana e Luciana dividiram os participantes em grupos por sorteio, com o objetivo de realizar um Diagnóstico Institucional - identificando problemas estruturais que os grupos avaliam como geradores de impacto negativo no bem-estar físico e mental da equipe de colaboradores das instituições onde atuam.

O segundo bloco da oficina foi conduzido pela profissional Luciana, que baseou sua apresentação em saberes decoloniais, incluindo a Filosofia Ubuntu, conhecimento de nossa história como um movimento de ancestralização das relações, utilizado há séculos, e hoje considerado inovador.

Com base nas propostas de bem viver e no conceito de Ubuntu apresentados, os grupos reuniram-se novamente para pensar e planejar coletivamente ações que poderiam ser implementadas nas instituições onde atuam, com o intuito de iniciar ou ampliar políticas de bem-estar para as equipes de colaboradores.

A oficina foi finalizada com uma grande roda de conversa entre todos os participantes, onde os grupos puderam compartilhar as discussões realizadas.

Ana Carolina Barros Silva, psicóloga, psicanalista com doutoramento em Psicologia, Linguagem e Educação pela Universidade de São Paulo e pela Université Paris VIII - Vincennes(França), pesquisadora e consultora em saúde mental da população negra, coordenadora- geral da Casa de Marias.

Luciana Braga, psicóloga,psicanalista,e mestre em educação, atua há cerca de 20 anos na clínica com crianças e adolescentes e na formação de profissionais da educação e do acolhimento psicossocial, com foco em uma perspectiva feminista e decolonial.

Assista à oficina na íntegra: clique aqui.

OFICINA–   O Racismo no contexto do Acolhimento

OFICINA– O Racismo no contexto do Acolhimento

No mês de novembro de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “O Racismo no contexto do Acolhimento" nas cidades de Guarulhos e Campinas. Foram convidadas as profissionais Maria Ribeiro, cientista social e doutora em Comunicação e Semiótica, pela PUC e Universidade de Paris, e Carla França Ferreira Rosa, psicóloga com atuação na área clínica e social e especialista em Saúde da Família. 

Maria Ribeiro deu início à apresentação com o conceito de marcadores sociais da diferença, convidando os presentes a refletir sobre o racismo a partir da perspectiva do nascimento das pessoas negras. Em seguida, falou sobre grupos de pessoas cêntricas; a figura do homem branco cisgênero; sistema de opressão da branquitude; racismo fenotípico; pessoas não brancas e a maneira como a sociedade contemporânea se organiza a fim de manter o sistema de privilégios.

A partir da apresentação de cenas com as quais se deparou em seus processos pessoais e de pesquisa, fez marcações importantes do que considerar ao abordar a questão racial, indicando que devemos considerar a partir da gestação. Ressalta ainda a importância do registro de informações do quesito de raça/cor para pensar as políticas públicas e especificidades da população negra. Aborda também o conceito de humanização no processo de cuidado, a categoria mãe na relação com a qual a nossa sociedade se organiza, e apresenta a lógica comunitária de estar no mundo como uma tecnologia de sobrevivência.

Na sequência, Carla dá início a sua fala, provocando os profissionais a repensar sobre suas práticas de trabalho cotidianas. Apresenta o contexto sócio-histórico, no qual aborda o papel do educador social no trabalho com criança e adolescente e sua família, e faz a marcação da importância dos profissionais se perceberem no processo, a partir do reconhecimento de si antes de olhar para o outro. Conceitos de branquitude e racismo institucional também foram discutidos, para indicar a importância de reconhecer que não somos iguais e que é a partir disso que podemos atuar de modo mais assertivo. 

No segundo momento, o grupo foi sensibilizado por meio de vídeos e convidados a compartilhar suas práticas de trabalho relativas à questão racial. A partir da partilha coletiva, as profissionais retomam alguns conceitos trazidos inicialmente e aprofundam as questões, a fim de auxiliar nas reflexões e construção. de conhecimento. 

O encontro acaba com o reconhecimento da importância de falar sobre o racismo no contexto de trabalho, uma vez que é algo estrutural e atravessa todos nós, bem como a necessidade de se pensar práticas de enfrentamento.

“Já que não podemos fazer o gesto de voltar diante do útero das pessoas que nos gestaram, nós podemos experimentar o renascimento, toda vez que estendemos nossa escuta em direção ao outro [...] a fim de garantir que crianças e adolescentes tenham recursos para fazer o enfrentamento a essas violências” 

Maria Ribeiro, 2023.

Assista à oficina na íntegra: https://youtu.be/2XQjMhOZC6w

Maria Ribeiro é cientista social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre (PUC-SP) e doutora (PUC-SP/Paris-Diderot) em Comunicação e Semiótica. Professora no Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (FFLCH/USP), e na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (COGEAE/PUC-SP). Redatora-geral do Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (SIAPARTO), do grupo executivo da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC) e do Conselho do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas/FFLCH-USP) e  analista de formação do Instituto Amma Psique e Negritude. 

Seu relatório de estágio pós-doutoral (FFLCH-USP), intitulado "Ginecológicas: o nascimento negro para além da tragédia", foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (ProAC), na categoria “ensaio de não-ficção” e publicado em 2023.

Carla França Ferreira Rosa é psicóloga com mais de 10 anos de vivência na área clínica e social. Especialista em Saúde da Família e educadora social com ampla experiência em formações para profissionais de equipamentos sociais e instituições de ensino, (Instituto Fazendo História, Marista Escola Social, Colégio São Luís, Instituto Tomie Ohtake, EMESP Tom Jobim, Fundação Escola de Sociologia e Política de SP, SENAC Santo André entre outros). 

Desde 2022, atua como co-coordenadora de Grupos de Reflexão do Curso Teórico-Vivencial: Psicologia e Relações Raciais no Instituto Amma Psique e Negritude. É integrante da "Odô Consultoria Viva".

 

OFICINA –  Adoção – Reflexões Sobre as Práticas de Trabalho

OFICINA – Adoção – Reflexões Sobre as Práticas de Trabalho

No mês de outubro de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “Adoção - Reflexões Sobre as Práticas de Trabalho” nas cidades de Guarulhos e Campinas. Participaram como convidadas as profissionais Ana Clara Fusaro Silva Rodrigues, especialista em psicoterapia psicanalítica pelo CEPSI e mestre em Ciências pelo Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP); e Larissa Alves, adotiva, co-fundadora da Associação Brasileira de Pessoas Adotadas e do Adotivas Podcast.

Ana Clara deu início ao encontro apresentando sua experiência na graduação com grupos de pretendentes à adoção na cidade de Uberaba – MG, encaminhados através da Vara da Infância e Juventude após habilitados e, posteriormente, na cidade de São Paulo, em seu projeto de mestrado na USP. Enfatizou a adoção sob o ponto de vista psíquico onde, no momento em que ocorre a adoção, cria-se uma relação entre família de origem, família adotiva e a criança. É o momento em que as histórias se atravessam, mesmo que as famílias não se conheçam e nunca tiveram nenhum tipo de contato. Sendo assim, todo o histórico da criança ou adolescente incluindo os motivos do acolhimento e destituição do poder familiar, não devem ser desconsiderados ou ignorados pelos pretendentes a adoção, afirmou a profissional.

Outros pontos mencionados por Ana Clara são os dados de pessoas habilitadas atualmente: a maioria (cerca de metade) reside na região Sudeste do país e são famílias compostas por casais heterossexuais (casados ou sob união estável). Além disso, muitos desses casais buscaram a adoção por não conseguirem ter filhos biológicos, com histórico de frustrações e perdas, enfrentando ainda a resistência por parte de seus familiares quando tomam esta decisão. Em seguida, faz a reflexão de que o fato de famílias e pessoas estarem habilitadas para adoção não significa que estão prontos. Finalizou sua fala frisando a importância do cuidado nos processos de transições, sendo que as equipes de serviços de acolhimento tem o papel fundamental na transmissão de conhecimentos sobre a criança/adolescente (história, rotina, gostos, registros, saúde).

Larissa deu seguimento à oficina falando sobre a falta de referenciais sobre o que é ser adotivo, um exemplo disso é que só existe uma associação de adotivos no país. Em relação ao trabalho com famílias adotivas, mencionou a importância do acompanhamento efetivo nos pós adoção por parte do judiciário, a importância da preservação das origens e histórias de vida de adotivos e a falta de amparo legal que encontram ao tentar buscá-las. Além disso, ressaltou a falta de acompanhamento nas adoções compartilhadas em que algumas partes não cumprem o acordo, rompendo de forma drástica o vínculo entre irmãos e provocou a reflexão: de que forma podemos proporcionar o reencontro entre eles sem o amparo da lei?

A profissional enfatizou que os efeitos a longo prazo dos rompimentos de vínculos que os adotivos passam ao longo da vida não são considerados pela maioria dos profissionais que atuam nos serviços de garantia de direitos. As crianças ou adolescentes sempre precisam se adaptar à vida dos pretendentes e questões importantes como raça, cultura, linguística, entre outros devem ser considerados.

Larissa finalizou sua fala com a reflexão do quanto é indispensável a desconstrução da romanização e senso comum sobre adoção. Para isso, é necessário que os adotivos tenham espaço e visibilidade para falarem sobre o assunto e que os pretendentes sejam de fato preparados e acompanhados para esse processo, sem a intenção de que um(a) filho(a) virá para atender suas expectativas.



Ana Clara Fusaro Silva Rodrigues é psicóloga pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), especialista em psicoterapia psicanalítica pelo CEPSI e mestre em Ciências pelo Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP).

Larissa Alves é adotiva, jornalista, bacharel em direito, produtora audiovisual, co-fundadora da Associação Brasileira de Pessoas Adotadas e do Adotivas Podcast, escreve sobre perspectiva adotiva no @olharadotivo no Instagram, é produtora do canal Adotados no Youtube e pesquisa sobre emoções e direitos adotivos.

Assista à oficina na íntegra: clique aqui.

OFICINA – Os Limites Do Educador no Trabalho com Adolescentes

OFICINA – Os Limites Do Educador no Trabalho com Adolescentes

No dia 19 de setembro de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a quarta oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Sob o título "Os Limites do Educador no Trabalho com Adolescentes", o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. O convidado José Nildo Alves Cardoso, um advogado, professor, assessor parlamentar, teólogo e especialista em Direito das Crianças e Adolescentes, conduziu uma jornada de reflexão profunda sobre os desafios e responsabilidades do trabalho com adolescentes vulneráveis.

O encontro começou com saudações e agradecimentos, seguidos pela apresentação de José Nildo, que compartilhou sua vasta experiência e envolvimento no campo da educação social. A plateia foi convidada a expressar suas expectativas e preocupações para o dia. Zé destacou que ser educador social não é apenas um emprego, mas uma filosofia de vida. Educar é um compromisso que transcende o horário de trabalho e exige intencionalidade na promoção da transformação social e da liberdade dos educandos.

A oficina abordou a necessidade de reconhecer o adultocentrismo e tratar os adolescentes como indivíduos em peculiar desenvolvimento. A ênfase foi dada à importância de criar um ambiente de aprendizado que desperte a curiosidade e o encantamento pelo saber.

A discussão se concentrou em definir o que são limites, quem os estabelece nas relações humanas, e como os educadores sociais devem ter autoridade sem serem autoritários. O conceito de ética profissional foi abordado, incluindo questões éticas e dilemas que os educadores sociais podem enfrentar ao definir limites adequados.

José Nildo também explorou a transferência (quando os adolescentes projetam emoções nos educadores) e a contratransferência (reações emocionais dos educadores) e como lidar com esses processos.

Foi lembrado a importância do autocuidado, que influencia diretamente o trabalho com adolescentes. Sinais de esgotamento e burnout foram discutidos, bem como a busca por apoio quando necessário.

A Oficina incluiu casos para estimular discussões sobre desafios éticos e práticos enfrentados pelos educadores sociais. O encerramento envolveu a abertura para perguntas, discussões e compartilhamento de experiências entre os participantes.

José Nildo convidou os educadores a compartilhar um compromisso pessoal sobre como aplicar as estratégias discutidas em seu trabalho. O encontro foi uma oportunidade única para reflexão e aprendizado, deixando a todos com insights valiosos sobre os limites do educador ao trabalhar com adolescentes.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui. 

OFICINA – Adolescentes em Medida Socioeducativa

OFICINA – Adolescentes em Medida Socioeducativa

No dia 24 de agosto de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a segunda oficina presencial do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Adolescentes em medida socioeducativa”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo. 

A oficina contou com a participação de Ricardo Rentes, Psicólogo, Psicanalista, Mestre em Ciências Humanas, Sociais e Criminologia pela UFP do Porto – Portugal, Professor dos Cursos de Especialização em Psicanálise Winnicottiana e em Saúde Mental e Saúde Coletiva, ambos pela Universidade Cruzeiro do Sul, e do Curso de Especialização em Psicologia Jurídica pela Universidade São Camilo. Ele atua também como Supervisor nas áreas de Saúde Mental e Assistência Social e é autor do livro: “Os Meninos de Heliópolis - O ser e fazer de adolescentes em conflito com a lei e a sintomática criminal”. 

Ricardo inicia sua fala fazendo o convite para que todos os presentes pudessem “alcançar o rosto dos meninos e meninas em conflito com a lei”, os quais se encontram, em função do fenômeno criminal, dentro de um serviço de medida socioeducativa. Propõe um percurso de aproximação de suas vivências, marcas e manifestações e de diálogo com aquilo que ocorre a partir dos olhos desses adolescentes, em um encontro cheio de intenção e direção para o trabalho. 

O especialista pontua como, a partir dos 12 anos de idade, o adolescente que cometer um ato que vai contra as normas sociais de convivência é enquadrado como infrator e terá 6 possibilidades de medidas socioeducativas, as quais podem ser desde uma advertência, até a internação, situação de privação de sua liberdade. E que a gravidade desta é marcada por um recorte étnico, social e econômico, de modo que aos mais pobres, periféricos e pretos são reservadas as medidas mais severas. Ele aborda, a partir da apresentação de suas experiências profissionais, como dentro dos Serviços de Acolhimento podemos identificar traços, tais quais embates com colegas, posturas desafiadoras e uso abusivo de substâncias, que podem ser potenciais para o desenvolvimento da criminalidade e de uma vivência posterior em ato infracional, mas que têm algo em comum: uma busca por algo que lhe é de direito.

A partir daí, Ricardo propõe que se olhe para o ato infracional, tido como antissocial, como uma manifestação sintomática, ou seja, um gesto que está dizendo algo. E sugere uma questão para direcionar o olhar: o que esse adolescente quer dizer com aquele tipo de postura? Dialoga, então, com as bases teóricas de Winnicott, um grande pensador da história da Psicanálise que estudou de maneira profunda esse fenômeno, partindo de sua etiologia, de como e porque ele nasce e se desenvolve. Winnicott parte da observação das manifestações de crianças evacuadas de Londres, na segunda Guerra Mundial, as quais tiveram um rompimento abrupto de seus vínculos familiares, sociais e comunitários, para a construção de sua Teoria da Tendência Antissocial. Ele desenvolve a percepção de como a unidade familiar proporciona uma segurança indispensável à criança e a sua ausência ou rompimento pode trazer efeitos ao desenvolvimento emocional e acarretar danos à sua personalidade. 

No decorrer do encontro, Ricardo traça paralelos entre essa teoria e a situação de acolhimento: com essa medida, o senso de pertencimento da criança ou adolescente é abruptamente rompido e há necessidade interna de realinhar emocionalmente seu funcionamento para sobreviver nessa realidade, nova e estranha, numa perspectiva coletiva e num lugar ainda de invisibilidade para a individualidade, característica do modelo institucional. Ele aborda como o entrar em uma instituição já é um convite ao adoecimento, por melhores que sejam suas condições: parte-se de uma situação traumática e de violência, com o rompimento do vínculo familiar, que mesmo que considerado tóxico para a criança ou adolescente, faz parte de sua constituição.

Essa perspectiva acompanha todo o caminho percorrido pelo convidado na oficina, norteando o olhar para as crianças e adolescentes institucionalizados e que apresentam sintomas de tendência antissocial. Ele traz como precisamos considerar que, nesses casos, a pessoa tinha algo que, para bem ou mal, a estruturava e a sustentava no mundo e por algum motivo isso é perdido, e que os sintomas aparecem como forma de sinalizar que tem algo errado acontecendo. Reforça, trazendo casos de suas vivências profissionais, como é necessário dar espaço para que os sentimentos de raiva e a sua agressividade apareçam, em um ambiente seguro e que sobreviva a essa destrutividade, oferecendo também contornos, continência e limites. Ao contrário, um ambiente repressor embota e convida a criança ou adolescente à não existência. 

Durante sua fala, Ricardo vai acolhendo e dialogando com as questões e relatos dos participantes, acerca de suas experiências, envolvendo, entre outros assuntos, o papel da escola no olhar para adolescentes em conflito com a lei, a relação com o sistema judiciário, o lugar da família, o fenômeno de patologização de adolescentes e as possibilidades de atuação profissional: como sustentar o investimento em um adolescente onde se vê poucas perspectivas de rompimento com a lógica infracional? 

Ele também atenta para a importância de criar espaços seguros para que a criança ou adolescente possa dizer o que representa para ele essa família, para que o profissional compreenda do que ele foi separado, que envolve outras representações internas possíveis da mãe ou do pai, para além da versão que violou direitos. E que um dos principais pontos da teoria antissocial é o fator esperança e o perigo de a criança ou adolescente perder a esperança de resgatar aquilo que foi perdido. Muitas vezes, o gesto infracional indica que a esperança de recuperar algo que lhe é de direito ainda existe, mesmo que o caminho que encontra para demonstrar isso não seja socialmente bacana e aceitável. Ele reforça que, enquanto profissional, é preciso ter clareza que não se pode mudar o mundo, mas sim identificar algumas questões e direcioná-las, reconhecendo o outro e sua história, para que ele também possa se enxergar. 

Ricardo finaliza apresentando as principais intervenções, resultados e descobertas de sua pesquisa-ação com adolescentes em conflito com a lei em Heliópolis, na qual analisa histórias e desenhos construídos por eles e que deu origem ao seu livro. Ele relata, a partir de falas desses adolescentes, como o crime, muitas vezes, é visto como a única maneira que eles encontram de ingressar no universo urbano e que é necessário se criar oportunidades e alternativas para que não precisem infracionar para que se sintam parte da cidade. Ele encerra a oficina, fazendo a leitura de um poema e, mais uma vez, trazendo a voz desses meninos e meninas.

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui. 


 OFICINA: Os Desafios Da Atualidade No Trabalho com a Adolescência

OFICINA: Os Desafios Da Atualidade No Trabalho com a Adolescência

No dia 26 de julho de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a primeira oficina do Projeto Formação Profissional para o Trabalho com Jovens, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Os Desafios da Atualidade no Trabalho com a Adolescência”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

O Instituto Fazendo História teve a honra de convidar o educador social, Rafael Parente Sá Martins, para conduzir esse encontro enriquecedor. Rafael é graduado em história e especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo e Gestão e Planejamento de Processos Pastorais e Pedagógicos. Além disso, ele é assessor da Tocando em Frente Assessorias, onde acompanha o trabalho de organizações sociais que atuam com crianças e adolescentes na cidade de São Paulo. Rafael também desempenha um papel fundamental como indigenista junto aos povos indígenas do estado de São Paulo.

O encontro foi marcado por uma abertura que visou alinhar as expectativas junto aos profissionais dos serviços da rede socioassistencial. Rafael destacou a importância de compreendermos o Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA estabelece que consideramos como crianças aqueles com até 12 anos, enquanto o termo adolescente abrange indivíduos de 13 a 17 anos. No entanto, Rafael chamou a atenção para uma perspectiva mais ampla ao mencionar o Estatuto da Juventude, que define como jovens as pessoas de 15 a 29 anos. Nesse contexto, ele provocou uma reflexão mais profunda, concentrando-se especialmente no público de 15 a 17 anos, faixa etária na qual os profissionais muitas vezes enfrentam desafios mais significativos.

Durante a oficina, Rafael provocou reflexões profundas sobre a sociedade e suas visões em relação à adolescência:

  • Visão da Juventude como Biológica: A puberdade é o foco.

  • Visão da Juventude como Transição: Uma fase de transição da infância para a vida adulta.

  • Visão da Juventude como Problema: A sociedade tende a culpar os jovens pelos problemas.

  • Visão da Juventude como Solução: A projeção de responsabilidades em um mundo ideal.

Ele ressaltou que a adolescência é um conceito criado pela sociedade e é uma categoria social marcada por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de identidades, o que exige experimentação intensa em diversas esferas da vida.

Rafael também compartilhou um estudo que coloca os adolescentes como uma "lupa" da sociedade, tornando os problemas sociais mais evidentes na juventude, como o desafio da drogadição. No entanto, ele provocou os participantes a repensar o tema da oficina, originalmente divulgado como "Os Desafios da Adolescência na Atualidade". A conclusão foi que os desafios não estão nos adolescentes, mas sim em nossa capacidade geracional de lidar com as adolescências. São esses conflitos que moldam o mundo.

Rafael traz uma reflexão sobre o artigo 101 da eca, onde é da ênfase que é uma política de proteção, mostrando que existem crianças que estão no Saica de uma forma punitiva, e na protetiva. Rafael continua trazendo um olhar sobre as mudanças que a lei da adoção 12.010 trouxe como deve ser o acolhimento institucional. Rafael aproveita para trazer um pouco de como eram os serviços antes das suas regulamentações, demonstrando como as instituições totais ou orfanatos se organizavam de forma desumanizada. Não sendo uma compreensão de uma ação de políticas públicas para proteger o adolescente, mas sim um sistema de abrigamento de acolhimento institucional que vem criminalizando a pobreza, ou a questão de saúde mental, ou de drogadição, não entendendo que muitas vezes o trabalho tem que ser feito no território com outras políticas públicas.

Para finalizar nosso encontro, Rafael propõe uma dinâmica com objetivos de trabalhar questões que marcam o trabalho com os adolescentes de hoje e para provocar um tanto das nossas fantasias, Rafael compartilha o trabalho do fotógrafo James Mollison que viajou o mundo fazendo registros de onde algumas crianças dormem. 

Confira o vídeo com a oficina completa: clique aqui

OFICINA– Preparação de Adolescentes para o Desacolhimento por Maioridade

OFICINA– Preparação de Adolescentes para o Desacolhimento por Maioridade

No mês de setembro de 2023 o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “ Preparação de adolescentes para o desacolhimento por maioridade” nas cidades de Guarulhos e Campinas.

Foram convidados os profissionais Vagner Souza, educador popular, que desde 2003 atua com crianças e adolescentes, e Sidnei das Neves, psicólogo e cofundador do Coletivo Cultural Poesia na Brasa.

Os profissionais deram início ao encontro com a reflexão de que os Serviços de Acolhimento atualmente devem garantir além dos direitos essenciais, também o direito de ser Criança e Adolescente.

Questionaram como as equipes podem acolher e legitimar os sentimentos, angústias, medos, frustrações e dores de adolescentes em uma cultura de institucionalização, onde os adolescentes são reordenados de um serviço para o outro, sem que estabeleçam qualquer vínculo com qualquer equipe.

Outro ponto mencionado por Vagner é o sentimento de culpa que os adolescentes têm pelo motivo do acolhimento. É necessário que todos os profissionais do serviço tenham um olhar atento e crítico para que o discurso de culpabilização quase sempre já atribuído às famílias de origem, não seja também reproduzido para as crianças e adolescentes, uma vez que as legislações dizem que a proteção é dever do Estado, da família e sociedade.

Sidnei dá seguimento à oficina indicando que as histórias de crianças e adolescentes não se iniciam a partir do acolhimento, mas são uma parte dela.

Segundo ele, algumas experiências que foram importantes no trabalho com desacolhimento por maioridade foram ouvir e compartilhar com os adolescentes as experiências de jovens que já estavam desacolhidos.

Os profissionais compartilharam que é importante pensar os adolescentes como produtores de soluções (e não só de problemas), incluindo-os nas decisões do que acontece no serviço (com a mediação dos

trabalhadores): manutenção do espaço e organização da rotina. Isso é importante para a construção de identidade e autonomia.

Vagner enfatiza que a autonomia é sobre o poder de escolha, não apenas sobre ter uma quantia de dinheiro guardado. Isso só é possível através do aumento do repertório - do acesso a lugares e outras culturas - ampliando assim as possibilidades de escolhas.

Os profissionais encerraram a oficina com o exemplo prático de jovens que, ao completar a maioridade, decidiram morar juntos em comunidades, uma vez que já havia a convivência entre eles. Dessa forma, esses jovens se organizavam de forma coletiva e cada um colaborava da forma em que era possível. Enfatizam que não há uma receita ou fórmula para este trabalho, pois há ainda casos mais complexos que necessitam ser pensados em outros encaminhamentos e estratégias.

Vagner Souza é Analista Institucional e Educador Popular. Desde 2003 atua com crianças e adolescentes em diversos serviços, tais como: SAICA, SMSE, entre outros. Desde 2011, desenvolve trabalhos de formação e supervisão institucional para profissionais do sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes.

Sidnei das Neves é Psicólogo, Gerente do SPVV Claret II Brasilândia, Terapeuta Comunitário, Produtor Cultural, Poeta, Escritor e Cofundador do Coletivo Cultural Poesia na Brasa.

Assista a oficina na íntegra: clique aqui.

OFICINA - O trabalho com grupos de irmãos no serviço de acolhimento.

OFICINA - O trabalho com grupos de irmãos no serviço de acolhimento.

No mês de agosto de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “ o trabalho com grupo de irmãos no serviço de acolhimento” nas cidades de Guarulhos e Campinas.

Tivemos como convidadas as profissionais Eliana Kawata, psicóloga judiciária chefe do Setor de Psicologia da Vara Central da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de SP e Deise Fernandes do Nascimento, Mestra e Doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência, pela UNIFESP.

Eliana deu início ao encontro apresentando aspectos históricos do acolhimento a partir do Código de Menores, Constituição Federal e Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Falou sobre a Avaliação e atualização do Plano Nacional de Convivência Familiar 2019 e destacou as 3 categorias analíticas que foram utilizadas para avaliar os Serviços, por exemplo: como estavam mantendo os vínculos familiares; como estavam trabalhando o fortalecimento de vínculos parentais e familiares e como eles mantêm os vínculos comunitários. Indicou as ações da política de atendimento estabelecidas pelo ECA, ressaltando a importância de estimular o acolhimento de irmãos e realizar campanhas de adoção de grupo de irmãos de maneira conjunta. Destacou que, diante de adversidades, o grupo que nos é familiar proporciona conforto, de modo que os sujeitos possam vivenciar situações difíceis como a de acolhimento. Mencionou que, em casos de adoção, a manutenção de grupos de irmãos tem sido muito efetiva, falou sobre os desafios em se encontrar famílias que adotem grupos de irmãos e também das dificuldade de se garantir a manutenção de contato após adoção.

A palestrante finalizou sua explanação indicando a importância de se manter os laços fraternos e a importância de haver consciência sobre isso. Aponta que temos tecnologia social para essa efetivação e reconhece que há um caminho longo a se percorrer de modo que possamos evitar tais rompimentos.

Deise dá seguimento na oficina indicando que sua explanação seria a partir do cotidiano de trabalho nos serviços de acolhimento. Após a leitura do poema “Verbo ser”, de Carlos Drummond de Andrade, a palestrante provoca o grupo a refletir sobre o sujeito criança e que, ao se trabalhar com grupos de irmãos, deve-se considerar a individualidade de cada criança e ou adolescente.

A profissional aborda o contexto histórico de modo breve, destacando a importância de considerarmos o recorte racial no trabalho, considerando que há desdobramentos do processo de colonização presente em práticas atuais. Sua fala também foi norteada a partir de documentos normativos para abordar a importância dos vínculos entre irmãos e família, dando ênfase no trabalho com grupo de  irmãos. Deise fez uso de vários exemplos e situações tidas como corriqueiras no atendimento de crianças e adolescentes para falar sobre: a importância da escuta empática e a não idealização das relações fraternas. Convidou os profissionais a revisitar suas memórias de situações vivenciadas por eles na relação com seus irmãos e como tais vivências podem atravessar o fazer deles no Serviço de acolhimento.

A profissional também compartilhou várias situações que podem potencializar a rivalidade e despertar sentimentos de inferioridade ou superioridade entre irmãos, bem como o tratamento de grupos fraternais, que muitas vezes não reconhece a individualidade de cada um. 

Finalizou sua explanação compartilhando casos e situações que apresentavam condições e estratégias possíveis para promover o fortalecimento do vínculo entre os irmãos.

Eliana Kawata é Psicóloga judiciária chefe do Setor de Psicologia da Vara Central da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de SP, graduada pela USP/SP, mestre em Psicologia Social pela PUC/SP, especialista na área de Violência Doméstica contra crianças e adolescentes pelo Laboratório de Estudos da Criança da USP/SP, especialista em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae.

Deise Fernandes do Nascimento é Assistente Social, Mestra e Doutora em Educação e Saúde na Infância e Adolescência, pela UNIFESP. Fundadora e Coordenadora Geral do Coletivo Círculo de Cultura.

Assista à oficina na íntegra: https://youtu.be/GrJdn1Y1XGI

OFICINA - O trabalho com famílias de origem

OFICINA - O trabalho com famílias de origem

No mês de julho de 2023, o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “O trabalho com Famílias de Origem” na cidade de Guarulhos e Campinas. Tivemos como convidadas as profissionais: Gracielle Feitosa de Loiola, que atua nas áreas da assistência social e judiciária, mestre e doutora em Serviço Social pela PUC-SP, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Crianças e Adolescentes - NCA/SGD e autora do livro: Produção sociojurídica de famílias "incapazes": do discurso da "não aderência" ao direito à proteção social, editora CRV, 2020; e Thais Berberian, graduação e mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com experiência profissional na política de saúde e no sociojurídico. Os principais temas de pesquisa de Berberian são a judicialização das expressões da questão social, a criminalização da pobreza e provocações sobre o uso do conceito negligência face ao Estado de desproteção social.

As profissionais iniciaram a oficina com duas dinâmicas com o grupo de profissionais presentes e realizaram uma explanação compartilhada, articulando os conceitos teóricos, a experiência de pesquisas e situações cotidianas de suas práticas profissionais.

Iniciaram trazendo a importância da intencionalidade no trabalho com famílias de origem, que deve ser acompanhada da flexibilidade, uma vez que os casos nos Serviços de Acolhimento já chegam tipificados, a depender dos motivos dos acolhimentos. Thais e Gracielle também trouxeram a reflexão sobre os modelos de famílias que estão presentes no imaginário dos profissionais que as atendem. Além disso, apontaram que o reconhecimento de famílias plurais deve ser para além das legislações, ou seja, por todos os profissionais que compõem a rede de atendimento para que as compreensões subjetivas e individuais não atravessem a relação com o outro nos atendimentos às famílias de origem.

Imagem da atividade.

Afirmam que outro ponto importante a ser refletido sobre a prática profissional é a elaboração do PIA (Plano Individual de Atendimento), que deve ter planos e metas acessíveis e possíveis para as famílias na qual os serviços atendem. Dentro de tais reflexões, é importante considerar e compreender o contexto histórico e os atravessamentos de raça, gênero e classe e quais as dimensões disso.

Outro aspecto importante levantado pelas convidadas foi sobre a importância da escuta profissional e como será materializada na elaboração de relatórios. Pontos de vista, lugares e vivências podem trazer aos profissionais visões únicas do que é vínculo, proteção e cuidado, podendo assim interferir na elaboração de relatórios e pareceres.

Finalizaram a explanação com a consideração sobre vínculo e a confiança para que as famílias de origem possam contar suas histórias. Destacam a importância da escuta qualificada, crítica e fora da lógica de “reajustar” as famílias e para isso é relevante que a comunicação seja sempre ético política, ou seja, sem ameaças, mentiras e intimidações.


Assista à oficina na íntegra:

OFICINA - 13/07/2023 - O TRABALHO COM FAMÍLIAS DE ORIGEM - CONDECA GUARULHOS

OFICINA – Brincar como direito na infância e na adolescência

OFICINA – Brincar como direito na infância e na adolescência

Imagem da atividade.

No dia 19 de julho de 2023, o Instituto Fazendo História realizou a segunda oficina presencial do Projeto Capacitação em Serviços de Acolhimento, com o apoio do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), no Instituto Pólis. Com o tema “Brincar como direito na infância e na adolescência”, o encontro foi direcionado aos profissionais que atuam nos Serviços de Acolhimento e também a outros atores da Rede Socioassistencial e do Sistema de Garantia de Direitos da Cidade de São Paulo.

A oficina contou com a participação de Minéia Oliveira, arte-educadora, brincante, mediadora literária e idealizadora do Coletivo Brincando na Kebrada, graduada em pedagogia pelo Instituto Singularidades; e também de Natália Santos, artista e educadora, atuante nas frentes de cultura popular integrando as performances e as poesias e compondo releituras para a sua realidade, formada em direito e pós graduada em ciências sociais pelo Consejo Latino Americano de Ciencias Sociales e educação social pelo SENAC.

As convidadas iniciaram trazendo a ideia de que nos constituímos como seres brincantes a partir das experiências pelas quais passamos e que esse encontro seria um espaço para trocar vivências, promover lugares de afeto e compartilhar a teoria na prática. Logo, todos foram convidados a levantar das cadeiras e participar de uma série de brincadeiras, envolvendo técnicas de alongamento e respiração, repetição de movimentos, exploração do corpo e ritmos a partir das músicas e do canto e, também, uma brincadeira afro diaspórica, na qual tinham que se organizar em grupos, seguindo comandos, para não deixar um bastão cair.

Entre as propostas, Minéia e Natália provocaram a reflexão sobre a importância de estarmos atentos aos movimentos e quais são os corpos com quem estamos partilhando saberes, de entender a origem das brincadeiras - que marcam como as vivenciamos - e de valorizar nelas tanto elementos cooperativos, quanto competitivos. Abordaram como precisamos reconhecer a realidade da qual fazemos parte, nos preparando tanto para a coletividade, quanto para a competitividade, desenvolvendo a capacidade de lidar com as frustrações e conflitos e identificando qual o jogo posto, por exemplo, para a entrada no mercado de trabalho.

Em um segundo momento, Minéia e Natália propuseram que os participantes se dividissem em grupos e dialogassem acerca de como seus corpos vivenciaram as brincadeiras. Elas sugeriram que trouxessem as inquietações a partir do lugar das crianças e adolescentes com os quais atuam, de como poderiam se sentir ao atravessar essas experiências: quem são esses corpos e como eles chegam até as equipes dos serviços? Por que os adolescentes muitas vezes não chegam? E nosso papel enquanto mediadores, não ensinando, mas proporcionando brincares e fazendo trocas brincantes?

Antes de partir para a discussão no grupo maior, as convidadas se apresentaram de forma mais aprofundada, narrando de onde vêm e quais são as histórias e as memórias que as constituem. Elas partem de suas trajetórias pessoais, familiares e ancestrais, dos lugares que foram ocupando e das pessoas que foram encontrando no caminho, principalmente uma rede de mulheres, para contar como foram se aproximando das infâncias e das comunidades e descobrindo e construindo diferentes pedagogias e formas de educar, no coletivo. Elas reforçaram a importância do acesso aos diferentes brincares e materiais e de ocupar espaços diversos, algo que é negado, principalmente às crianças e aos adolescentes negros.

Em seguida, retomando o que foi discutido nos pequenos grupos, Natália e Minéia sugeriram a construção de um mapa de afetos, no qual os participantes registraram em filipetas e apresentaram as principais questões identificadas no trabalho com os brincares e as infâncias e, também soluções coletivas para lidar com elas. Esse foi um momento muito rico do encontro, no qual muitas pessoas se colocaram, trazendo, além das experiências profissionais, vivências de suas infâncias, adolescências e da relação com a maternidade e paternidade, para contribuir com a elaboração do panorama.

Sobre os principais desafios, apareceram a consideração de que criança e que adolescentes são esses que chegam aos serviços de acolhimento, com seus corpos perpassados por histórias de violência, as quais, muitas vezes, marcam como reagem às situações de proximidade e toque nas brincadeiras, podendo sentir-se invadidos ou, mesmo, podendo reproduzi-las; a timidez como uma característica que pode dificultar o se soltar nas atividades; a definição das brincadeiras possíveis a partir do gênero, onde reproduzimos estereótipos; a crença em um tempo restrito e uma forma correta de brincar, a partir da perspectiva do adulto; como inserir o brincar na realidade de diversas infâncias, principalmente, quando a questão da sobrevivência está em jogo; e o uso das telas se sobressaindo às outras formas de brincar.

Em relação às alternativas levantadas pelos participantes, destacaram-se o brincar como oportunidade de ressignificar, de experienciar outras possibilidades, de permitir, de fato, a vivência da infância e da adolescência e, também, como um caminho de reeducação dos corpos adultos e de construção de novos padrões, mais diversos, inclusivos e saudáveis; a criação de espaços acolhedores e cuidados, onde as crianças e adolescentes se sintam bem-vindos, possam ser protagonistas, se identificar e se despertar para o brincar; a construção de outros repertórios e vivências para que as telas não sejam a principal possibilidade de diversão e centro da atenção; a abertura do adulto a escutar e compreender que criança e que adolescente são esses que chegam, o que já viveram, o que sabem e o que gostam, quebrando rótulos e invisibilidades; e a organização e pressão social para implementação de políticas públicas de qualidade que favoreçam as famílias e as diferentes infâncias.

O encontro finalizou com as convidadas trazendo a importância de espaços como esse, de poder soltar o corpo e despertar a criança que está dentro de cada um, e estimulando a darem continuidade, entre os serviços e nos territórios, ao que foi pensado e construído nessa manhã, já que é a partir do fortalecimento de redes que as mudanças se efetivam.

Confira o vídeo com a oficina completa:
OFICINA - 19/07/2023 - BRINCAR COMO DIREITO NA INF NCIA E ADOLESCÊNCIA - FUNCAD

Imagem de abertura: Patrícia Prudêncio via Unsplash.

Como podemos promover segurança emocional no contexto do acolhimento?

Como podemos promover segurança emocional no contexto do acolhimento?

Hoje é de amplo conhecimento que suprir apenas as necessidades fisiológicas do bebê (alimentação, sono, higiene) não é  suficiente para que ele tenha um bom desenvolvimento, pois além das necessidades básicas, é preciso muito afeto e vinculação emocional entre cuidador e bebê para que este possa crescer confiante e com autoestima.  É importante que o bebê - ou criança e adolescente - tenha um cuidador que o faça se sentir seguro e amado, e que também o incentive a ganhar autonomia e explorar o mundo.

Visando auxiliar cuidadores na reflexão do processo de vinculação com crianças, foi desenvolvido o conceito do Círculo de Segurança®. Seus autores Kent Hoffman, Glen Cooper e Bert Powell​ buscaram traduzir suas percepções clínicas e pesquisas de desenvolvimento  em protocolos diretos e acessíveis, para uso com famílias e pacientes adultos. Assim surgiu o Círculo de Segurança: um mapa visual para auxiliar em uma vinculação segura com as crianças. 

Para complementar o esquema, O Círculo da Segurança contribui também atribuindo  as seguintes orientações ao adulto de referência da criança: 

Sempre seja: "maior", mais forte, mais sábio e mais gentil.
*Sempre que possível: atenda as necessidade da criança.
Sempre que necessário: assuma o comando.

*A ideia de ser “maior” e mais forte não deve ser usada para validar que o cuidador ameace a criança, menor e mais fraca. Deve ser usada com a intenção de que ele possa garantir todos os cuidados e a proteção que a criança precisa para que se sinta segura. 

O Círculo da Segurança é composto por dois momentos: 

O movimento de SAIR da Base Segura, isto é: o movimento da criança de deixar a mãe, pai ou cuidador de referência para explorar o mundo, o ambiente.

O movimento de VOLTAR para o Refúgio Seguro, quando a criança precisa de ajuda, acolhimento, "recarregar as energias” e retornar para seu cuidador.  

A criança, tendo essa base segura garantida, pode sair para explorar o mundo, pois tem também a garantia da possibilidade de retorno a ela quando necessário. 

Neste primeiro movimento, em que a criança SAI para explorar, o papel do cuidador é de assisti-la descobrindo o ambiente, de ajudá-la quando for preciso, atento aos seus sinais quando precisar de ajuda, sem que se antecipe frente a criança ante qualquer desafio.

É muito importante que ele possa também desfrutar junto à criança suas descobertas e aventuras!

Com bebês, o movimento de sair para explorar o mundo pode ser engatinhar pela casa, descobrir e explorar móveis e objetos ou mesmo se permitir a ir para o colo de um outro adulto. Com crianças um pouco maiores, este movimento pode ser um simples ir para a escola, passar o dia na casa de uma família de apoio ou de um colega.

 Quando a criança se permite sair para explorar, é importante assegurá-la de seu sucesso e da garantia do seu retorno, pode-se sempre dizer para ela algo como: “Uau! Como você está corajoso! Estou muito orgulhoso e feliz! Você pode ir tranquilo, eu estarei aqui se você precisar de mim”. 

Já no movimento em que a criança VOLTA para o Refúgio Seguro, o papel do cuidador é de acolher e ajudar a criança a organizar e a regular suas emoções. É importante que o cuidador sempre felicite o retorno da criança, mostrando que ela é muito bem-vinda em seu refúgio quando precisar voltar.

Há alguns elementos que podem fazer com que a criança precise voltar para seu Refúgio Seguro, como o estresse, cansaço, medo, susto, solidão, rejeição por seus pares, etc. 

É importante que o cuidador, sempre que possível, nomeie o que a criança está sentindo e não se mostre frustrado ou irritado com sua necessidade de retornar. O adulto pode contribuir com comportamentos que ajudem a criança a “recarregar as energias”, como: brincar com ela, fazer algo que a acalme, cantar uma música que ela gosta, abraçar,  demonstrando amor e carinho.. 

Já sabemos então que o ponto de partida e de chegada para os movimentos de saída e retorno da criança é sempre, portanto, seu cuidador de referência!

O contexto do acolhimento

O círculo de segurança é um esquema que ilustra os movimentos do cuidador e da criança para que se estabeleça um vínculo saudável, afetivo e que permita que essa criança cresça segura de si e de seu ambiente, possibilitando que num futuro estabeleça relações com qualidades similares a  essa.

No contexto do acolhimento, de vínculos que precocemente são rompidos e onde há muita incerteza no ambiente, o círculo de segurança dá direcionamentos importantes para que o cuidador compreenda as necessidades da criança e a ajude a se sentir protegida e amada o suficiente para explorar e retornar para seus cuidados. 

Quando uma criança chega a um abrigo ou família acolhedora, sua primeira necessidade é ter seu refúgio seguro estabelecido, isso é,  ter a presença do cuidador, que irá protegê-la, confortá-la, apreciá-la e organizar os seus sentimentos.

E como isso pode se dar na prática?

Um cuidador de referência pode e deve apresentar a ela a casa, estar disponível para essa criança sempre que ela solicitar, estar por perto o máximo de tempo possível, para que ela saiba que não está sozinha e que estará protegida. Essa presença deve se dar via gestos, colo, olhar e palavras, pois será o cuidador quem proporcionará à criança a base organizadora e reguladora nesse momento tão difícil - seu refúgio seguro.

É preciso, portanto, ter em mente que a criança acolhida precisa de mais presença, proximidade, colo, constância e previsibilidade. Sabe-se que isso é mais desafiador num ambiente institucional, pois há troca de plantões, há a possibilidade do educador de referência sair de férias, tirar licença médica. O círculo de segurança pode ajudar a equipe a pensar cada situação particular, a forma com que cada ausência será comunicada à criança, a partilhar entre os educadores a identificação das necessidades e o lugar que eles estão no círculo em cada momento, por exemplo.

O modelo do círculo pode ajudar nas reuniões de equipe, ilustrando suas impressões e experiências um com outro, de forma que os adultos possam cuidar de cada criança da forma mais contínua e segura possível.

Com a segurança garantida, o refúgio seguro - que pode ser proporcionado pelo vínculo de mais de um educador -, o bebê ou criança poderá seguir para esse segundo momento que é a exploração. Como a imagem do início do texto mostra, a exploração da criança não é algo que ela faz sem o acompanhamento ou olhar do seu cuidador, por isso, mesmo quando o bebê está brincando, dando seus passos, indo para a escola, será o cuidador o principal impulsionador para que ela realize suas conquistas e se deleite com novas descobertas. 

Quando a criança na instituição tem um vínculo seguro e constante com seus cuidadores, ela pode explorar o mundo sabendo que seu retorno é garantido e que as suas figuras de apego estarão lá quando ela precisar, seja por estar sensível, para recarregar energias, para se regular. 

No retorno do círculo, é muito importante que a criança não seja reprimida ou repreendida por apresentar emoções como tristeza ou raiva, pelo contrário, o adulto pode nomear a emoção para ela compreender o que está sentindo e auxiliá-la a se regular emocionalmente. 

O cuidador pode dizer para o bebê ou criança que ela sentiu saudade, que é difícil que ele não esteja lá todos os dias, que ele entende que ela fique triste ou brava por sentir falta da visita da família de origem.

Em suma, o bebê, criança, ou adolescente acolhido tem ainda mais necessidade de vínculos seguros, uma vez que já sofreu alguns rompimentos e o círculo de segurança pode ser uma excelente ferramenta para ajudar os cuidadores a identificarem e refletirem sobre as necessidades que cada criança está vivendo naquele momento, assim como as melhores formas de responder a elas. 

Segue um vídeo explicando os movimentos do círculo

Circle of Security Animation

 

Powell, B., Cooper, G., Hoffman, K., & Marvin, B. (2014). The circle of security intervention: enhancing attachment in early parent-child relationships. New York: Guilford Press. 


Por Giovanna Donno e Vitória Whately 

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Vitoria Whately é psicóloga e psicanalista, colaboradora no projeto de pesquisa EI-3 (Impactos de Intervenções sobre a Institucionalização Precoce).

Giovanna Donno é psicóloga, terapeuta EMDR e Brainspotting, colaboradora no projeto de pesquisa EI-3 (Impactos de Intervenções sobre a Institucionalização Precoce).

Do que precisam as crianças e adolescentes nos primeiros 7 dias de acolhimento?

Do que precisam as crianças e adolescentes nos primeiros 7 dias de acolhimento?

Para a criança e o adolescente, o acolhimento representa uma ruptura com tudo aquilo que lhe é familiar, na medida em que o afasta de sua família e de seu ambiente de origem, rompendo com sua rotina, hábitos e relações afetivas. Assim, mesmo que a família não tenha sido capaz de cuidar da criança em determinado momento e que, por isso, o acolhimento tenha sido necessário, ser afastada de todos os elementos de seu cotidiano (pessoas conhecidas, roupas, brinquedos, etc.) tem um impacto significativo em sua vida. 

Dito isso, este texto tem como objetivo apresentar 5 pontos para os quais os profissionais (técnicos, educadores, famílias acolhedoras) devem estar atentos durante os primeiros 7 dias de acolhimento de uma criança ou adolescente, a fim de ajudá-la a passar da forma mais suave possível por esse momento duro da sua vida: 

  1. Assim que a criança ou adolescente chega, a primeira coisa a se fazer é escutar o que ela tem a dizer sobre o que está vivendo e sobre seus sentimentos se ela se mostrar aberta a falar sobre isso. Não se trata de qualquer escuta, e sim de uma escuta empática em que os adultos devem estar disponíveis para acolher os sentimentos da criança, explicar os motivos do acolhimento (ressaltando seu caráter provisório e protetivo) e ajudá-la a compreender o que irá acontecer com ela, reconhecendo o que se sabe sobre sua história e admitindo o que não se sabe também.  A abordagem com a criança ou adolescente deve ser simples, honesta e cuidadosa, respeitando seu ritmo e sua capacidade de compreensão. 

    É comum que as crianças perguntem aos cuidadores, logo após sua chegada, quando elas irão retornar para a sua família ou por quanto tempo terão que permanecer na instituição ou na família acolhedora. Estas, por exemplo, são informações que os adultos cuidadores não possuem no início do acolhimento, portanto, é importante explicar à criança que eles ainda não têm essas respostas, mas que enquanto ela estiver ali, ela estará segura e será cuidada por todos!

    Durante os 7 primeiros dias de acolhimento, os profissionais devem facilitar o estabelecimento de uma relação empática e de confiança com a criança, para que ela se sinta o mais segura possível neste período de mudanças. 

    Quanto mais acolhida e segura a criança se sentir nos primeiros 7 dias, mais suave será o processo de adaptação para o novo ambiente! 

  2. Para amenizar os impactos da ruptura com o ambiente de origem é importante que os cuidadores perguntem à criança informações sobre o seu dia-a-dia que sejam relevantes para a adaptação ao novo ambiente, por exemplo: “em que horário você costuma dormir?”; “o que você gosta de comer no café da manhã?”; “quais as suas brincadeiras preferidas?”, etc. 

    Pode ser que a criança não consiga falar sobre seus hábitos anteriores ao acolhimento, por sua idade ou por alguma condição física. Por isso, é fundamental que os profissionais do serviço recolham essas informações com os adultos que cuidavam da criança antes, na intenção de garantir a ela um mínimo de continuidade em sua rotina. 

    Ao mesmo tempo em que os adultos cuidadores devem se mostrar interessados nos hábitos e preferências da criança ou do adolescente, os primeiros 7 dias de acolhimento não devem ser marcados por muitos questionamentos - a não ser que essa seja a necessidade da criança - para que ela não se sinta sufocada e/ou invadida. 

    O foco é fazer a criança se sentir bem no novo ambiente e mostrar para ela que suas necessidades e desejos importam muito para os adultos que cuidarão dela naquele momento.

    Quanto mais especial a criança se sentir nos primeiros 7 dias, mais suave será o processo de adaptação para o novo ambiente.

  3. Além de buscar conhecer mais sobre as preferências da criança, a primeira semana serve para que os adultos apresentem, aos poucos, como se dá a rotina na instituição ou na família acolhedora. A criança precisará se adaptar às regras da nova casa, mesmo que sua permanência ali seja temporária. 

    No entanto, os profissionais devem respeitar o tempo que a criança levará para se adaptar e se reorganizar frente às mudanças. Ter calma e paciência! Não se trata de impor a ela uma rotina nova. É preciso delinear a forma como alguns ajustes serão realizados para respeitar tanto o que é familiar à criança quanto o que é preciso para uma boa convivência na instituição ou família acolhedora.

    Os cuidadores precisam se colocar no lugar da criança ou do adolescente e refletir sobre o que certas mudanças na rotina significam para alguém que está afastada de suas principais referências afetivas e de tudo o que lhe é familiar. 

    Por exemplo: se durante a primeira semana de acolhimento uma criança chora para tomar banho, é pouco provável que ela esteja “fazendo birra” por ser contra as regras e rotina do novo ambiente. Na verdade, seu choro pode significar desconfiança frente aos novos cuidadores, medo do que irá acontecer com ela, saudade do que lhe é familiar, necessidade de ser acolhida em suas dores.

    Quanto mais paciência os cuidadores tiverem com a criança nos primeiros 7 dias, mais suave será o processo de adaptação para o novo ambiente.

  4. Nos primeiros 7 dias de acolhimento, os cuidadores devem evitar contato físico que possa parecer invasivo para a criança ou o adolescente, como beijos e abraços. O ideal é observar os movimentos da criança para se aproximar ou distanciar fisicamente dos profissionais e seguir seus sinais e necessidade de proximidade. 

    Além disso, sempre que for preciso tocar na criança ou adolescente (durante a troca de fralda, hora do banho, alimentação, brincadeiras) os adultos cuidadores devem antecipar para ela o que irão fazer e observar suas reações após este anúncio. Isso porque o contato físico deve ser previsível para a criança, para que ela se sinta segura e no controle da situação. 

    Quanto mais respeitada a criança se sentir nos primeiros 7 dias, mais suave será o processo de adaptação para o novo ambiente. 

  5. Por último, mas não menos importante, é fundamental que os adultos cuidadores viabilizem mais tempo livre para estarem junto à criança ou ao adolescente nos primeiros 7 dias de acolhimento. Mais tempo e tempo de qualidade: de observações, escuta, interações, afeto e trocas! Mais tempo para “simplesmente” observar a criança, para escutá-la e conversar com ela, brincar daquilo que ela quiser ou propor novas atividades, ajudá-la nas tarefas escolares, para alimentá-la e dar banho, etc. 

    Para que um vínculo com uma criança ou adolescente que está passando por um momento de rupturas com tudo o que lhe é familiar possa ser construído, os cuidadores precisam se mostrar muito disponíveis para conhecê-la e dispostos a estarem com ela nos primeiros dias.

    Quanto mais disponibilidade para estar junto os profissionais mostrarem à criança nos primeiros 7 dias, mais suave será seu processo de adaptação para o novo ambiente! 

Mas será que estar atento a esses 5 pontos durante os primeiros 7 dias de acolhimento é suficiente para garantir a adaptação de crianças e adolescentes nos serviços?  

Infelizmente não!

Algumas crianças podem sim se adaptar bem ao novo contexto na primeira semana e vivenciar com mais ênfase o sofrimento e o medo inerentes à ruptura com seu ambiente de origem e à chegada no acolhimento nesse período No entanto, não podemos generalizar que isso acontecerá, tampouco comparar o período de adaptação de um novo acolhido ao de outra criança que já tenha passado pelo serviço. 

Algumas crianças lidam melhor com as rupturas, outras não. Algumas crianças demandam mais atenção nos cinco pontos apresentados neste texto nos primeiros 7 dias de acolhimento, outras ao longo do primeiro mês, outras durante todo o tempo que ficam acolhidas. 

Uma das maiores angústias dos profissionais é justamente saber quando o processo de adaptação de uma criança ou adolescente ao acolhimento irá acabar (e se irá acabar!). E para isso ninguém tem resposta. Mas se os profissionais garantirem acolhimento, segurança, paciência, respeito e disponibilidade para estar junto, as crianças poderão vivenciar esse momento difícil das suas vidas da forma mais suave possível, tendo a chance de construírem vínculos com seus cuidadores, tão importantes para seu desenvolvimento e sua autoestima! 

Por Ana Clara Fusaro Rodrigues

Ana Clara é psicóloga, psicoterapeuta psicanalista e mestre em Psicologia Clínica. Também atua como colaboradora no projeto de pesquisa EI-3 (Impactos de Intervenções sobre a Institucionalização Precoce).

PARCERIAS - Em parceria com o Ministério da Cultura, Fazendo Minha História estabelece parceria com  sete  abrigos no município de Salvador (BA).

PARCERIAS - Em parceria com o Ministério da Cultura, Fazendo Minha História estabelece parceria com sete abrigos no município de Salvador (BA).

Acreditando no potencial e na transformação da literatura no contexto de acolhimento. É com muita alegria que divulgamos em primeira mão os 7 serviços de acolhimento contemplados pelo projeto " Fazendo História em Salvador".

1. Unidade de Acolhimento Institucional Bonocô

2. Unidade de Acolhimento Institucional Matatu

3. Unidade de Acolhimento Institucional Jardim Baiano

4. Unidade de Acolhimento Institucional Jardim das Margaridas

5. Serviço de Acolhimento Lar da Criança

6. Serviço de Acolhimento Lar Pérolas de Cristo

7. Serviço de Acolhimento ACOPAMEC

Construiremos junto com cada um dos serviços de acolhimento parceiros um espaço de leitura com 300 livros infantojuvenis. O projeto ainda prevê seminários, oficinas de contação de histórias e todo o suporte necessário para favorecer o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes acolhidos.

Parabéns aos selecionados, estamos muito felizes por fazer história com vocês!

Equipe Fazendo Minha História.

OFICINA – Reflexões sobre sexualidade e gênero no serviço de acolhimento

OFICINA – Reflexões sobre sexualidade e gênero no serviço de acolhimento

No mês de junho de 2023 o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “Reflexões sobre sexualidade e gênero no Serviço de Acolhimento” na cidade de Guarulhos e Campinas. Tivemos como convidadas as profissionais, Desirèe Monteiro Cordeiro, Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, 2002), Psicodramatista Sociedade Paulista de Psicodrama (PUC-SP/SOPSP, 2005), Mestre em Ciências pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP - 2012). Psicóloga voluntária supervisora de atendimento de Adolescentes no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS). Membro da WPATH - World Professional Association for Transgender Health (Associação profissional mundial de saúde de transgêneros).

Tivemos também a presença da profissional Cléria S. Pereira, Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Atua na área Clínica, em consultório particular, e Ambulatorial, pelo AMTIGOS-HCFMUSP, orientada pelo Psicodrama. Pós-graduanda em Sexualidade Humana. Experiência em desenvolvimento individual e coletivo em equipes de trabalho, atendimento clínico a grupo infantil, adolescente e adulto e acompanhamento terapêutico.

Nesta oficina, as profissionais realizaram uma sensibilização psicodramática com o grupo de profissionais presentes. Aqueceram o  grupo com a exposição de vídeo acerca do tema, no qual os profissionais construíram e dramatizaram cenas sobre a temática.

As profissionais Desirèe e Cléria realizaram uma explanação compartilhada, articulando os conceitos teóricos, a experiência de pesquisas, a prática profissional e situações cotidianas trazidas pelos profissionais durante as cenas.

Iniciaram a explanação diferenciando os conceitos de sexo e sexualidade, a partir da construção cientifica e realizaram contrapontos ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, bem como os adultos podem mediar tal conhecimento. 

As profissionais levaram o grupo a refletir sobre as dificuldades de se abordar o tema sexo e sexualidade, não só com crianças e adolescentes, mas como sociedade, uma vez o que assunto é considerado tabu. Destacam a importância da escuta e do acolhimento do conteúdo trazido por criança e ou adolescente, bem como a importância de falar sobre o assunto de maneira clara e direta, considerando o repertório do sujeito (criança/ adolescente).

Afirmam que falar de sexo costuma ser mais difícil do que abordar a sexualidade, mas ressaltam a necessidade  de falar, uma vez que existe problemas como: “adolescentes fazem sexo, mas não falam sobre”, e que no exemplo citado, os adultos devem mediar, e ajudar a pensar sobre:  Quais os riscos? Onde? Quando? Com quem?.

Falaram também sobre o significado das siglas LGBTQIA+, resgatando marcos históricos que definiram a ordem de inclusão de cada letra. Abordaram os aspectos do sexo biológico, identidade de gênero, papel de gênero, orientação sexual, intimidade e afetividade de modo crítico.

Finalizaram a explanação apresentando a sexualidade como algo inato e que todo mundo tem, que deve ser olhado de modo individual e paradoxal e que pode se manifestar em qualquer fase do desenvolvimento. Diferente da orientação, que é possível identificar no período da puberdade.

Destacam a importância de validar o que é trazido pelas crianças e adolescentes, evitando senso comum, buscando entender e ter clareza da situação a partir de construções científicas. E afirmam a sexualidade como algo multicultural, portanto está sujeita a mudanças de acordo com o contexto no qual os sujeitos estão inseridos.

Assista a oficina na íntegra

OFICINA – O trabalho com histórias de vida a com deficiência

OFICINA – O trabalho com histórias de vida a com deficiência

por Aline Oliveira, Técnica Programa Formação

No mês de abril de 2023 o Instituto Fazendo História, em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONDECA) – SP, realizou a oficina: “O trabalho com histórias de vida” na cidade de Guarulhos e Campinas. Tivemos como convidadas as profissionais, Stéfani Dias Leite - graduada em História e atualmente mestranda em História pela Unifesp, atua também como formadora do Museu da Pessoa em diferentes projetos do Educativo e como pesquisadora com bolsa FAPESP e Fernanda Gomes- Assistente Social, atriz e mestranda no Programa de Pós Graduação em Humanidades, Direitos e outras Legitimidades- FFLCH-USP.  Atualmente é formadora do Museu da Pessoa. Criadora e produtora do Documentário Eu sou a Próxima, criadora, atriz e diretora  do curta "Perfume de cândida".

Tivemos também a presença da profissional Iara Caldeira do Amaral, Psicóloga formada pela PUC-SP, com atuação na área clínica e social, faz parte do coletivo 'Odô – consultoria criativa' e do Coletivo Margens Clínicas pela REM (Rede de Escutas Marginais). É facilitadora de grupos, atende adolescentes e adultos no consultório particular, e é professora de Yoga.

As profissionais Stéfani e Fernanda iniciaram a oficina apresentando o Museu da pessoa, indicando que o acervo do museu é composto pelas histórias de vida, que toda e qualquer pessoa pode estar, bem como a importância das histórias enquanto patrimônio. “A obra de arte do museu é a narrativa oral de cada um que compartilha a sua história" e que “trabalhar com essas histórias de vida também é trabalhar memoria”. 

A partir dessa explanação as profissionais convidadas realizaram uma sensibilização dos profissionais presentes com uma metodologia utilizada pelo Museu da pessoa - as rodas de histórias. Após a finalização das rodas, relacionaram os recursos presentes na roda de história, como escuta com o trabalho dos profissionais nos serviços de acolhimento e destacaram que “a importância do trabalho com histórias de vida e da escuta ativa é conseguir criar laços”.

O segundo momento da oficina, foi conduzido pela profissional Iara, que após o aquecimento do grupo, resgatou a vivência corporal para falar sobre a importância da percepção do corpo no trabalho com histórias de vida. 

Iniciou sua explanação indicando que o trabalho com histórias de vida deve ser construído  a partir da chegada da criança e ou adolescente  no serviço e como se dão os encontros a partir de então.

Apresentou o conceito de “Sankofa”, que se trata de um conceito de origem africana  e também conhecido como Adinkra – conjunto de ideograma que conta a história de um povo. Indica que “Sankofa” fala sobre olhar para trás e que nesse sentido ao pensar o trabalho com histórias de vida e histórico do acolhimento  no Brasil, é necessário olhar para nossa constituição enquanto pais.

Iara contextualizou a construção das infâncias a partir dos marcos históricos, indicado o processo de apagamento das vivências desse público, bem como as marcas do processo de escravização, destacando que devemos considerar esse contexto do passado, para que possamos olhar e fazer a escuta atual desses sujeitos.

Lembra-nos que o trabalho com histórias de vida  está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu artigo 100 e que devemos olhar para trás e nos questionar como estamos garantido esse direito no cotidiano de trabalho com crianças e adolescentes acolhidos. A profissional reconhece ser um desafio o trabalho com histórias de vida num contexto coletivo, mas indica a importância do olhar singular e ressalta que cada criança e adolescente é único.

Compartilhou recursos para o trabalho com historia de vida como a escuta e leitura do cotidiano e abordou sobre o trabalho do Programa Fazendo História e metodologia, apontado como uma estratégia para viabilizar e garantir a privacidade e direito a verdade no contexto de acolhimento, a profissional também destacou a importância de se considerar o território como parte do trabalho com historias de vida.